UOL Esporte Fórmula 1
 
29/07/2009 - 09h00

Irmão de Massa quase é preso na Hungria

Tatiana Cunha
Da Folhapress
Em Budapeste (Hungria)
Dudu ("Não gosto que me chamem de Eduardo") Massa, 23, não estava satisfeito no início do treino de classificação do GP da Hungria, no sábado.

AFP
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Foi pegar dois amigos na entrada do circuito de Hungaroring e, quando voltou para os boxes da Ferrari, seu irmão, Felipe, já estava sentado em seu F60. Dudu ficou sem poder dar o tradicional tapinha nas costas do piloto, que, poucos minutos depois, sofreria um grave acidente, ao ser atingido no capacete por uma mola.

Único membro da família Massa presente em Budapeste nas primeiras 24 horas após a batida e, depois, na cirurgia no crânio do brasileiro, concedeu nesta terça-feira sua primeira entrevista.

Para evitar tumulto na entrada do hospital, onde dezenas de jornalistas aguardam por informações sobre a saúde de seu irmão, pediu que os brasileiros que acompanham a F-1 o encontrassem numa pracinha atrás do Hospital Militar.

"Como era o único em Budapeste, eu me sentia responsável por dar conforto a ele e também responsável por ele e isso me fazia mal", falou ele.

"Depois que me falaram que a cirurgia tinha sido um sucesso e me mandaram ir para o hotel, foi muito angustiante. A pior coisa é não poder fazer nada. Meu irmão aqui e eu lá. Ainda mais ele, que sempre fez tudo por mim. Essa impotência me deixou triste e angustiado."

Por mais de 40 minutos, de boné, calça jeans e barba por fazer, Dudu deu detalhes dos momentos que se seguiram ao acidente. Muito tranquilo, falou que assim que chegou ao centro médico do circuito, Massa já estava em uma sala sendo atendido e, quando a porta se abriu, pode ouvir seus gritos.

"Fui correndo e nem vi o resgate, a batida, nada. Cheguei lá e comecei a chorar", disse. "Ele berrava, pedia para os médicos saírem, para não mexerem nele. Em inglês e italiano. Ele queria dizer que estava bem, para não encherem o saco".

Feito o primeiro atendimento, os médicos do autódromo decidiram transportar o piloto de helicóptero. Instruído por Rubens Barrichello, que foi visitar o amigo, Dudu acompanhou o irmão até o helicóptero e foi informado por Stefano Domenicali, chefe da Ferrari, de que poderia ir com ele.

No entanto, ao chegar à aeronave, não havia espaço, porque Massa estava acompanhado por dois paramédicos. "Acabei ficando sem carona, porque o Nicolas [Todt, empresário do piloto] já tinha ido de carro".

O chefe ferrarista então pediu que um motorista do time o levasse também de carro, mas como ele não era húngaro, não conhecia o caminho até o Hospital Militar, o que quase acabou com a prisão de Dudu.

"O motorista tinha um GPS, mas não sabia qual era o hospital. Fomos parados numa barreira e o policial não era muito gentil, falava alto", afirmou.

"Fiquei estressado. Explicamos que era meu irmão e conseguiram um batedor pra nos levar. Mas demorava e, naquela hora, cada segundo era uma eternidade. Aí gritei para o policial: 'Você tem irmão? É meu irmão que está lá, se vira, preciso ir'. Ele quis me prender".

Para Dudu, no entanto, o pior momento de todos foi a noite seguinte à operação para diminuir a fratura no crânio de Massa, quando ainda estava sozinho em Budapeste e aguardava a chegada dos familiares.

"Eu dormia dez minutos e acordava, dormia de novo. Aí olhava a hora porque o que queria mesmo era que desse a hora de voltar para o hospital pra ter notícias do meu irmão".

Apesar do susto e dos momentos difíceis pelo qual passou, Dudu, que é piloto da Pick-up Racing no Brasil, não acha que isso fará diferença quando ele sentar no carro para correr.

"Isso não passa na minha cabeça. Até o Felipe, que foi o acidentado... Quando o doutor falar que ele está liberado, tenho certeza que ele vai desligar o telefone e mandar preparar o kart dele", afirmou Dudu.

Se o último sábado não mudará o Dudu piloto, certamente mudará o Dudu pessoa. "Acho que ainda não caiu a ficha, mas você simplesmente muda. Diria que, por tudo que passei nesses dias, amadureci uns 75 anos. Foi difícil, mas passou."

Quadro clínico
De maneira mais rápida que a esperada pelo médicos, o estado de saúde de Felipe Massa continua evoluindo bem e ele pode até ser transferido para um hospital em Paris na quinta-feira, segundo a família do piloto.

"A melhora do Felipe continua, ele já está mais alerta do que ontem, o que é natural pela sedação", afirmou Dino Altmann, médico particular de Massa.

Nesta terça-feira, três dias após o acidente em que foi atingido por uma mola que se soltou do carro de Rubens Barrichello, o piloto da Ferrari já começou inclusive a reclamar de fome.

"Não há sinal de deficiência. Ele dá respostas coerentes em três idiomas [português, italiano e inglês] e faz ativamente os exercícios da fisioterapia", afirmou Altmann. "Abrimos o olho esquerdo dele e ele enxerga perfeitamente. Sempre imaginei que o trauma não era tão extenso. Ele tem superando as expectativas", completou.

Outro que mostrou-se satisfeito com o progresso do piloto foi o chefe da Ferrari, Stefano Domenicali, que retornou nesta terça à capital húngara para estar perto de Massa.

"Felipe me reconheceu, e me deu a mão", disse. "Confirmei que o estamos esperando e que aquele carro é dele."

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