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Seleção brasileira não pode jogar apenas pelo resultado, precisa jogar bem

Lendo matérias sobre a seleção brasileira e também entrevistas de alguns jogadores, a palavra "resultadista" aparece diversas vezes. "O importante é vencer, mesmo jogando mal." Esse tipo de resposta mostra a mentalidade rasa que domina a seleção brasileira há muito tempo.

O Brasil não joga bem há anos, e a palavra "resultado" virou uma justificativa para o péssimo futebol apresentado. É uma forma de sentar em cima de uma desculpa, tentando criar a narrativa de que o importante é apenas vencer. Sim, é possível ganhar partidas jogando mal, mas não se ganha uma Copa América, muito menos uma Copa do Mundo, dessa forma.

O futebol que a seleção vem apresentando é muito ruim, e isso não é de hoje. O Brasil joga mal em todos os torneios que disputa e não vence uma Copa desde 2002, não por azar, mas porque não joga bem. Em 2006, a seleção foi displicente. Em 2010, faltou controle emocional. Em 2014, tomamos de 7 a 1 da Alemanha e de 3 a 0 da Holanda nas partidas decisivas. Em 2018, faltaram força e qualidade. Em 2022, foi a derrota da "panela" de Tite, das cadeiras cativas.

Nesta terça-feira (10), jogaremos contra o Paraguai em Assunção, onde raramente o Brasil teve uma vitória tranquila. O estádio Defensores del Chaco é um dos mais difíceis para se jogar, e a torcida paraguaia, sempre entusiasmada, vai comparecer em peso. Em 1985, fomos jogar lá pelas Eliminatórias da Copa de 1986 no México, e o ambiente era infernal.

Naquela época, a seleção paraguaia era muito forte, talvez a melhor geração que tiveram, e estavam confiantes de que venceriam o Brasil. O ambiente estava pesadíssimo, com os jornais provocando e incentivando a torcida a nos pressionar. O trajeto do nosso ônibus até o estádio foi terrível, com torcedores nas ruas desde a nossa saída do hotel até a chegada ao Defensores del Chaco.

Entramos em campo sabendo o que teríamos pela frente. Parecia um caldeirão, e se naquele dia tivéssemos jogado mal, teríamos perdido. Após uma pressão inicial, dominamos o jogo com nosso toque de bola, movimentação e troca de posições. Tentaram tumultuar o jogo várias vezes. O meio-campista Nunes entrou em atrito feio com o Zico, envolvendo todos os jogadores, e eu acabei tomando cartão amarelo. Ficou claro que, na bola, eles não conseguiam competir, e estavam irritados.

Aos 27 minutos, eles pressionaram, mas em um contra-ataque de manual, Edinho lançou para Renato Gaúcho pela direita. Renato deixou o lateral para trás, cruzou, e eu fiz o primeiro gol do Brasil de cabeça. A torcida, que acreditava na vitória, ficou revoltada. Começaram a jogar sacos de urina no nosso banco de reservas, o que deixou Telê Santana furioso.

Depois disso, o Paraguai se abateu, e nosso meio-campo dominou o jogo. Cerezo, Sócrates e Zico eram muito para eles. Voltamos para o segundo tempo ainda mais confiantes, mordidos pela provocação da imprensa, da torcida e pela agressividade do time deles. Com 1 a 0 de vantagem, controlamos o jogo. Aos 70 minutos, Leandro veio em velocidade pela direita, eu puxei a marcação, e ele tocou para Zico. O Galo deu um toque de chaleira para frente e bateu de primeira, fazendo um dos gols mais lindos de sua carreira, segundo ele mesmo.

Vencemos por 2 a 0 e demos um grande passo rumo à Copa do Mundo de 1986. Eles se frustraram, mas no fim, a seleção paraguaia também se classificou.

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Os times daquele jogo foram esses:

Paraguai:
1- Almeida
2- Cáceres
3- Zabala
4- Delgado
6- Jacquet
5- Juan Villalba
8- Benítez
7- Romerito
10- Nunez
9- Ferreira
11- Mendoza
Técnico: Cayetano Ré

Brasil:
1- Carlos
2- Leandro
3- Oscar
4- Edinho
6- Júnior
5- Cerezo
8- Sócrates
10- Zico
7- Renato Gaúcho
9- Casagrande
11- Éder
Técnico: Telê Santana

A verdade é que essa seleção brasileira do Dorival Jr. precisa vencer e convencer. Jogar pelo resultado é para o Paraguai, Bolívia, Venezuela, Chile, Peru e Equador. Brasil, Argentina, Uruguai e Colômbia precisam de muito mais. Entre esses quatro, o Brasil é o que está pior, em todos os sentidos.

Minha expectativa, assim como a de muitos brasileiros, é que o Brasil jogue muito mais do que jogou na Copa América e, principalmente, contra o Equador. O Brasil nunca foi campeão jogando apenas pelo resultado.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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