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Fórmula 1

Massa ganha nota 9 na Áustria, mas é superado por companheiro da Williams

Livio Oricchio

Do UOL, de Nice (França)

24/06/2014 14h14

Nos aproximamos da metade do campeonato. O GP da Áustria, domingo, foi o oitavo da temporada, prevista para ter 19. Há pequenas dúvidas sobre a realização da prova de Sochi, na Russia, 16.ª do calendário, dia 12 de outubro, por causa dos problemas políticos entre o país e a Ucrânia.

A próxima etapa será num local que os amantes do automobilismo devem imaginá-lo como a sua Meca, Silverstone, dia 6. Assistir a um GP num dos mais tradicionais circuitos da F1 é uma experiência única. O nível de informação e entendimento do público impressiona.

Fica, agora, combinado, que toda terça-feira depois do GP os dez primeiros colocados, e eventualmente algum destaque que não tenha se classificado entre eles, serão analisados. E, claro, receberão notas, apesar da sua subjetividade.

Nico Rosberg - 10
Sábado, depois da sessão que definiu o grid, disse: "Meu carro está mais acertado para a corrida. Sei que será muito eficiente. Portanto, largar em terceiro está muito bom". Esse é o ponto crucial do excepcional desempenho de Nico Rosberg este ano. Tirar o máximo possível de cada condição. Como fez no Canadá. Obteve brilhante segundo lugar com o modelo W05 Hybrid da Mercedes com sérios problemas.

Na corrida de domingo, manteve-se em terceiro atrás de Felipe Massa e Valtteri Bottas, a dupla da Williams, até o primeiro pit stop, na 11.ª volta, mas sempre a uma distância que permitisse a refrigeração dos freios, bastante exigidos nos 4.326 metros do Circuito Red Bull Ring.

Como grupo de estratégia da Mercedes é muito mais capaz que o da Williams, aproveitou-se muito bem da primeira parada três voltas antes de Massa e quatro de Bottas para ultrapassá-los na operação de pit stop, assumir a liderança do GP da Áustria e, como praticamente não erra, manter-se em primeiro até a bandeira, com todos os méritos, independente de dispor do melhor equipamento.

Niki Lauda já disse ao UOL Esporte mais de uma vez : "Este ano é mais importante ser inteligente do que rápido". E é exatamente o que tem feito Rosberg. Não tem o talento do companheiro de Mercedes, Lewis Hamilton, mas compensa por possuir maior visão do que a F1 nesta temporada exige para vencer.

Não é à toa que hoje soma 29 pontos a mais que Hamilton (165 a 136), o que o deixa na condição de líder depois do GP da Grã-Bretanha, mesmo se não marcar pontos e Hamilton vencer. Essa maneira mais precisa de responder ao desafio apresentado aos pilotos este ano pela F1 o está levando a solidificar a liderança no Mundial.

E, como consequência, desestabilizar Hamilton. Seu erro na última tentativa de entrar na luta pela pole position, sábado, é um exemplo da pressão exercida pela extraordinária regularidade de Rosberg em Hamilton. Muita coisa pode acontecer na segunda metade do campeonato. Mas se for o caso de o alemão ratificar a segurança de sua conduta até aqui, não será fácil Hamilton superá-lo.

Lewis Hamilton - 9
Não fosse o erro no Q3 da classificação, quando rodou na volta lançada, e perdeu a chance de talvez largar na primeira fila, receberia nota 10. Que largada, que primeira volta! No seu melhor estilo agressivo, veloz, ousado, passou no meio de Kimi Raikkonen, Ferrari, e Daniil Kvyat, Toro Rosso, no grid, para pular de nono para sétimo.

Ultrapassou Kevin Magnussen, McLaren, assumindo o sexto lugar, Daniel Ricciardo, Red Bull, quinto, e ainda Fernando Alonso, Ferrari, para ser o quarto. Tudo na primeira volta, com determinação voraz e precisa. Pronto, já estava na luta pelo pódio, em menos de 4 quilômetros. Vimos o melhor de Hamilton na Áustria.

Há outro aspecto importante da sua participação na prova. Desta vez não permaneceu tão próximo de Rosberg depois de ultrapassar Massa quando o piloto da Williams deixava os boxes, na 14..ª volta, a do seu primeiro pit stop, e Bottas, na 43.ª, na operação da segunda parada do finlandês.

Em segundo, Hamilton não repetiu o erro do GP do Canadá. O abandono foi causado por excessiva temperatura dos freios, gerada pela proximidade com que seguiu Rosberg. Teve responsabilidade direta, portanto, no Circuito Gilles Villeneuve, em Montreal, por não ter somado ponto algum. O que não foi o caso no GP da Áustria. É muito melhor levar para casa 18 pontos do segundo lugar que nada.

É mais talentoso que Rosberg. Tem alguns décimos de segundo a menos nas voltas. Se pilotar daqui para a frente como fez em Spielberg, agressivo na hora certa e inteligente diante das circunstâncias, com a regra dos pontos dobrados na última etapa terá todas as chances de lutar pelo título. A desvantagem atual de 29 pontos é importante, mas ainda há muita competição pela frente.

Bottas - 10
Na classificação, realizou grande trabalho, segundo tempo. Errou na tentativa de ser ainda mais rápido do que já havia sido. Mas correu como um piloto experiente, veloz e constante o tempo todo, tirando tudo o que o modelo FW36-Mercedes da Williams lhe permitia. Não teve um deslize sequer nas 71 voltas.

Claramente é talentoso, inteligente e já associa velocidade com constância, regularidade, não comum para quem está na segunda temporada. Tem se mostrado mais eficiente que Massa. O maior número de pontos no Mundial em relação ao companheiro de Williams, 55 a 30, se deve aos problemas de Massa, inequívocos, mas também ao melhor campeonato que está disputando.

No GP da Áustria, o máximo possível era o terceiro lugar. Se a Williams fosse mais capaz na definição das estratégias, a segunda colocação talvez fosse possível. Se tivesse feito o segundo pit stop na 40.ª volta, por exemplo, em vez de na 41.ª, já que Hamilton parou na 39.ª, haveria chance de não ser ultrapassado nos boxes, como fez o inglês da Mercedes.

A diferença no tempo em favor de Hamilton na volta 40, a sua primeira de pneus novos aquecidos, e a de Bottas, com pneus já de 25 voltas, foi decisiva para o piloto da Mercedes ganhar o segundo lugar. De qualquer forma, Bottas teve grande performance e mais que mereceu o primeiro pódio na carreira no seu 27.º GP.

Felipe Massa - 9
Muito bom o seu fim de semana. Perfeito na classificação. Rosberg não foi rápido o suficiente, Bottas e Hamilton erraram. Massa, contudo, completou uma volta excepcional no Q3. Resultado, pole position depois de seis anos.

Ao longo das 71 voltas, foi sempre rápido e regular, sem errar. A exemplo do que fez com Bottas, a Williams também não foi tão eficiente quanto a Mercedes na sua estratégia de corrida. Massa entrou nos boxes em primeiro e saiu em terceiro. Com os pneus frios, acabou ultrapassado por Hamilton, caiu para quarto, onde recebeu a bandeirada.

Apesar do belo trabalho, brilhou menos que Bottas. Depois do acidente no Canadá, quando deixou de marcar 12 ou 10 pontos, do quarto ou quinto lugar, Massa parece ter optado por um comportamento mais conservador em Spielberg.

Dentre correr riscos de tentar lutar pelo terceiro lugar do pódio e somar 12 pontos da quarta colocação, acabou ficando com a segunda opção. Para ele e a Williams é importante garantir pontos. A diferença para Bottas começou a ficar grande e seu time tem como meta terminar o Mundial de Construtores em segundo.

Fernando Alonso - 8
Como sempre tirou o máximo possível do modelo F14T da Ferrari. As duas Mercedes eram as mais velozes no Circuito Red Bull Ring, seguidas das Williams. Assim, a melhor colocação possível era o quinto lugar. E foi o que Alonso obteve. Não haveria como fazer mais. A diferença de performance do seu carro para a Mercedes e Williams na Áustria era grande.

Tentou, ainda, uma aproximação a Massa a dez voltas do fim, mas viu não ser possível a ultrapassagem e garantiu mais 10 pontos. Junto de Rosberg e Nico Hulkenberg, da Force India, Alonso marcou pontos em todas as oito etapas disputadas. É um piloto extraordinário.

Sergio Perez - 8
O pessoal que trabalha com ele, Sauber, McLaren e este ano Force India, não esconde que o mexicano tem personalidade difícil de se lidar, por se achar acima da média e não ouvir a equipe, mas é verdade, também, que se trata mesmo de um piloto muito bom. Sabe como poucos conduzir sem submeter os pneus, bem como o carro, a grandes esforços.

E isso dá a seus times a oportunidade de definir estratégias que exploram a notável característica. Em Bahrein obteve brilhante terceiro lugar. No Canadá era o quarto até se envolver no acidente com Massa na última volta.

E na Áustria, mesmo tenho largado em 15.º, com a punição de cinco lugares no grid, por ter sido o responsável pelo choque com Massa em Montreal, correu à la Perez e recebeu a bandeirada em excelente sexta colocação.

Kevin Magnussen - 7
Quando o carro não permite aos pilotos da mesma equipe lutar pelas primeiras colocações, como é o caso da McLaren, a comparação do trabalho de um e outro piloto é o melhor parâmetro para analisá-los. E na Áustria Magnussen foi bem mais eficiente que Jenson Button.

Estreante este ano, largou em sexto diante da 11.ª colocação do experiente inglês, na sua 15.ª temporada na F1, 255 GPs. E na corrida o dinamarquês obteve bom sétimo lugar diante do 11.º de Button. Magnussen somou pontos pela terceira vez seguida, o que mostra estar em evolução. É talentoso. Quanto, ainda não se sabe.

Daniel Ricciardo - 7
É guerra aberta, agora, entre a direção da Red Bull e os responsáveis pelo programa da Renault na F1. Na Áustria a diferença de desempenho entre a unidade motriz fancesa da Red Bull e a Mercedes do time de Rosberg e Hamilton, Williams, Force India e McLaren foi grande demais para Christian Horner, comandante da escuderia de Daniel Ricciardo e Sebastian Vettel, continuar sendo comedido nas críticas.

O inglês pela primeira vez cobrou resultados da direção da Renault. Ricciardo, em bom oitavo, diante da falta de potência do seu Red Bull RB10-Renault, foi o primeiro com a unidade motriz francesa. Recebeu a bandeirada 43 segundos depois de Rosberg e em nenhum momento pôde lutar por posições por não dispor de potência. Mas, como sempre, o capaz Ricciardo fez a sua parte no que era possível.

Nico Hulkenberg - 6
Nas duas últimas etapas foi menos eficiente que o companheiro, Perez. Largou em décimo e chegou em nono. O fato de Perez ter começado a corrida na 15.ª colocação e acabar em sexto mostra que se Hulkenberg tivesse trabalhado melhor no acerto do carro e na estratégia de corrida poderia ter feito mais.

Kimi Raikkonen - 5
Reclamou durante a corrida de falta de potência, através do rádio, como tem ocorrido com frequência quando a equipe lhe informa que para chegar entre os dez que marcam pontos, imagine, precisa ser, por exemplo, dois décimos mais rápido por volta.

A diferença entre o seu desempenho e o de Alonso é gritante. Depois de oito etapas, Raikkonen soma 19 pontos, é apenas o 12.º no Mundial. Suas melhores colocações foram na Austrália e na Espanha, sétimo. Alonso tem 79 pontos, quarto colocado, e já foi ao pódio, terceiro na China. 

O estilo de pilotar de Raikkonen tem se mostrado desastroso para as características das reações do modelo F14T da Ferrari. Nos dois últimos anos, na Lotus, o finlandês realizou um trabalho espetacular, chegando até as etapas finais com chances de ser campeão.

Marco Mattiacci aguarda a próxima temporada, quando a Ferrari terá um carro provavelmente bem melhor que o atual, uma unidade motriz bastante modificada, autorizada pelo regulamento, para entender se vale a pena renovar o contrato de Raikkonen para 2016. Hoje não teria chance alguma.

Sebastian Vettel
Não há como analisar o seu desempenho no fim de semana. Mais uma vez foi afetado integralmente pelos problemas da unidade motriz da Renault, pela terceira vez no ano em oito provas. Não há relação nenhuma entre seu estilo e as dificuldades técnicas, o que se poderia pensar diante de Ricciardo não as enfrentar. É pura obra do acaso.

Obra do acaso e, claro, da menor eficiência dos franceses em relação a Mercedes e a Ferrari. De qualquer maneira, a classificação demonstrou, de novo, que o tetracampeão do mundo tira menos do atual modelo da Red Bull que Ricciardo, ao sequer passar do Q2, enquanto o australiano foi quinto.

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