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Lito Cavalcanti

O midas da Fórmula 1 ataca outra vez

Lawrence Stroll, dono da Racing Point, caminha no paddock antes do GP da Espanha 2019 - Charles Coates/Getty Images
Lawrence Stroll, dono da Racing Point, caminha no paddock antes do GP da Espanha 2019 Imagem: Charles Coates/Getty Images

03/02/2020 14h15

A semana passada trouxe para a Fórmula 1 uma ótima notícia: a compra de 16,7% das ações da fábrica inglesa de carros esportivos Aston Martin por Lawrence Stroll, o líder do consórcio que, no ano passado, resgatou a equipe Force India da falência e mudou sua denominação para Racing Point.

Ex-executivo da gigante de moda Ralph Lauren, Stroll é hoje o dono de uma das maiores fortunas do Canadá, feita inteiramente no mundo fashion. Além da eficiência nos negócios, ele é também conhecido pela paixão por automóveis. Dono de uma das maiores (se não a maior) coleções privadas de carros Ferrari, Stroll é também proprietário da pista de Mont Tremblant, que adquiriu em 2000 para hospedar e desfrutar de seus carros.

Sua presença na Fórmula 1 foi vista inicialmente através do patrocínio à Ferrari nos anos 90, com sua primeira marca, a Tommy Hilfiger. Voltou aos refletores em 2017, investindo pesadamente na já debilitada Williams, onde seu filho Lance estreou e se manteve por dois anos, mudando-se em seguida para a Racing Point.

Célebre por mostrar desempenho superior ao que permite supor seu orçamento e por superar as falhas de líderes um tanto controvertidos, a equipe de Stroll tem os ingredientes necessários para crescer na Fórmula 1. Satélite da Mercedes, ela conta com motor, sistemas híbridos e transmissão da equipe alemã. Seu departamento técnico mantém um desenvolvimento contínuo, sem os arroubos delirantes que se vê em algumas de suas adversárias nas lutas do segundo pelotão.

A ideia de unir a Aston Martin à Racing Point teve início em 2018, com o mau resultado do lançamento das ações da montadora inglesa na bolsa de Londres. A cotação caiu 50% em meio ano e o último trimestre de 2019 acusou a perda de 70% do valor da empresa. Debilitada, a empresa aceitou a proposta de 182 milhões de libras (ou pouco mais de R$ 1,12 bilhão) pelas ações, além da promessa de investimentos imediatos.

Parece ser a solução ideal para ambas as partes. A Aston Martin vem usando as corridas como plataforma de marketing. Além de figurar como patrocinadora nos carros da Red Bull, ela mantém equipe oficial nas provas internacionais de Grã-Turismo. Dar seu nome a uma equipe com bases tão promissoras, e dar-lhe a chance de se beneficiar da tecnologia de uma montadora pode e deve mudar positivamente o destino de cada uma já a partir de 2021.

Sebastian Vettel ficou na terceira colocação no grid de largada após o Q3 - Lars Baron/Getty Images - Lars Baron/Getty Images
Sebastian Vettel ficou na terceira colocação no grid de largada após o Q3
Imagem: Lars Baron/Getty Images

O próximo passo: Alonso ou Vettel

Uma das principais consequências dessa união é a abertura de novas perspectivas para os pilotos que têm neste 2020 o último ano de contrato. Eles passam a oferecer à nova Racing Point, ou Aston Martin F-1, o complemento ideal para seu projeto. É o caso de Sebastian Vettel, Valtteri Bottas, Daniel Ricciardo e até mesmo, com menor possibilidade, Fernando Alonso.

O espanhol diz que só aceitaria convite de equipes capazes de vencer - mas suas atitudes apontam em outra direção. Em uma entrevista na semana passada, ele se dizia capaz de aproveitar pretensas falhas de Lewis Hamilton não exploradas pelos adversários. Vetado mais uma vez pela Honda, apesar dos esforços de Michael Andretti para tê-lo em sua equipe nas 500 Milhas de Indianápolis, Alonso poderia reabrir as portas da F-1 com a Racing Point. Além do mais, porque ninguém pode dizer com certeza que equipe vai ser dominante em um ano com tantas mudanças como 2021.

Sebastian Vettel e Valtteri Bottas, como se sabe, têm poucas corridas para convencerem Ferrari e Mercedes, respectivamente, de que merecem mais um ano de contrato. Daniel Ricciardo deixou público que se a Renault não mostrar evolução nesta temporada, ele pode até abandonar a F-1, mas lá não fica.

São muitas as repercussões dessa nova união. E todas elas beneficiam nitidamente a Fórmula 1, que com a chegada da Aston Martin ganha mais uma equipe de altíssimo perfil e ocupa espaço de qualidade na imprensa de finanças, que não costuma frequentar.

Brexit: Nem tudo são flores

Se por um lado a Fórmula 1 tem motivos para comemorar, não são poucas as preocupações de sete de suas 10 equipes com a confirmação do Brexit, a sigla que designa a saída do Reino Unido da União Europeia. Isso significa que cidadãos da Inglaterra, da Escócia e da Irlanda do Norte perderão o direito de circular livremente, viver e trabalhar nos países do continente europeu.

Por ter se tornado a Meca do automobilismo, atividade que hoje se destaca na composição do PIB britânico, a Inglaterra apresenta vantagens e comodidades para as equipes que nela criaram suas bases. Lá estão disponíveis algumas das principais fornecedoras de alta tecnologia.

Nada menos de 60% da população dos paddocks da Fórmula 1 é composto por cidadãos ingleses - os 40 por cento restantes trabalham e moram na Inglaterra. Como a maior parte deles provém de países da União Europeia, eles vivem sem as atribulações burocráticas que assolam aqueles que vêm de outros países.

Por causa do Brexit, todos os funcionários estrangeiros destas sete equipes terão de viver às voltas com vistos de trabalho, sejam eles diretores (como Andreas Seidl, o alemão que vem reerguendo a McLaren), pilotos (como o espanhol Carlos Sainz), engenheiros e mecânicos.

Isso sem se falar nas barreiras alfandegárias. A cada saída da Inglaterra, os caminhões serão inspecionados, cada peça de seu carregamento deve ser registrada e avaliada. Na volta, se repetirá o processo.

Bom para a Ferrari, a Alfa Romeo e a Toro Rosso (ou Alpha Tauri), que mantêm suas bases na Europa continental. O que pode ser um atrativo a mais para quem trabalha em equipes com sede na Inglaterra e se sentir incomodado com as novas imposições do Brexit.

O futuro bate à porta

Aos 21 anos, Igor Fraga vem se consolidando como a mais recente promessa do automobilismo brasileiro. Depois de vencer duas das três corridas da etapa de Hampton Downs da prestigiosa Toyota Racing Series, o mineiro de Ipatinga assumiu a liderança do torneio, que ainda tem duas etapas de três corridas cada nas pistas da Nova Zelândia.

Fraga vem de uma carreira brilhante no kart, mas só ganhou notoriedade ao se sagrar campeão mundial de Grã-Turismo em jogos de computador. Sem contar com o apoio financeiro necessário para integrar equipes à altura de seu talento, ele se destacou ao se tornar o único piloto a enfrentar e vencer ocasionalmente a fortíssima equipe Prema, representante da Ferrari nas categorias de base, na Fórmula 3 Regional em 2019.

Neste início de ano, Fraga conta com o patrocínio dos jogos de computador Grã-Turismo para correr na Fórmula Toyota, que utiliza carros e pneus iguais aos usados na Fórmula Renault europeia.

Junto a ele está outra grande esperança brasileira, Caio Collet. O paulista, porém, não vem obtendo resultados condizentes com sua capacidade. Vencedor da primeira corrida da etapa de abertura, ele foi punido porque simulou largadas duas vezes em uma volta de apresentação e caiu para sétimo. Desde então, somou mais uma vitória, uma pole position e duas voltas mais rápidas. Igor tem duas vitórias, duas pole positions e duas voltas mais rápidas.

Caio já tem meio caminho andado em seu sonho de chegar à Fórmula 1. Já integrado à academia da Renault, ele tem a carreira dirigida por Nicolas Todt, o empresário mais poderoso da atualidade, em conjunto com Gastão Fráguas, que o descobriu no kart brasileiro e guia seus passos na Europa. Já Igor Fraga tem apoios esporádicos e conta apenas como seu talento, esforço e disciplina para chegar lá.

Ambos merecem mais. No linguajar do mercado financeiro, seriam vistos como "golden small caps", as ações que hoje estão baratas, mas têm um futuro de ouro.

Mais um Fraga, mais sucesso

Começou com pódio a nova fase de Felipe Fraga, o piloto do Tocantins que estreou na Stock Car com vitória. Foi em 2014, dois anos antes dele se sagrar o mais jovem campeão da categoria. Neste fim de semana, com 24 anos, Fraga estreou como piloto oficial da Mercedes-Benz em provas de Grã-Turismo e conquistou o segundo lugar nas 12 Horas de Bathurst, considerada a pista mais difícil do mundo.

Ele correu ao lado das estrelas Rafelle Marciello e Max Buhlk e se mostrou tão rápido quanto os companheiros - mas ao final da prova o trio teve o acréscimo de 30 segundos no tempo final e caiu para sexto. Isso porque, em uma parada extra para trocar um pneu furado nos 10 minutos finais, quando disputava a vitória com o Bentley de Jules Gounon, Maxime Soulet e Jordan Pepper, o experiente Marciello não desligou o motor, quebrando uma regra de segurança.