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Cristóvão enfrenta desafios 'invisíveis' que vão bem além da sombra de Tite

Cristóvão Borges faz terceira partida pelo Corinthians nesta quarta, contra o América-MG - Daniel Augusto Jr/Agência Corinthians
Cristóvão Borges faz terceira partida pelo Corinthians nesta quarta, contra o América-MG Imagem: Daniel Augusto Jr/Agência Corinthians

Dassler Marques

Do UOL, em São Paulo

29/06/2016 06h00

A responsabilidade de substituir o treinador mais vitorioso da história do Corinthians não é a única que Cristóvão Borges leva a campo contra o América-MG, às 21h45 (de Brasília) nesta quarta-feira e por todo o Brasileirão. 

Há exatos dez dias no cargo, o sucessor de Tite tem missões internas importantes, praticamente invisíveis aos olhos do grande público. Se adaptar ao funcionamento dessa estrutura de trabalho do Corinthians, além de conseguir resultados dentro de campo, é o que permitirá a Cristóvão ter uma vida tão longa quanto o treinador que substituiu. Um peso extra nesse processo é a saída do gerente de futebol Edu Gaspar também para a seleção brasileira.

Uma parte importante desse sistema interno é a interação com a diretoria. Ao contrário de vários grandes clubes, o treinador no Corinthians não possui completa autonomia, e as decisões, normalmente, são compartilhadas com comissão técnica e direção. Isso diz respeito a inúmeras situações: a escolha de um substituto para a equipe, a definição sobre escalar um atleta com problemas físicos, o planejamento para uma semana de jogos importantes, a escolha de um reforço ou se um jogador jovem será promovido das divisões de base, entre outros.

Um exemplo recente vivido por Tite envolveu dois laterais direitos. De um lado, o treinador não desejava perder Edílson, seu reserva imediato, para o Grêmio. Do outro, também não gostaria de contar com o jovem Léo Príncipe, emprestado ao Oeste-SP. A direção do Corinthians, apesar dos apelos, foi contra a vontade do treinador nos dois casos. 

Tite, após um longo histórico de problemas com superiores nos primeiros clubes da carreira, encontrou no ambiente do Corinthians um equilíbrio para lidar com interferências sobre seu trabalho em situações como estas. A relação de enorme cumplicidade e confiança com o presidente Roberto de Andrade foi o maior trunfo para isso. 

Entre 2015 e 2016, o treinador corintiano foi aconselhado na última passagem a retirar Petros da equipe principal em um momento e a dar mais sequência para Malcom em outro, por exemplo. Foi convencido de que, apesar da saída de Paolo Guerrero, não receberia um novo centroavante como alternativa. Na Copa do Brasil, utilizou titulares na Vila Belmiro diante do Santos, mesmo a contragosto. Recentemente, mesmo sem concordar, viu torcedores organizados terem acesso ao CT Joaquim Grava. 

A escolha por Cristóvão Borges foi justamente por entender que se tratava de um treinador capaz de se adaptar com essa linha de trabalho do clube e da direção. O sucessor de Tite também tem um perfil conciliador, capaz de se inserir à estrutura de comissão técnica já montada. Nos primeiros dez dias, Cristóvão já relata a pessoas próximas que tem se impressionado com a harmonia interna corintiana e pela forma como já conseguiu se adaptar a ela. 

A perda de Edu Gaspar também é um capítulo importante

O que ainda coloca desafios pelo caminho do Corinthians é a saída de Edu Gaspar. O ex-gerente de futebol tinha papel importante nas interações entre elenco, comissão técnica e diretoria para conter insatisfações de todas as partes e fazer a estrutura de profissionais do CT Joaquim Grava funcionar. O desabafo público de Guilherme por perder a titularidade foi o primeiro teste importante para Cristóvão e o novo gerente Alessandro Nunes.

A impressão é de que ambos, com paciência e clareza, inclusive para tratar o tema diante de todo o elenco, conseguiram contornar a insatisfação. Além de Guilherme, recentemente o goleiro Cássio e o atacante Romero já haviam contestado publicamente a perda de lugar na equipe. Há outros focos de descontentamento dentro do grupo, como do jovem volante Maycon ou do meia-atacante Marlone, o que chamou a atenção dos dirigentes. A dúvida é se Cristóvão, a exemplo do que conseguia Tite na maioria dos casos, conseguirá manter todos os jogadores interessados e em plena forma: um dos segredos recentes do clube é o estímulo de uma competição sadia dentro de todo o elenco. 

Por enquanto, Cristóvão promete oportunidades a todos e pede paciência para conseguir resultados e manter o Corinthians nos trilhos, dentro do objetivo que é o G-4 do Campeonato Brasileiro. Nesta quarta, a equipe vai a campo de forma idêntica à que venceu o Santa Cruz no sábado: Cássio; Fagner, Pedro Henrique, Balbuena e Uendel; Bruno Henrique e Rodriguinho; Romero, Giovanni Augusto e Marquinhos Gabriel; Luciano.