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Por que o time mais valioso do mundo não ganha nada há 25 anos

Jogadores do Dallas Cowboys entram em campo para jogo contra o Arizona Cardinals na NFL - Ronald Martinez/Getty Images
Jogadores do Dallas Cowboys entram em campo para jogo contra o Arizona Cardinals na NFL
Imagem: Ronald Martinez/Getty Images

Lucas Tieppo

Colaboração para o UOL, em São Paulo

16/11/2020 04h00

A cada ano a revista Forbes elege os times mais valiosos do mundo e nas últimas cinco listas o Dallas Cowboys, uma das franquias mais tradicionais da NFL (a liga profissional de futebol americano), aparece na liderança com folga. Segundo o levantamento deste ano, o time do Texas vale US$ 5,5 bilhões (cerca de R$ 30,4 bilhões). O problema é o que o sucesso fora de campo está longe de se repetir dentro dele.

Os Cowboys vivem uma incômoda seca de 25 anos sem conquistar o Super Bowl, a final da NFL. Pior ainda, o time não disputa a decisão desde a temporada 1995 da liga, justamente quando venceu pela última vez. Desde então, o time nunca mais chegou nem à decisão da Conferência Nacional.

O culpado tem nome: Jerry Jones

A franquia de Dallas foi comprada em 1989 pelo empresário do ramo do petróleo Jerry Jones por US$ 140 milhões. Além de ser dono, Jones acumula o cargo de principal dirigente da franquia, responsável por ditar os rumos esportivos dela, como definir a comissão técnica, atuação no Draft e negociações de jogadores, entre outras atribuições.

No começo tudo saiu bem, com o time conquistando três vezes o Super Bowl (nas temporadas 92, 93 e 95). Mas os tempos áureos ficaram pra trás. Apesar do sucesso na década de 1990, a atuação de Jones tem sido muito criticada nos últimos anos.

O estilo centralizador, a ausência de um contraponto para avaliar as grandes decisões que devem ser tomadas, como contratos grandes e muito caros a jogadores mais velhos e com histórico de lesão, e desperdício de dinheiro em jogadores que pouco resultado trouxeram são alguns dos exemplos do desempenho nada bom de Jones como general manager.

Mais uma temporada ruim

Em entrevista recente ao Shan & R.J. Show da rádio 105.3 The Fan, de Dallas, Jones deixou uma péssima impressão ao mandar o apresentador se calar ao ser questionado sobre uma falta de liderança na franquia.

"Bem, apenas se cale e me deixe responder. Não (vê falta de liderança). Quando entro no vestiário não vejo um vácuo de liderança", afirmou. Ao final, pediu desculpas pela falta de educação.

O clima nada ameno é consequência de um desempenho bem distante do esperado. Os Cowboys iniciaram a temporada com a expectativa de chegar ao Super Bowl 55, mas sofrem com desfalques e conquistaram apenas duas vitórias em nove jogos.

Jones é questionado há decadas

As críticas ao comando de Jones como general manager são antigas. Em 2011, o site Bleacher Report elencou as 5 piores decisões da "Era Jerry Jones", entre elas a demissão do ex-técnico Jimmy Johnson em 1993 mesmo após dois títulos do Super Bowl, trocas em que a franquia entregou escolhas de draft por jogadores que não tiveram desempenho e a aposta no quarterback Quincy Carter no começo do século.

Em 2015, o portal "SportDFW" elencou as 10 piores decisões do empresário nos Cowboys, entre elas demissões polêmicas, apostas erradas em jogadores que pintavam como promessas e nunca entregaram o esperado e a contratação de Jason Garrett em 2011. Já o portal "The Things" relatou 21 decisões erradas do dirigente.

O dono da franquia defendeu seu trabalho como dirigente em entrevista em dezembro de 2019. "Eu disse desde a primeira entrevista como dono da equipe como faria o trabalho. Eu estaria envolvido em todas as decisões. Não há dúvida sobre como eu comando a franquia", disse.

Jones é muito criticado também pela forma que lidou com o antigo técnico da equipe, Jason Garrett. O treinador comandou Dallas entre as temporadas de 2011 e 2019 e conseguiu levar o time aos playoffs em apenas três temporadas, sempre sendo eliminado antes da decisão da conferência. Apesar de todas as críticas ao comando dele, Garrett foi mantido no cargo somente porque Jones assim desejava, desperdiçando os talentos que tinha em mãos.

A era Tony Romo

No mundo da NFL os principais alvos de críticas pelo desempenho ruim são sempre dono, general manager, técnico e quarterback. Enquanto Jones e Garrett ocuparam as três primeiras funções, o líder em campo em 14 destes 25 anos de seca foi Tony Romo. Hoje aposentado, o ex-jogador chegou aos Cowboys em 2003 e defendeu a franquia até 2016 sem levar a equipe até as finais de conferência nenhuma vez.

Talentoso e dono de diversos recordes do time, Romo sofreu com lesões e atuações abaixo do esperado em jogos decisivos. Como quarterback da equipe, ele venceu apenas dois dos seis jogos que fez nos playoffs e foi sempre muito questionado pelo desempenho ruim. Ao perder a titularidade para o novato Dak Prescott, o ex-camisa 9 decidiu aposentar-se e hoje é comentarista de NFL da rede de televisão CBS.

Treinador despreparado

Ao finalmente demitir Garrett depois de mais uma temporada aquém das expectativas, Jones contratou Mike McCarthy, campeão do Super Bowl 45 com o Green Bay Packers, mas há anos um técnico de segunda prateleira na liga e muito criticado pelas temporadas finais no comando dos Packers. O resultado negativo da chegada de McCarthy aos Cowboys foi quase instantâneo.

Segundo Jane Slater, repórter da NFL Network, noticiou há duas semanas, os jogadores da equipe estão descontentes com o comando da equipe. Dois jogadores criticaram de forma anônima o treinador. "Totalmente despreparado (Mike McCarthy). Eles não ensinam e não têm nenhum senso de ajuste na hora dos jogos", disse um dos jogadores.

"Eles (comissão técnica de McCarthy) simplesmente não são bons em seu trabalho", comentou outro. Apesar da expectativa negativa sobre o trabalho da comissão técnica, Dallas tem um dos elencos mais talentosos da liga, mas que sofre com lesões, a principal delas é a do quarterback Dak Prescott, que fraturou o tornozelo há cerca de um mês e está fora da temporada.

O Dallas tem duas vitórias e sete derrotas na temporada e só sonha com os playoffs porque estão na pior divisão da NFL, a NFC Leste. O Philadelphia Eagles lidera com três vitórias, quatro derrotas e um empate. Os Cowboys voltam a jogar no dia 22 de novembro, contra o Minnesota Vikings.