A maior polêmica da Copa das Confederações sai de dentro de uma corneta de plástico de cerca de 50 centímetros. Na verdade, de milhares delas. Mania entre a torcida da África do Sul, a vuvuzela virou alvo de debate da Fifa, de jogadores de seleções internacionais e ofuscou temas mais sisudos pertinentes à organização do Mundial do próximo ano no país.
Toda a controvérsia a respeito das barulhentas cornetas de estádio, que têm produzido a trilha sonora da Copa das Confederações, começou com o entusiasmo solitário de um torcedor há mais de vinte anos.
Freddie Maake, conhecido no país pelo apelido de Saddam, é o homem que deu os primeiros passos no que viria a se tornar a maior mania dos estádios sul-africanos na atualidade, e que promete ganhar o mundo através da Copa do próximo ano.
Torcedor fanático do Kaizer Chiefs e da seleção de seu país, Saddam criou a primeira versão da vuvuzela em 1988, inspirado em uma corneta de bicicleta. O modelo, que existe até hoje em sua casa, era feito de alumínio e foi imediatamente vetado de estádios do país pela polícia.
"Diziam que era uma arma, não podia entrar com ela", conta o torcedor de 53 anos, que em seguida pediu para um amigo uma versão em plástico, muito próxima das que são usadas hoje na Copa das Confederações.
Saddam também reclama para si a criação do nome vuvuzela, que tem significado de 'soprar' em algumas das muitas línguas oficiais da África do Sul, como zulu e northern sotho.
"Todo lugar que eu vou, levo a vuvuzela. Até durmo com ela ao meu lado. Quando morrer, quero que ela seja enterrada comigo", diz Saddam, sobre sua criação e, hoje em dia, espécie de obsessão.
Desde a época da criação há duas décadas, Saddam vem ganhando fama no país com sua onipresente corneta e aos poucos também foi cooptando novos adeptos à vuvuzela. "Estive na Copa de 98, em Marselha, no primeiro Mundial da África do Sul. Era o único torcedor com vuvuzela, ninguém mais tinha. As pessoas me pediam para ensinar a soprar", relata.
Em 2001, com a mania das cornetas em ascensão, Saddam recebeu duas empresas interessadas na produção em massa das vuvuzelas. No entanto, o criador do brinquedo de estádios acabou passado para trás após ceder o 'segredo do barulho' nas negociações e nunca viu a cor do dinheiro.
"Viajei duas vezes para Cidade do cabo, tive reuniões com advogados, empresários. Eles sempre me prometeram pagar alguma coisa, mas até hoje nada. Sempre falavam: 'amanhã, amanhã'. Nunca recebi nenhum centavo por elas, nada. E eles usam o nome que eu inventei", afirma o torcedor, que reside em Tembisa, subúrbio pobre de Johanesburgo.
CÓDIGO DE ÉTICA DA VUVUZELA |
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Freddie Maake, o popular Saddam, criou recentemente um código de ética das vuvuzelas, que promete espalhar pelos estádios da África do Sul na cruzada contra a proibição das cornetas na Copa do Mundo do próximo ano. Veja abaixo, em tópicos destacados, a linha de conduta politicamente correta que prega o torcedor. |
1. Não soprar as vuvuzelas na orelha de um torcedor que esteja ao seu lado |
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2. Não usar as cornetas durante a execução de hinos nacionais |
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3. Evitar as vuvuzelas durante o minuto de silêncio antes das partidas em menção a morte de alguém |
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PÁGINA DA C. DAS CONFEDERAÇÕES |
"Eles mandam as vuvuzelas hoje para vários lugares do mundo, estão fazendo muito dinheiro. Mas hoje estou feliz, porque sei que fiz uma coisa importante para o meu país. Se um dia Deus achar que devo receber algo por isso, ele vai me dar", desabafa.
Apesar de ter ficado fora do rico negócio das cornetas, o folclórico personagem conseguiu algum lucro alternativo. Em 1999, gravou um álbum de música, misturando sons de vuvuzelas com canções de estádios. Uma das faixas foi grande sucesso entre torcidas de futebol do país.
Símbolo nacional, a vuvuzela foi usada até pelo ex-presidente e ícone internacional da luta contra o racismo Nelson Mandela, na Suíça quando a África do Sul foi escolhida como a sede da Copa de 2010.
Hoje em dia, as vuvuzelas sempre estão em milhares de unidades em estádios sul-africanos, já com algumas variações, como a 'vuthela', de tamanho médio, e a 'momozela', em miniatura, chamada também de
baby vuvuzela, apesar de emitir som mais alto e bem mais estranho do que a corneta original.