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Guarda-costas para ESPN e medo de comerciantes marcam julgamento no STJD

Renan Rodrigues

Do UOL, no Rio de Janeiro

17/12/2013 06h00

As câmeras e holofotes ficaram voltados para a sala no 15º andar do número 35 na rua da Ajuda, Centro do Rio de Janeiro. Mas enquanto os destinos de Portuguesa e Fluminense no Campeonato Brasileiro de 2014 eram decididos no STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva), a movimentação do julgamento e o clima de tensão também afetaram comerciantes, policiais e imprensa do lado de fora do tribunal. 

O medo de confronto com torcedores causou o fechamento de estabelecimentos comerciais e fez até com que a emissora ESPN reforçasse a segurança de sua equipe. Guarda-costas da empresa Graber foram contratados para proteger os repórteres da empresa. As opiniões de comentaristas do canal, em sua maioria defendendo que a Portuguesa não fosse rebaixada pela escalação irregular de Héverton, irritaram os tricolores nas redes sociais.

Apesar do clima de hostilidade contra funcionários da Globo e ESPN, inclusive com xingamentos durante alguns momentos, nenhum incidente foi registrado e os cerca de 100 torcedores do Fluminense protestaram de maneira pacífica. Os seguranças apenas acompanhavam o trabalho dos jornalistas de longe. Após a decisão favorável ao time das Laranjeiras, um grupo foi até mesmo entrevistado pelo canal pago. 

Comércio temeroso
A 'Leiteria Mineira', tradicional lanchonete e restaurante da região central do Rio de Janeiro baixou suas portas. Temendo o confronto entre torcedores da Portuguesa e do Fluminense, o local encerrou as atividades mais cedo. O sócio José Augusto acompanhava a movimentação na porta e admitiu que o número de jornalistas e policiais assustou.

"Algumas vezes a gente vê movimentação aqui por conta do julgamento, mas nunca aparece torcida. Se alguém resolve partir para a violência, pode ficar perigoso. Vamos nos precaver, mas tomara que não ocorra nada", disse ao UOL Esporte.

Outros restaurantes localizados no mesmo edifício do STJD também encerram suas atividades um pouco mais cedo. Soft Grill e Ekkos agilizaram para dispensar seus funcionários antes da chegada de mais torcedores. Outros bares próximos também baixaram as portas quando a rua foi tomada pelas duas torcidas.

Galo invasor e reboque
Apesar dos xingamentos entre torcidas e tensão entre comerciantes, outras cenas curiosas marcaram o julgamento fora da sala do STJD. A torcedora Maria de Lourdes Perreira da Silva, de 73 anos, conseguiu entrar no prédio - que teve acesso controlado por funcionários - e subiu até o 15º andar com um galo escondido.

O bicho de estimação, que é chamado de Fred em homenagem ao camisa 9 tricolor, é famoso entre os torcedores por estar presente nos treinamentos nas Laranjeiras e na porta dos jogos no Maracanã. Após driblar a segurança, a torcedora se instalou na antessala do tribunal, mas foi retirada e acompanhou a parte final fora do edifício.

Um carro rebocado por estacionar em lugar irregular, com torcedores do Flu cantando 'leva, leva', também foi motivo de riso de quem passava pela rua da Ajuda. A movimentação de policiais, jornalistas e torcedores atraiu muitos curiosos que passavam pelo local.

Clima de jogo
"Ele está roubando. Está cego. Juiz filho da ...". O xingamento que seria comum dentro de um estádio de futebol também aconteceu durante o julgamento no STJD. As músicas das torcidas e hostilidades só silenciaram quando os auditores começaram a votação. Até policiais sacaram celulares para acompanhar em tempo real a decisão.

Uma van da TV Bandeirantes com uma pequena televisão dentro foi suficiente para curiosos acompanharem o desenrolar do caso. Cada voto favorável era comemorado como gol pelos tricolores, que pulavam e gritavam.

Fechados em um cordão de isolamento pela polícia, torcedores da Portuguesa recorreram aos rádios de pilha ou celulares que sintonizavam estações. Ao final, lágrimas de choro, desabafos e a tristeza de uma queda decidida em uma sala sem gritos, xingamentos ou protesto.

Portuguesa e Flamengo já confirmaram que vão recorrer e o caso será julgado pelo Pleno ([última instância do STJD) no dia 27 deste mês.

CONFIRA OUTRAS DECISÕES POLÊMICAS DO STJD

  • 2004 - São Caetano - São Caetano punido com a perda de 24 pontos no Campeonato Brasileiro pela suposta escalação irregular do zagueiro Serginho, que morreu cerca de uma hora após desmaiar durante jogo contra o São Paulo, no Morumbi.

    2005 - Brasileirão - O Campeonato Brasileiro de 2005 vivenciou uma das maiores polêmicas do futebol nacional, quando foi descoberto que o árbitro Edílson Pereira de Carvalho havia manipulado 11 jogos por um esquema de apostas. A polêmica aumentou porque o STJD decidiu anular os 11 jogos e repeti-los novamente. O Corinthians tinha dois de seus jogos entre os 11. Não havia feito nenhum ponto nestes duelos, mas, com a repetição, fez quatro. Foi campeão com três pontos acima do Internacional, o vice-campeão.

    2008 - Grêmio - O zagueiro Léo foi punido com 120 dias de suspensão, o também defensor Réver pegou gancho de três jogos, e o atacante Morales não poderá atuar por oito partidas. Os três jogadores foram julgados por lances ocorridos na partida contra o Botafogo, no último dia 4, em que o Grêmio venceu por 2 a 1. Léo, que foi expulso na oportunidade, foi indiciado por chutar Jorge Henrique, do time carioca, sem a bola estar em disputa. Já Rever foi punido por empurrar o meia Carlos Alberto, e Morales era acusado de fazer falta violenta no lateral Alessandro.

    2009 - Coritiba - O Estádio Couto Pereira será interditado até serem atendidas melhorias de segurança a serem determinadas pela CBF. Depois de cumprida esta pena, passa a valer a cassação de 30 mandos de campo, válida para os jogos da Série B e da Copa do Brasil. Além disso, o clube terá de pagar multa de R$ 610 mil. Acabou cumprindo dez perdas de mando.

    2009 - Botafogo - Pego no doping, o atacante Jobson foi punido com dois anos pelo STJD. Porém, depois teve pena abrandada para seis meses. Ele foi flagrado pelo uso de cocaína em dois exames antidoping realizados na reta final do Brasileirão- contra Palmeiras e Coritiba.

    2010 - Canedense - A briga que envolveu torcedores da Canedense e jogadores do Vila Nova-GO deixou um jogador do time visitante queimado e fora dos gramados por 40 dias. Após a confusão, o STJD resolveu interditar o estádio por 30 dias.

    Mamoré 2010 - Vitinho foi escalado de maneira irregular em jogos do Módulo II e o Clube Patense foi derrotado. Os auditores entenderam que houve a irregularidade e por 8 votos contrários decretaram o Mamoré culpado e decretaram a perda de 7 pontos dentro do Módulo II.

    2010 - Grêmio Prudente- A equipe do interior paulista escalou o zagueiro Paulão em partida contra o Flamengo, pela 3ª rodada do Brasileirão, no final de semana. O problema é que o defensor havia sido suspenso pelo STJD na sexta-feira, e não poderia ter entrado em campo no Macaranã. A defesa do Prudente alegou que o tribunal só notificou o clube na segunda-feira, mas não houve conversa: o time teve três pontos subtraídos e ainda teve que pagar multa de R$ 1 mil. Paulão também foi julgado e corria risco de ser suspenso por um ano, mas foi absolvido.

    2011 - Rio Branco, do Acre, foi desclassificado da Série C do Campeonato Brasileiro 2011. O clube foi punido pelo Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) e, além da eliminação, teve que arcar com mais de R$ 13 mil em multas. O time infringiu o artigo 231 do Código Brasileiro de Justiça Desportiva (CBJD) ao mandar um jogo na Arena da Floresta, que havia sido interditada.

    2013 - Carlos Alberto - Carlos Alberto, atualmente sem clube, foi condenado a um ano de suspensão por doping.

    2013 - Paysandu - Perda de seis mandos de campo e mais R$ 80 mil de multa pecuniária. O clube foi julgado na sede do órgão, no Rio de Janeiro, por conta dos incidentes que aconteceram na partida contra o Avaí, no dia 18 de outubro, no Estádio da Curuzu. Na ocasião, um grupo de torcedores bicolores arremessaram objetos ao gramado, inclusive bombas caseiras, e a partida foi encerrada pelo árbitro Grazianni Maciel Rocha aos 37 minutos do segundo tempo.