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01/07/2006 - 17h51

Carrasco Zidane faz o Brasil chorar pela segunda vez

Daniel Tozzi e João Henrique Medice
Enviados especiais do UOL
Em Frankfurt (Alemanha)

CENAS DO JOGO

Reuters

Zidane dominou o meio-campo

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Henry aproveitou o cruzamento...

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...e fez o gol da vitória

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Zidane festejou com Vieira

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Malouda sai à frente de Juan

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Makelele antecipa-se a Ronaldo

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Kaká esteve apagado em campo

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Juninho cobrou falta para fora

Zidane estava em dia de Zidane. E um dos últimos moicanos do futebol criativo e imprevisível bateu o Brasil "de resultados" de Parreira, cujo lema era "show é ganhar". O camisa 10 francês desequilibrou, levou a França à vitória de 1 a 0 neste sábado, em Frankfurt, e consolidou seu papel de um dos maiores carrascos do futebol brasileiro, ao lado do uruguaio Ghiggia, autor do gol que derrotou o Brasil no Maracanã na Copa de 1950.

O grande craque francês foi eleito o melhor em campo pela Fifa. Além de eliminar o Brasil do "quadrado mágico" nas quartas-de-final da atual Copa, Zidane já havia aniquilado a seleção verde-amarela na final da Copa de 1998, com dois gols de cabeça.

A França também amplia uma superioridade que outras grandes seleções não têm em relação ao Brasil: agora são três triunfos em jogos decisivos (quartas em 1986, final em 1998, quartas em 2006) contra um único do Brasil (semifinal em 1958).

O gol saiu aos 12min do 2º tempo, com Zidane cobrando uma falta da esquerda e Henry aparecendo livre para desviar para o gol.

O lance insólito no momento do cruzamento: Roberto Carlos, que deveria estar acompanhando Henry, ficou parado na entrada da área arrumando uma de suas meias. Quando foi saber o que estava acontecendo, os franceses já comemoravam.

Nas semifinais, a França enfrenta Portugal na quarta-feira, às 16h (horário de Brasília), em Munique. Quem vencer, decidirá o título no domingo, dia 9, em Berlim, contra o vencedor de Alemanha x Itália (que acontecerá na terça-feira).

"Nós precisávamos de um grande jogo e merecemos tudo isso. Nós sabíamos que tínhamos de ser fortes fisicamente e assim fomos", comentou Zidane após a vitória sobre os pentacampeões. "Lutamos muito e merecemos a vitória. Agora, tentaremos um lugar na final. Não queremos parar. Isso tudo é muito bonito e queremos ir além".

O Brasil deu seu primeiro chute a gol digno do nome aos 39min do 2º tempo, numa tentativa de Ronaldo, que mais uma vez acabou derrotado pela França do amigo Zidane.

Até então, todos os esboços de ataque brasileiros foram de uma desorganização que não ofereceu perigo maior para o goleiro Barthez. No desespero, ainda tentou o empate até o apito final. A melhor chance foi num chute de Ronaldo que Barthez rebateu aos 45min.

A tentativa do hexa fica para 2010, na África do Sul, com uma nova geração em algumas posições fundamentais. A seleção brasileira volta para casa. Ou seja, cada jogador vai para sua casa no país em que joga. Para o Brasil, só voltam mesmo os são-paulinos Rogério Ceni e Mineiro, e o corintiano Ricardinho, todos reservas.

O técnico Carlos Alberto Parreira compareceu à entrevista coletiva e admitiu falhas que acarretaram na eliminação.

"Faltou mais preparação na parte física e mais entrosamento", disse Parreira, que não quis antecipar se continuará no comando da seleção ou se deixará o cargo. "Não estou pensando nisso. Só vou resolver quando voltar ao Brasil".

Os jogadores só começaram a falar uma hora após a partida, sendo bem lacônicos em suas delarações. Ronaldo foi o primeiro a aparecer.

"Não faltou atitude. Estou orgulhoso do nosso esforço. Mas estamos muito tristes com a derrota", falou Ronaldo, em breve entrevista. Já Dida bateu na surrada tecla do adversário retrancado, "com nove atrás", como se a França não tivesse dominado as ações e feito as jogadas mais objetivas.

No 1º tempo, o Brasil esboçou alguma rapidez maior nos toques nos primeiros dez minutos, embora sem criar uma chance nítida de gol. Porém, o fôlego e a organização do time alterado parece ter acabado aí.

A França, que começou mais recuada e com uma marcação compacta passou a se aproveitar da falta de mobilidade do meio-campo (onde Kaká estava irreconhecível, com uma atuação apática) e do ataque brasileiro.

Para melhorar a situação francesa, Zidane estava inspirado, organizando o meio-campo, abrindo espaço com dribles curtos e fazendo lançamentos venenosos que encontravam brechas na retaguarda brasileira.

Com 20 minutos de jogo, a França já tinha domínio total das ações, sobrecarregando a defesa brasileira, em que Lúcio e Juan se desdobravam para cuidar dos avanços franceses. Aos 26min, Lúcio teve de fazer sua primeira falta na Copa, três minutos depois de superar a marca invicta do zagueiro paraguaio Gamarra na Copa de 1998. Curiosamente, Gamarra completou 383 minutos sem faltas numa derrota para a França.

Faltou mais preparação na parte física e mais entrosamento

Carlos Alberto Parreira, técnico do Brasil
Aos 44min, Zidane deu dois lindos dribles curtos no meio do campo num início de contra-ataque e lançou Vieira, que corria livre no meio. Juan fez uma falta por trás criminosa para matar a jogada e o cartão amarelo que levou ficou barato.

A afobação brasileira se refletiu na seqüência, na cobrança da falta: Ronaldo, na barreira, desviou a bola com a mão. Apesar de o toque ter sido dentro da área, o juiz espanhol Luis Cantalejo aliviou outra vez, marcando falta na meia-lua.

A péssima apresentação brasileira no 1º tempo não parece ter assustado Parreira, que manteve a escalação para o 2º tempo. O que estava ruim só piorou.

Nós precisávamos de um grande jogo e merecemos tudo isso. Lutamos muito

Zidane, craque da França
Logo aos 40 segundos, Vieira já cabeceava sozinho dentro da área brasileira. Aos 8min, a França fez um gol corretamente anulado por impedimento múltiplo de seus atacantes.

Mas, aos 12min, Zidane deu seu golpe ceriteiro. Cobrou falta da esquerda, buscando Henry livre no lado direito de uma área em que três brasileiros marcavam cinco franceses. Sozinho, Henry chutou de direita e fez o gol francês.

A França manteve-se mais perigosa, com Ribéry perdendo chances aos 15min (quando Juan desviou e quase fez gol contra, mas a bola passou a centímetros da trave) e 24min (escapou sozinho sem ninguém acompanhando e só foi desarmado por Dida).

Desarrumado, grogue, sem reação, o Brasil não conseguia armar uma jogada mais perigosa. Parreira apelou para a formação antiga, tirando Juninho e colocando Adriano aos 18min. Nenhuma diferença. O time continuou um caos.

A segunda substituição (Cicinho no lugar de Cafu) veio aos 31min do 2º --ou seja, muito tarde. Lento, errando passes e mal colocado, Cafu finalmente acusou o peso da idade nesta Copa e foi bem explorado pelos franceses.

Aos 33min, a última cartada: Parreira colocou Robinho no lugar de Kaká. Mas, àquela altura, o descontrole da equipe já era grande demais para que Robinho mudasse a cara do jogo. As chances que aconteceram fora mais de "abafa" que jogadas pensadas.




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