Eu preciso confessar que nutri simpatia por esses caras depois de conviver e conversar com eles por alguns dias.
É preciso dizer também que jornalistas esportivos em geral têm um pé atrás em relação a torcedores organizados – assim como torcedores organizados em relação a jornalistas esportivos.
A história está cheia de episódios de violência (simbólica e física) entre os dois grupos.
Mas em todos os nossos encontros e conversas por telefone, os torcedores da Rasta Alviverde foram respeitosos e contaram tudo o que puderam sobre sua relação com a maconha, um tema sensível para muitas pessoas.
Na última vez que nos vimos, três deles estavam na expectativa de conseguir ir ao Uruguai onde o Palmeiras estrearia na Libertadores contra o River Plate local.
Além do jogo em si, eles se empolgavam com a possibilidade de fumar maconha em público sem constrangimento.
No Uruguai a maconha está legalizada e o governo pretende começar a vendê-la em farmácias a partir de agosto. Nos EUA, quatro Estados já liberaram o uso recreativo, criando uma grande indústria de produtos derivados da maconha.
Mais de 20 outras nações optaram por descriminalizar a erva ou adotaram uma política tolerante em relação a ela.
Um dia, Diego me disse que a postura de abrir o jogo em relação ao assunto era um gesto de militância, de ativismo.
"Assim como nos anos 80 quem era gay tinha que sair e falar na frente da câmera que era gay, agora quem é maconheiro tem que dar a cara a tapa, senão a gente vai ficar sempre marginalizado."
Mas, depois de uma possível legalização, o grande desafio será a regulamentação.
Quem poderá produzir, vender e comprar maconha? Em até qual quantidade? Onde será possível fumar? Por qual o preço? A partir de que idade? Como conciliar questões de liberdade pessoal com questões de saúde pública e segurança?
A torcida Rasta Alviverde não discute esses temas. Eles só querem ficar chapados e torcer pelo Palmeiras em paz.
Esse tipo de pergunta, como a fumaça, se perde no ar.