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Com francês avançado, macarrão e zelo defensivo, T. Maia evolui no Lille

Volante Thiago Maia tem contrato com o Lille até 2022 - Twitter/Divulgação
Volante Thiago Maia tem contrato com o Lille até 2022 Imagem: Twitter/Divulgação

João Henrique Marques

Do UOL, em Paris

02/11/2018 04h00

De quase rebaixado na temporada passada à principal concorrente do Paris Saint-Germain, o Lille é a surpresa da atual edição do Campeonato Francês. O time dos brasileiros Gabriel (zagueiro, ex-Avaí), Thiago Mendes (volante, ex-São Paulo) Thiago Maia (volante, ex-Santos) e Luiz Araújo (atacante, ex-São Paulo) vai ao Parque dos Príncipes, em Paris, nesta sexta-feira, para desafiar o PSG com a conquista do título nacional longe de ser considerado uma heresia – (PSG tem 33 pontos, em 11 jogos. Lille é o segundo colocado, com 25).

“Nós reconhecemos a quantidade de craque que há do outro lado, mas vamos jogar de igual para a igual. Vamos lá para ganhar. Nosso objetivo é ser campeão, e nada é impossível. Esse mentalidade vencedora hoje domina o nosso elenco”, contou Thiago Maia em entrevista ao UOL Esporte.

O volante de 21 anos é reflexo da evolução do time. Para a segunda temporada na França, a adaptação ao idioma, a satisfação em função mais defensiva e um ganho físico o animam. “Eu cheguei com 75 quilos e agora estou com 80. Tudo ganho de massa muscular. Aqui como todo dia macarrão, pois me falaram que é bom. Com frango, legumes, faço a dieta e são coisas que no Brasil não me preocupava. Tive um ensinamento”, comentou.

A amizade com os brasileiros e outros 4 portugueses no elenco ajudam Thiago Maia a desfrutar do clube. Além disso, o prazer de ir à Igreja, em Bruxelas, na Bélgica – cidade e país vizinhos a Lille -, frequentemente, o anima. Avesso à vida noturna mesmo sendo solteiro, o clima “caseiro” e o churrasco com amigos são apontados como parte do lazer.

No Lille, Thiago Maia participou de 8 dos 11 jogos do time no Campeonato Francês.

Thiago Maia, jogador brasileiro do Lille - AFP PHOTO / PATRICK HERTZOG - AFP PHOTO / PATRICK HERTZOG
Imagem: AFP PHOTO / PATRICK HERTZOG

Veja a entrevista de Thiago Maia

Mudanças no Lille

Nosso elenco modificou. Temos mais jogadores experientes, algo totalmente diferente do ano passado quando éramos uma equipe jovem. Como o nosso final de temporada passado foi bom, estamos colhendo o que plantamos. Não desmerecendo quem estava aqui, mas a experiência ajuda. Cito o (Rui Pedro) Fonte (atacante português, de 28 anos) como exemplo de aquisição que ajuda dentro e fora de campo. Acho que também levamos um tempo para nos adaptarmos e respeitarmos um ao outro.

Diferenças com o futebol brasileiro

Muitas coisas. Aqui temos mais responsabilidades, atenção e o jogador se cuida mais. Brasileiro relaxa, alguns claro, e nosso treinador (o frances Chirstophe Galtier) sempre cobra a gente em aspecos físicos fora de campo. Pede para eu sempre passar na fisioterapia, por exemplo. O brasileiro tem o drible e os europeus, o profissionalismo.

A evolução no Lille

Acho que o aspecto físico foi o que mais mudou. Eu era um dos caras que mais corria no Santos e aqui mudei um pouco, não ataco muito. Protejo a zaga e corro com inteligência, mais taticamente. Me sinto bem ao final de 90 minutos, com menos cansaço.

Relação com o Santos

Thiago Maia está de saída para o Lille - Ivan Storti/ Santos FC - Ivan Storti/ Santos FC
Imagem: Ivan Storti/ Santos FC

Sempre vou ter carinho pelo Santos. Além de amigos, são irmãos que mantenho por lá. O Renato, o Vitor Ferraz são pessoas que falo a todo momento e fiquei bem feliz com a reação do Santos no Brasileiro. Eu saí de lá, pois tenho meus direitos. Mas é um clube que guardo no coração.

O idioma francês

Já consigo dar entrevista devagar. E peço para a pessoa falar devagar também. Tivemos aulas no clube e isso ajudou bastante para resolver as coisas fora de campo, no banco, supermercado, restaurante, e até mesmo com o torcedor. Estou feliz com a evolução.

Partida contra o PSG

Todo jogo tem um aspecto diferente e o PSG vai ser o mais especial. Tantos craques lá, os melhores do mundo e será um prazer. Esperamos sair com a vitória mesmo jogando em Paris. A melhor forma de respeitar o PSG é jogando futebol, sem medo. Vamos lá pra ganhar. Temos condições, não estamos em segundo à toa.

A relação com Marcelo Bielsa (treinador argentino que o levou para o Lille, mas foi demitido na temporada passada)

Ele não prejudicou nenhum jogador. O futebol é igual namoro, quando não dá certo, tem que acabar. Ele tentou uma filosofia que não deu certo, mas tem vários treinadores que respeitam ele no mundo do futebol e isso temos que considerar, respeitar. Eu falava com ele. Um cara concentrado, sério, não gostava de brincadeira em treino. Só que puxava a palavra e falava na cara, e nós brasileiros gostamos de gente assim.

O Bielsa gostava de marcação individual e tinha muito jogador sem conseguir pegar essa tática dele. Isso prejudicava um pouco aqueles que não sabiam encarar essa realidade.

Amigos brasileiros na França

Thiago Mendes comemora gol com o compatriota Thiago Maia e o marfinense Nicolas Pepe - AFP PHOTO / JEAN-FRANCOIS MONIER - AFP PHOTO / JEAN-FRANCOIS MONIER
Imagem: AFP PHOTO / JEAN-FRANCOIS MONIER

De vez em quando falo com o Marquinhos (zagueiro do PSG). Ele ajudou a tomar a decisão de vir para a Europa cedo. Muito humilde, um dos líderes da seleção e do PSG e tem a humildade dele que é para poucos. Se a pessoa não souber que ele é jogador, vai falar que é outro tipo de profissão. Até no quesito se vestir ele é muito simples, gosto muito dele.

Amizade com os brasileiros do Lille

Pura resenha. Brasileiro conversa e brinca demais. A gente sempre está junto, unido e ainda sabemos que precisamos nos adaptar aos franceses. Aprender a língua, respeitar a cultura deles. Os portugueses do elenco nos ajudam muito com isso, a nos integrarmos. Futebol é isso: trabalho, união, e algumas vezes um modo para nos distrairmos.

Relação com Neymar

Jogamos na seleção olímpica e é um cara que não tenho muito contato, mas sempre conversamos e desfrutamos da conquista das Olimpíadas. Ele também é humilde. Cara, é muito difícil de ser ele. Mas só conversamos realmente quando teve Lille x PSG.

Interesse de clubes brasileiros

Assim, a gente sempre recebe telefonemas de clubes brasileiros interessados. O Flamengo, o Santos, e a gente fica feliz por ter clubes assim atrás da gente para nos valorizarmos. Só que ainda sou muito novo e tenho a cabeça por aqui no Lille.

Vida em Lille

Sou solteiro e minha mãe fica aqui de 3 em 3 meses. Eu não saio de casa. Não curto muito esse negócio de balada. Gosto de churrasco com amigos, assistir filme. Tenho uns amigos brasileiros da igreja que moram na Bélgica. E estão sempre comigo. A igreja que frequento é 40 minutos da minha casa, na Bélgica. Gosto muito desse programa.