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Lito Cavalcanti

A Fórmula 1 está parada, mas nem tanto

Charles Coates/Getty Images
Imagem: Charles Coates/Getty Images

24/12/2019 04h00

Chega a semana do Natal e tudo parece parado na Fórmula 1. O noticiário, porém, traz uma informação que, posta em perspectiva, mostra que a batata de Sebastian Vettel está assando: o contrato de seu companheiro de equipe e arquirrival Charles Leclerc foi renovado até 2024, seu salário triplicado de três para nove milhões de euros por ano e, não escrito mas claramente subentendido, ele deixa de ser o futuro da Casa de Maranello para ser desde já o presente.

Vettel, como confirmado, permanecerá na Scuderia Rossa até o fim de 2020, como reza seu contrato — mas daí para a frente tudo que lhe resta é um ponto de interrogação. Segundo o chefe da equipe Mattia Binotto, a escolha dos pilotos para 2021 estará feita e definida até o Grande Prêmio da Espanha do próximo ano. Ou seja, o tetracampeão alemão terá apenas cinco etapas para provar que continuará a merecer uma vaga na Ferrari.

Isso, sem dúvida, terá consequências entre os pretendentes à sua substituição. Entre eles, destaca-se Daniel Ricciardo, que já teve seu nome cogitado pelos diretores anteriores, mas nunca foi sequer mencionado pelos atuais. Outros nomes surgem na maré de especulações, como Carlos Sainz, uma das estrelas em ascensão; outros são descartados não por falta de talento, mas pela pouca experiência. É o caso de Lando Norris.

Estranhamente, o nome que há duas semanas agitou o paddock, Lewis Hamilton, quase não é falado. Provavelmente porque a eventual contratação do chefe da Mercedes Toto Wolff foi, também de maneira especulativa, apontada como condição sine qua non para a mudança do hexacampeão inglês para Maranello. Wolff rejeitou enfaticamente a ideia, que realmente não parece se sustentar de pé.

Uma troca sem sentido

Por que o dirigente austríaco deixaria a equipe da qual é acionista, que ajudou a transformar de média em dominadora, para ser funcionário (mesmo que graduado) em outra — que, na soma de todos fatores, está em posição inferior à Mercedes? Por que trocaria um ambiente em que é querido e respeitado como líder absoluto para ingressar em um outro em que seria muito provavelmente contestado e visto como intruso? Pelo menos até agora, não há respostas para essas questões.

Isso, porém, é o panorama atual — e ele pode mudar bastante nos próximos meses. Na semana passada, em almoço com a imprensa internacional, a Ferrari acrescentou algumas informações relativas a 2020. Além do trabalho para ganhar mais potência em seu motor, o CEO da Ferrari, Louis Camilleri revelou um reforço de caixa suficiente para cobrir todos os investimentos necessários para a próxima temporada e, também, a de 2021, quando serão impostas novas regras e um limite de orçamento de 175 milhões de dólares.

Um dos investimentos mais altos será um novo simulador — acessório que ganha importância à medida em que crescem as restrições ao uso do túnel de vento e dos aplicativos de dinâmica de fluidos, os dois pilares da arquitetura aerodinâmica dos carros. E já confirmou a data em que apresentará seu novo carro: 11 de fevereiro, mais de uma semana antes do início da pré-temporada. Daí até o dia 19, o primeiro da pré-temporada, todas as horas serão dedicadas a testes de todos os equipamentos e às primeiras evoluções técnicas.

Por isso, já está a todo vapor o desenvolvimento de um perfil aerodinâmico que corrija as falhas deste ano. Ele tem como base as inovações introduzidas em Singapura, onde os carros vermelhos conquistaram uma vitória mais do que inesperada. Para isso, a Ferrari aposta pesado na incontestável competência do engenheiro Simone Resta, o responsável pelo carro de 2018, reconhecidamente o melhor daquele ano.

Resta esteve emprestado à Sauber-Alfa em 2019 para impulsionar a reestruturação da equipe suíça, então filiada a Maranello, para revigorar a marca Alfa Romeo. O primeiro semestre foi bem sucedido, mas quando ele foi chamado de volta para a Ferrari, em agosto, os resultados minguaram. Ao ponto de, na semana passada, o carro de 2020 ter sido reprovado no teste de resistência a impactos exigido pela FIA.

Movimentação na Red Bull e na Honda

Por seu lado, a Red Bull também se prepara para o próximo ano com um objetivo claro: passar de terceira força a competidora direta por pole positons, vitórias e, por que não, pelo título. Segundo Helmut Marko, que figura no organograma como assessor da equipe austro-inglesa mas é na verdade quem manda e desmanda, o trabalho do carro 2020 está duas semanas adiantado, o que é uma grande vantagem.

Isso significa tempo a mais para os engenheiros elaborarem e testarem com mais acuidade as peças e componentes, projetarem alternativas e evoluções que podem se mostrar necessárias desde os primeiros dias da pré-temporada. Haja vista a estratégia da Mercedes no início deste ano: o carro que iniciou os testes em Barcelona foi totalmente modificado para a segunda fase e acabou por dominar o ano. Só que neste ano, a pré-temporada será reduzida de oito para apenas seis dias, divididos em duas fases.

Mais que do carro e de sua eficiência mecânica e aerodinâmica, o que a Red Bull depende para se unir às duas principais concorrentes é de potência. A Honda sabe disso, e não poupa esforços nem ienes. E tem hoje um banco de dados infinitamente superior aos dos anos anteriores. Trabalhar com a Red Bull e a Toro Rosso lhe deu a oportunidade de duplicar e até triplicar a quilometragem coberta ano a ano desde seu regresso à F1, em 2015.

Para evoluir em todos os campos, o diretor técnico Toyoharu Tanabe solicitou a todos seus engenheiros (que são hoje o dobro do que eram em 2018) que lhe enviassem relatórios sobre tudo que lhes causou problemas ou preocupações nesta última temporada. É sua maneira de evoluir não só em termos de potência e resistência, mas também no campo de operações.

Outra equipe em plena atividade é a Renault, que joga sua cartada mais importante diante do novo quadro diretivo da montadora francesa. Sem a presença de Carlos Ghosn, o maior apoiador da volta à F1, a equipe precisa convencer os novos diretores das vantagens deste investimento. Para isso, foi ao mercado e contratou dois nomes com currículos pesados: o projetista inglês Pat Fry, que brilhou intensamente na McLaren do inicio do século mas não repetiu o bom trabalho nos cinco anos em que esteve na Ferrari, e o especialista em aerodinâmica Dirk de Beer, da África do Sul.

Um triunfo absoluto

Criada em 2018, a equipe KTF Racing vem causando certo espanto no automobilismo brasileiro. Vice-campeã da Stock Light em sua primeira temporada, ela fechou esse ano com o título da categoria e, também, com presença marcante na Stock Car V8, permitindo a seu principal piloto, Marcos Gomes, conquistar a pole position e um lugar no pódio na última corrida, em Interlagos.

Mas seu principal feito em 2019 talvez tenha sido o triunfo absoluto nas 500 Milhas de Kart da Granja Viana. Criada como festa em 1997, reunindo amigos em seu passatempo favorito, esta prova é hoje uma competição séria, que atrai pilotos de diversos outros países e que envolve investimentos pesados e, também, o prestígio das fábricas envolvidas neste setor.

Com nada menos de 65 karts e mais de 250 pilotos envolvidos, as 500 Milhas deste ano serviram como fecho de ouro para a KTF, que inscreveu oito karts e venceu todas as três categorias em que a corrida se divide, a A, que reúne os 20 primeiros colocados do grid; a B, que engloba os outros concorrentes; e a Light, reservada a karts de uma só marca, a Thunder, fornecidos pelos organizadores.

Para conquistar tal triunfo, a equipe reuniu pilotos como Sérgio Sette Câmara, o único brasileiro hoje em condições de ingressar na Fórmula 1, Diego Nunes, destaque da Stock Car, Guilherme Salas, campeão antecipado da Stock Light, Erik Mayrink, também da Stock Light, os irmãos Leonardo e Rafael Reis, ambos campeões brasileiros de kart, e Alberto Cattucci, que conquistou a pole position batendo nomes como Rubens Barrichello, Nelson e Pedro Piquet, o campeão mundial de kart de 1998 Ruben Carrapatoso, Felipe Massa, Lucas di Grassi, Caio Collet, entre outros de igual grandeza.

A KTF foi idealizada e é liderada por Enzo Bortoletto e contou nesta prova com seu irmão Gabriel, de 15 anos, que foi o terceiro colocado na categoria OKJ do campeonato mundial de kart de 2018. Gabriel vai estrear no automobilismo em 2020, correndo pela premiadíssima equipe Prema nos campeonatos italiano e alemão de Fórmula 4. Vale a pena ficar de olho em Gabriel e, também, na equipe KTF.