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Por que o futebol francês é o ideal para o ressurgimento de Balotelli?

Balotelli comemora um dos seus gols sobre o Olympique de Marselha. Ele também fez dois contra o Monaco - VALERY HACHE/AFP
Balotelli comemora um dos seus gols sobre o Olympique de Marselha. Ele também fez dois contra o Monaco Imagem: VALERY HACHE/AFP

Do UOL, em São Paulo

23/09/2016 06h00

Mario Balotelli marcou quatro gols em suas duas primeiras partidas pelo Nice, da França. Ninguém tem uma média tão boa nas cinco grandes ligas europeias. Será que o Super Mário está de volta? Ninguém tem coragem de cravar uma resposta, positiva ou negativa. O que é possível garantir, porém, é que o futebol francês, principalmente em sua configuração atual, tem tudo o que o italiano de origem ganesa precisa para esquecer o desastre que foi sua carreira nos últimos três anos.

Para quem não acompanha o futebol europeu com tanta atenção, ver Balotelli, aquele mesmo da Itália, da Inter de Milão e do Manchester City, jogando pelo pequeno Nice é um espanto. Mas isso é reflexo do caos em sua carreira. Ele superou polêmicas como o dardo que atirou em um companheiro ou a explosão de fogos de artifício dentro do banheiro de sua casa com gols pelo Manchester City. O problema é que, quando deixou o time azul de Manchester e rodou por Milan e Liverpool, as redes pararam de balançar. Foram só quatro gols nas últimas duas temporadas.

Caso de sucesso na França

Caro, polêmico e pouco produtivo, o italiano foi encostado pelo Liverpool e, eventualmente, dispensado. Achou abrigo no Nice no último dia da janela de transferências. Antes do interesse francês, a perspectiva era sombria: ele até mesmo flertou com transferências para a China ou para os EUA, centros muito menores do futebol mundial.

A escolha pelo Nice foi estratégica de seu agente, o italiano Nino Raiola. E o motivo para isso se chama Hatem Ben Arfa. Quando o centroavante Fred ainda jogava pelo Lyon, viu dois jovens franceses surgirem: Benzema e Ben Arfa. O segundo era considerado o talento maior, mas nunca conseguiu explodir, jogando por Olympique de Marselha, Newcastle e Hull. Até que, na temporada passada, jogando pelo Nice, ele fez 17 gols, deu 6 assistências e foi um dos melhores jogadores do Campeonato Francês – cavou até uma transferência para o PSG.

Futebol francês é menos poderoso

Além disso, O ambiente no clube é positivo: o Nice vai jogar a Liga Europa e se reforçou para a temporada. Um dos novos nomes é o do brasileiro Dante, ex-Wolfsburg e Bayern de Munique. Balotelli é a grande estrela do elenco e centro das ações ofensivas montadas pelo técnico Lucien Favre – ao contrário do que acontecia no Milan e no Liverpool.

Outro ponto é a competitividade do futebol francês. Das cinco grandes ligas europeias, a francesa é a menos rica – os clubes recebem, por direitos de televisão, menos de 30% do valor que os clubes ingleses, por exemplo. A divisão dessa receita, porém, não é tão desigual quanto aquela da Espanha, em que Real Madrid e Barcelona ganham quase 40% de tudo o que é pago pelo campeonato local.

Isso causa um efeito parecido com o que vemos nos Campeonatos Brasileiro ou Argentino: com times com capacidade de investimento parecida, mas baixa, os torneios tendem a ser nivelados por baixo. Isso quer dizer que jogadores com talento, como Balotelli, não enfrentarão rivais tão fortes quanto em outros países. O bônus de jogar na França é não enfrentar um número tão grande de zagueiros badalados quanto na Inglaterra ou na Itália.

Um país em busca de um novo ídolo

Para completar, o momento em que o italiano chega à França não poderia ser melhor. O país acaba de perder Zlatan Ibrahimovic, que dominou o campeonato local nos últimos quatro anos. O sueco foi o artilheiro em três das quatro temporadas que jogou no país. Mais do que isso, ele usou sua personalidade para aumentar ainda mais o mito que envolve sua personalidade.

Órfãos, os franceses estão buscando um novo jogador para ocupar esse lugar. O futebol francês pode ser menor do que o Italiano ou o Espanhol, mas a França é uma potência europeia, economicamente mais forte do que Itália ou Espanha, por exemplo. Uma estrela na imprensa francesa tem potencial para brilhar tanto quanto um astro do futebol espanhol ou italiano, por exemplo. Porque Balotelli não pode ser esse jogador? Ele tem a personalidade para isso. Em 2014, por exemplo, teve coragem de dizer que exigiria um beijo da Rainha da Inglaterra quando eliminasse os ingleses da Copa do Mundo – não conseguiu, mas a frase ficou famosa.

Para isso, porém, o italiano precisa resolver algumas questões. A primeira, o tempo de permanência na França. Seu empresário, Raiola, já dá entrevistas falando que ele vai voltar para o futebol inglês – o contrato com o Nice é só de um ano. A segunda são os gols. O italiano balançou a rede quatro vezes em dois jogos, é verdade, mas o artilheiro do Francês hoje é Alxandre Lacazette, do Lyon, com seis gols –foi ele o artilheiro do campeonato quando Ibra não ocupou o posto, em 2015. Além disso, ser artilheiro não é, exatamente, uma especialidade do jogador. Ele nunca marcou mais de 20 gols em uma temporada.