Topo

Glamour? Cobertura da ESPN no Super Bowl tem jornada de quase 15h por dia

Equipe da ESPN Brasil em Miami para o Super Bowl LIV - Divulgação/ESPN
Equipe da ESPN Brasil em Miami para o Super Bowl LIV Imagem: Divulgação/ESPN

Patrick Mesquita

Do UOL, em Miami (EUA)

02/02/2020 04h00

Quem vê os bastidores, as entradas ao vivo e as entrevistas exclusivas com astros do futebol americano pode acreditar que Everaldo Marques, Paulo Antunes e a equipe da ESPN Brasil enviada a Miami para a cobertura do Super Bowl 54 têm na cobertura uma chance de se divertir e aproveitar o glamour de um dos maiores eventos do esporte mundial. Mas a realidade é bem diferente disso, e mostra uma rotina de trabalho que vai das 6h até as 20h no horário local.

A emissora envia equipes para a cobertura do Super Bowl há cerca de uma década. Everaldo Marques, narrador, e Paulo Antunes, comentarista, estiveram na maior parte das finais da NFL em que o canal marcou presença. O UOL Esporte acompanhou um dia da cobertura feita pelo canal em Miami para o Super Bowl LIV, que conta ainda com Fernando Nardini como repórter. São participações ao vivo, gravações para a programação, vídeos feitos para patrocinadores e contato com brasileiros que admiram o trabalho da dupla. Tudo em jornadas que atingem até 15 horas diárias.

"Não vamos em festa, não vamos em shows, em jogo de NBA quando estamos aqui. Estamos simplesmente para trabalhar", afirmou Paulo Antunes.

Se ir para um evento desta magnitude está longe de ser um oba-oba, a cobertura também não tem qualquer cara de reclamação. Os jornalistas estão cientes do privilégio que é trabalhar em uma semana como a do Super Bowl, independentemente das dificuldades encontradas.

"Muito legal estar aqui, apesar dos perrengues. Mas isso não é nada perto dos perrengues reais que as pessoas passam na vida. Falta de comida, falta de lar, falta de proteção contra frio e chuva, essas enchentes em Belo Horizonte", disse Everaldo Marques.

"Enfim, existem problemas muito mais sérios do que trabalhar 15 horas por dia, do que almoçar 12h e jantar 22h. Eu vou poder jantar, tem gente que não vai poder. São perrengues diferentes do que as pessoas passam na vida, que até eu já passei porque sou filho de zelador e doméstica. Minha infância foi bem mais difícil do que é agora. Então, isso a gente tira de letra", completou.

Das 06h às 20h direto

Na quarta-feira (29), o dia de trabalho da equipe da ESPN, acompanhado pela reportagem do UOL Esporte, começou por volta das 6h de Miami (8h de Brasília). O primeiro compromisso oficial foi a coletiva do Kansas City Chiefs, que disputará o Super Bowl contra o San Francisco 49ers hoje (2), às 20h30 (de Brasília). O hotel do campeão da Conferência Americana fica a mais de 30 quilômetros de distância, na cidade de Aventura.

Lá, a equipe entrevista os jogadores e faz as primeiras participações ao vivo na programação da ESPN no Brasil. Em seguida, mais 30 quilômetros de carro até a NFL Experience, "parque de diversões" criado pela liga para os fãs de futebol americano. Por volta das 11 horas, Everaldo Marques e Paulo Antunes conseguem um intervalo da programação ao vivo e começam outra parte do trabalho: lives nos Instagram e gravações para o site mostrando as atrações o local visitado.

Equipe da ESPN no Super Bowl - Patrick Mesquita/UOL - Patrick Mesquita/UOL
Imagem: Patrick Mesquita/UOL

Não demora muito para que narrador e comentarista sejam reconhecidos por brasileiros que trabalham como voluntários no evento. Ambos aproveitam as poucas pausas para atender e conversar melhor com os fãs sobre futebol americano.

A primeira refeição acontece por volta do meio-dia: um hot-dog, batatas chips e um refrigerante.

Por volta das 15 horas, Everaldo Marques começa gravações de chamada do Super Bowl 54 para anunciantes e patrocinadores do canal. A reportagem presenciou pelo menos três filmagens diferentes.

O ritmo segue o mesmo até praticamente 16h30. De lá, a equipe segue de carro até o hotel onde os 49ers atendem à imprensa. São mais 14 quilômetros de carro até o local.

Às 17h30, a equipe está pronta para entrar ao vivo novamente. Paulo Antunes vai entrevistas os jogadores, enquanto Everaldo Marques se posiciona para mais gravações. Como não deu tempo de parar e almoçar, o narrador compra apenas algumas rosquinhas para conter a fome até o fim do dia.

É mais ou menos neste intervalo que o cansaço começa a dar sinais mais fortes. Sempre que pode, Everaldo Marques senta no chão do hotel dos 49ers para esticar as pernas. Ele aproveita o tempo livre para fazer uma ligação por vídeo para o Brasil. A ideia é manter contato com o filho de oito anos.

"Almojanta" de Everaldo Marques - Patrick Mesquita/UOL - Patrick Mesquita/UOL
"Almojanta" de Everaldo Marques
Imagem: Patrick Mesquita/UOL

"Ele manda áudio, é proativo em procurar. Eu me esforço para sempre conseguir falar com ele", conta.

Por volta das 20h, a equipe ainda tem mais uma entrada ao vivo no SportsCenter programada. Apenas a reportagem do UOL Esporte e os jornalistas da ESPN permaneceram no local, atraindo olhares indignados dos seguranças do hotel.

Everaldo Marques se preparou, olhou para a câmera e estava prestes a entrar no ar quando o retorno caiu. O problema técnico colocou fim ao trabalho da equipe brasileira por volta das 20h15. Só neste momento todos foram liberados para jantar e descansar. Isso até o relógio despertar às 06h do dia seguinte.

"É cansativo, é longo, mas faz parte do jogo. Eu estou no maior evento esportivo do mundo. Quantos e quantos não gostariam de estar no meu lugar? Não só jornalistas, mas fãs. Eu não deixo de ser um fã de futebol americano. Ser narrador é meu sonho de infância. Então, eu levo muito a sério. Todos os dias, quando eu abro o microfone, eu estou realizando o meu sonho de infância. Então, isso faz parte do sonho", declarou Everaldo, ao fim da maratona.

Repórter do UOL conta curiosidades sobre as equipes do Super Bowl LIV