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Justiça determina, e Portuguesa abandona jogo aos 17min do primeiro tempo

Danilo Lavieri, Felipe Pereira e Guilherme Costa

Do UOL, em São Paulo

18/04/2014 19h49

A Portuguesa ignorou liminar judicial e entrou em campo na primeira rodada da Série B do Campeonato Brasileiro. No entanto, isso não foi suficiente para que o jogo contra o Joinville acontecesse. A decisão dos tribunais chegou às mãos do quarto árbitro, e o jogo desta sexta-feira foi interrompido aos 17min do primeiro tempo.

"Fomos ameaçados pela Justiça. Fui obrigado a retirar o time de campo, mesmo contra a minha vontade. Enquanto a liminar não cair, o time não pode entrar em campo. Acatamos o que a Justiça determinou. Temos medo de um WO, mas não temos o que fazer", disse Ilídio Lico, presidente da Portuguesa, em conversa por telefone com o UOL Esporte.

Com a situação, o árbitro Marcos André Gomes da Penha encerrou o confronto após mais de 30 minutos de paralisação. O juiz entregou a súmula em branco e afirmou que a CBF será responsável por decidir se a partida será disputada novamente ou se a Lusa perderá o jogo por WO.

A postura da Portuguesa já havia causado uma cisão interna no clube. Orlando Cordeiro de Barros, que ocupava a vice-presidência jurídica, não concordou com a decisão de entrar em campo e entregou o cargo nesta sexta-feira. Ele não estava sequer assistindo à estreia da equipe na Série B.

"Eu não estou acompanhando o que aconteceu. Estou sem televisão, mas eu sabia que seria assim. Avisei isso ontem [quinta-feira]. Eu falei que isso ia acontecer porque decisão judicial você cumpre, não desafia. O delegado que mandou a partida parar deve estar só cumprindo a ordem que passaram para ele. Isso é óbvio. Se a liminar não foi cassada, como você entra em campo?", questionou Cordeiro de Barros ao UOL Esporte.

A liminar foi concedida no dia 10 de abril pela juíza Adaísa Bernardi Isaac Halpern, da 3ª Vara Cível do Foro Regional da Penha, em São Paulo. A decisão é fruto de uma ação movida pelo torcedor Renato de Britto Azevedo, que contesta punição que a Portuguesa recebeu no STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva).

"Em face do exposto, concedo a antecipação de tutela e o faço para suspender os efeitos da decisão proferida pelo STJD em relação à Associação Portuguesa de Desportos, com o restabelecimento dos quatro pontos que lhe foram retirados", escreveu a juíza na decisão.

A CBF (Confederação Brasileira de Futebol) chegou a pedir reconsideração, mas a juíza negou. Por causa disso, a Portuguesa enviou à entidade nacional na quinta-feira um pedido para adiar o jogo contra o Joinville.

Até o início do duelo, a CBF não havia respondido (em parte, o silêncio deve-se ao recesso do feriado da Páscoa). Portanto, para evitar uma punição no âmbito esportivo, a Portuguesa decidiu ir a campo.

Durante o jogo contra o Joinville, a decisão judicial chegou ao delegado responsável pela partida. Por causa disso, o confronto foi interrompido aos 17min do primeiro tempo. A Portuguesa retirou o time de campo, e todos os atletas foram para o vestiário.

"Se essa liminar for cassada na terça-feira, automaticamente a Portuguesa perderá os pontos. A Portuguesa devia jogar e depois verificar a legalidade", disse Nereu Martinelli, presidente do Joinville, em entrevista ao "Sportv".

O pedido de interromper o jogo foi entregue ao delegado da partida por um oficial de Justiça. O quarto árbitro chegou a pedir que o confronto fosse retomado, mas a Portuguesa se recusou a voltar para o gramado e alegou que não podia descumprir a liminar.

"A orientação é para mantermos atletas em aquecimento. Estamos fazendo a nossa parte, que é esportiva. Existe um problema da Portuguesa no tribunal, e nós não temos nada a ver com isso", ponderou César Sampaio, superintendente de futebol do Joinville, antes de a partida ter sido encerrada pela arbitragem.

Procurado pelo UOL Esporte, o diretor jurídico da CBF, Carlos Eugênio Lopes, estava em uma reunião na noite desta sexta-feira e não pôde conversar com a reportagem. O motivo do encontro, contudo, não foi esclarecido - não se sabe sequer se há ligação com o caso.

"Não faço ideia do que pode acontecer. A Portuguesa tentou ajudar, entrando em campo por decisão da diretoria, mesmo contra a orientação do departamento jurídico do clube. A CBF tem ciência da liminar desde o dia 10 de abril. Por causa disso, não creio em uma punição para a Portuguesa", relatou Daniel Neves, advogado da equipe paulista.

Às 20h22, o jogo foi oficialmente encerrado. "Eu sou funcionário do clube, sou treinador, e é uma decisão do presidente. Não fui eu que pediu para sair do campo, mas eu tenho de acatar. Sou funcionário e me resguardo de fazer qualquer outro comentário", disse Argel Fucks, técnico da Portuguesa, depois da decisão ter sido anunciada.