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OPINIÃO

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Na Premier League, o VAR trabalha para o gol; no Brasil, é pelo impedimento

Haaland marcou os dois gols da vitória do Manchester City contra o West Ham na estreia do Inglês - Harriet Lander/Copa/Getty Images
Haaland marcou os dois gols da vitória do Manchester City contra o West Ham na estreia do Inglês Imagem: Harriet Lander/Copa/Getty Images

Colunista do UOL

09/08/2022 04h00

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Nesse último final de semana começou o campeonato mais difícil, mas também o mais legal de se assistir e o mais importante do planeta. Nada é igual à Premier League.

Na primeira rodada, tivemos grandes estreias como as de Darwin Núñez (no Liverpool), Gabriel Jesus (no Arsenal), Haaland (no Manchester City) e Sterling (no Chelsea). Acompanhei o máximo que consegui e já estou empolgado porque agora, nessa temporada, vou poder assistir a mais jogos.

Os jogos sempre são competitivos, porque até o final as equipes procuram o gol, o tempo todo. Todos jogam dessa maneira, mesmo quem disputa o campeonato para não cair. E isso já começa na primeira rodada, e acontece ao longo do campeonato todo.

Além dos ótimos jogadores e dos ótimos treinadores, a Premier League tem ótimos árbitros e o VAR funciona principalmente a favor do gol, e não para anular, como acontece aqui no Brasil.

Lá a linha é mais grossa, e essas jogadas mais duvidosas em relação ao impedimento são "ajustadas" — não se anula gols por causa do bico da chuteira, por causa do joelho ou da testa do jogador. Enquanto lá o VAR trabalha a favor do espetáculo, aqui no Brasil ele trabalha contra. Afinal, na Inglaterra buscam gols; aqui, buscam impedimentos.

O sr. Wilson Seneme, presidente da Comissão de Arbitragem da CBF, pode ajudar muito o futebol brasileiro a diminuir as confusões e as reclamações em relação aos impedimentos. Afinal, o VAR no Brasil quer ser preciso acima da média. Caso seja adotada a linha como é na Inglaterra, esses impedimentos que causam confusão simplesmente não vão existir. Nariz, ombro, orelha, joelho, bico da chuteira não podem ser motivos para anular gols.

Outra coisa incoerente entre Brasil e Inglaterra é que, na Premier League, antes das partidas, os jogadores fizeram protestos antirracistas nos últimos dois anos -- e denunciam o que acontece no mundo todo, principalmente por aqui, porque nos estádios ingleses é raro que isso aconteça.

Jogadores de Crystal Palace e Arsenal se ajoelham antes do jogo de abertura do Campeonato Inglês - Mike Hewitt/Getty Images - Mike Hewitt/Getty Images
Jogadores de Crystal Palace e Arsenal se ajoelham antes do jogo de abertura do Campeonato Inglês
Imagem: Mike Hewitt/Getty Images

Aqui, gestos de racismo e de injúria racial ocorrem o tempo todo, mas nossos jogadores não se manifestam como grupo. A estrutura do futebol por aqui precisa mudar urgentemente, e isso passa pelas vozes e protestos dos jogadores. Porque parece que eles não estão nem aí com o racismo que acontece nos nossos estádios.

Os jogadores europeus, e nisso incluo os brasileiros que jogam por lá, mostram mais consciência dos problemas sociais do mundo. Na realidade, os jogadores brasileiros que jogam no Velho Continente vão no embalo dos protestos dos europeus, e deveriam trazer esse entendimento para cá, porque estamos precisando.

Aliás, não só os jogadores, mas também os torcedores na Premier League mostram grande consciência dos problemas sociais. Nessa primeira rodada, a torcida do Arsenal colocou um avião para sobrevoar o estádio do Crystal Palace com uma faixa em protesto contra o jogador Thomas Partey, acusado de abusar sexualmente de sua ex-namorada.

A faixa dizia: "kick rapists off the pitch" ("expulse os estupradores do campo", em português). Enquanto isso, como falei por aqui na semana passada, um ex-jogador como Robinho, que foi condenado à prisão por estupro, passeia pela praia, joga futevôlei e ainda é ídolo para muitos.

Bom, mas voltando para a Premier League... não são só os jogos que são ótimos, mas também as transmissões da ESPN aqui no Brasil. Tenho um grande carinho pelo canal porque foi lá, em 1996, que comecei a atuar como comentarista, a convite do mestre José Trajano, que era o diretor da emissora.

Gosto e sou fã dos narradores e das narradoras, dos comentaristas e das comentaristas e de todo o grupo de profissionais da ESPN. Sou um grande admirador do repórter João Castelo Branco e da repórter Natalie Gedra (eu estava na transmissão da estreia dela na TV Globo). É um pacote de coisas bacanas nas transmissões, além do espetáculo dos jogos.

Por tudo isso, a Premier League é o melhor programa para quem gosta de bom futebol aos finais de semana. O Brasileirão também completa os nossos sábados e domingos, claro, mas não dá para comparar o nível da competição.

PS: Precisamos falar sobre Kevin De Bruyne e de Haaland no Manchester City. Em breve!