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Atlético, Cruzeiro e América amargam prejuízos, enquanto aguardam 'novo Mineirão'

03/12/2010 - 07h05

'Sem casa', Atlético e Cruzeiro contam prejuízos e esperam o Independência

Bernardo Lacerda e Gustavo Andrade
Em Belo Horizonte

Ao final do primeiro ano sem poder mandar jogos no Mineirão, principal estádio de Minas Gerais, que está fechado em obras para a Copa do Mundo de 2014, os três times belo-horizontinos Atlético-MG, Cruzeiro e América-MG contabilizam os prejuízos financeiros e técnicos de terem de atuar durante mais de um semestre fora da capital mineira, consequentemente longe da maior parte de suas respectivas torcidas.

Sem contar com o Mineirão, que vem passando por reforma desde junho deste ano e só deverá ter condições de abrigar jogos em 2013, e com o Independência, fechado para obras visando a Copa do Mundo de 2014, que acontecerá no Brasil, os dois representantes mineiros na Série A, além do América, que disputou a Segunda Divisão, precisaram buscar alternativas no interior do Estado para mandar seus jogos.

Ao longo do Campeonato Brasileiro, o Atlético mandou suas partidas em três estádios diferentes. Começou o primeiro turno atuando no Mineirão, onde fez a sua despedida com a derrota para o Ceará, por 1 a 0, em junho. Depois disso, alternou a Arena do Jacaré e o Ipatingão, em Ipatinga. Mas foi em Sete Lagoas, onde o time mandou a maioria dos jogos.

  • Bruno Cantini/site do Atlético-MG

    Atlético-MG adotou a Arena do Jacaré como sua casa, mas teve prejuízos, segundo a diretorias

Com a falta de um estádio fixo em Belo Horizonte, o time alvinegro mostrou dificuldades na competição nacional em se impor atuando em casa. Ao longo da história o Atlético foi conhecido por ser empurrado pela sua fanática torcida e conseguir boas campanhas como mandante. Mas no Brasileirão de 2010, em 19 jogos como mandante, a equipe conquistou apenas 28 pontos, com nove vitórias, um empate e outras nove derrotas.

Segundo o presidente Alexandre Kalil, com a impossibilidade de jogar no Mineirão, o Atlético-MG teve prejuízo este ano, por volta de R$ 6 milhões, valor que ele considera elevado. Para tentar amenizar este prejuízo, o dirigente revelou que vem utilizando parcerias. “Temos empresas que nos ajudam a amenizar este alto valor que a gente perde. Eles investem no Atlético”, disse o dirigente ao UOL Esporte.

O elevado prejuízo atleticano se dá em função do público reduzido na Arena do Jacaré, que tem capacidade liberada para 18 mil torcedores. Com isso, a renda atleticana fica menor. Neste ano, pelo Brasileirão, o clube arrecadou, em média, pouco mais de R$ 145 mil por partida. Este valor é bem inferior ao recebido na mesma competição no ano passado, quando mandou os jogos no Mineirão e teve média de arrecadação de R$ 580 mil, por partida.

A impossibilidade de atuar em Belo Horizonte é sentida não apenas nas arrecadações, mas também no número de torcedores em cada rodada. Ao longo da competição nacional deste ano, o Atlético levou 255.495 torcedores, média de 13.447 pessoas por partida, bem abaixo da conquistada em 2009, quando o time contava com 38.761 pagantes em média, a segunda maior, atrás apenas do campeão Flamengo.

O volante Zé Luís destaca que o time atleticano demorou a se adaptar à Arena do Jacaré. “No começo foi difícil jogar lá, a gente demorou a se adaptar, mas, hoje, digo que é muito bom, prazeroso jogar na Arena. É uma distância um pouco grande, mas isso não tem impedido nosso torcedor de ir, temos sempre casa cheia”, observou.

Segundo Zé Luís, que tem contrato em vigor com o Atlético-MG, mesmo se a previsão de inauguração do novo Independência, em meados do ano que vem, for confirmada, o time alvinegro precisa continuar com a Arena do Jacaré como opção para mandar seus jogos.

“O problema é a distância, mas o gramado é bom, o início foi complicado, a gente estava acostumado a jogar no Mineirão, campo diferente, maior, mas já estamos adaptados. Ano que vem podemos ter o Independência, mas não dá para descartar a Arena”, destacou Zé Luís.

Prejuízo celeste é maior

Para o Cruzeiro, os cálculos feitos pela diretoria do clube apontam prejuízo ainda maior que o rival. Os dirigentes lamentam ainda que não tenham conseguido negociar jogadores e amenizar a queda de receita. “Nós estamos pagando por não jogar em Belo Horizonte, e caro. Nosso prejuízo no semestre será de mais de R$ 12 milhões, fora o prejuízo técnico”, avaliou o gerente de futebol, Valdir Barbosa.

“A crise mundial pegou o futebol. Praticamente, ninguém foi vendido para o futebol europeu nesse meio tempo. O Cruzeiro passou zerado e isso balança a estrutura financeira do clube. Nós somos exportadores, e esse ano foi o inverso, compramos e não vendemos. O caixa, realmente, dá uma balançada, mas está equilibrado”, acrescentou o dirigente.

Sem o Mineirão, o Cruzeiro passou pelo Ipatingão, Arena do Jacaré e Parque do Sabiá, em Uberlândia. No Triângulo Mineiro, o técnico Cuca protestou contra a grande presença de torcedores do adversário, como nos jogos contra Flamengo, Corinthians e, principalmente, São Paulo. Assim apesar das reclamações dos jogadores sobre a má qualidade do gramado da Arena do Jacaré, o time retornou a Sete Lagoas na reta final do Brasileirão.

  • Washington Alves/Vipcomm

    Cruzeiro, de Roger, saiu da Arena do Jacaré, foi a Uberlândia, mas voltou a jogar em Sete Lagoas

Neste domingo, o Cruzeiro faz seu último jogo diante da torcida, contra o Palmeiras. Apesar da falta do Mineirão, o clube celeste alcançou média pouco superior a 16 mil pagantes nos 18 jogos em que foi mandante. No ano passado, quando brigou para chegar à Libertadores, o Cruzeiro teve seus jogos em casa acompanhados por 21.973 torcedores. A uma rodada do fim da edição de 2010, foram arrecadados R$ 338.238,99, o sétimo maior valor entre os 20 participantes do Brasileirão.

Equipe com melhor campanha fora de casa, o Cruzeiro não conseguiu repetir o mesmo desempenho como mandante e somou 64,81% dos pontos disputados, longe dos 82,46% de aproveitamento do Corinthians, seu concorrente na briga pelo título. Para o técnico Cuca, que chegou ao clube depois do início das reformas no Mineirão, o estádio da Pampulha fez falta.

“O Mineirão nos fez muita falta. Já pensou 45, 50 mil em cada jogo daqueles que tivemos? Lógico que fomos felizes, mas poderia ser melhor ainda. Nós jogamos da mesma forma em casa e fora, isso foi um ponto positivo. Fomos os melhores fora de casa e pecamos um pouco como mandante. Demos vaciladas em um ou outro jogo, mas é normal em uma competição de 38 jogos”, analisou o treinador.

Independência

Em obras desde o início do ano, a previsão da diretoria americana é de que o Independência fique totalmente liberado para ser utilizado por Atlético, América e Cruzeiro no final do primeiro semestre de 2011, estando assim em condições de mandar os jogos do Campeonato Brasileiro.

“O Independência é a casa do América e vai ser a casa do futebol mineiro a partir do próximo ano. A saudade da nossa casa vai aumentando a cada dia e tenho certeza de que até o meio do ano nós vamos poder inaugurar o Independência. É uma obra de prioridade do governo do Estado e eles estão se dedicando para a conclusão dela”, disse o presidente Marcos Salum.

O estádio, que servia como uma espécie de auxiliar para o Mineirão, iniciou as obras no início do ano. Porém, com problema de recebimento da verba federal, o cronograma das obras do estádio sofreu atrasos duas vezes. De acordo com a diretoria americana, no entanto, a obra ficará pronta para a disputa do Brasileirão de 2011, que após nove anos de ausência contará com a presença americana.

A exemplo de Atlético e Cruzeiro, o América sentiu a falta do seu estádio e só conseguiu levar um número maior de torcedores à Arena do Jacaré na reta final da competição, quando reduziu preços de ingressos e sorteou prêmios. Apesar da quarta colocação, que garantiu o acesso à elite do futebol nacional, o time comandado pelo técnico Mauro Fernandes teve média de pouco mais do que 2 mil torcedores, uma das mais baixas do certame.

Além disso, a arrecadação americana foi pequena. Com a promoção no valo das entradas na reta final, feita pela diretoria do clube mineiro, o América arrecadou R$ 14.568, pior média obtida entre os quatro primeiros colocados da Segunda Divisão e que retornaram para a série A. Os outros promovidos foram Coritiba, Figueirense e Bahia.

Enquanto aguarda a possibilidade de utilizar o Independência, a diretoria do Cruzeiro analisa onde mandará as partidas do time celeste pela Copa Libertadores de 2011. Os dirigentes admitem o retorno ao Parque do Sabiá, mas deve haver troca de estádios ao longo da competição internacional.

“É um ano difícil, com Campeonato Mineiro e Copa Libertadores da América e pelo menos mais um semestre sem poder jogar em Belo Horizonte. Na Copa Libertadores, nós temos limitações. A Conmebol faz exigência de público para cada etapa da competição e temos de ver onde vamos jogar caso a gente vá passando de etapas”, explicou o gerente de futebol do Cruzeiro, Valdir Barbosa.

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