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Flamenguista Kevin Kuranyi sonha marcar gol e derrotar o Brasil na final da Copa

Jogador do Schalke 04, que nasceu no Rio de Janeiro, tem ilusões de virar herói da Alemanha no Mundial. Mas, para isso, deve correr contra o tempo para se recuperar de uma lesão. Atacante conta com promessa do técnico Jürgen Klinsmann para participar do evento

Bruno Freitas
Enviado especial do UOL
Em Gelsenkirchen (Alemanha)

O que uma das principais esperanças de gol da seleção alemã na Copa tem em comum com os atacantes brasileiros Ronaldo e Adriano? Todos eles nasceram na mesma cidade, o Rio de Janeiro.

O "intruso" brasileiro na equipe alemã é Kevin Kuranyi, que briga para se recuperar de uma lesão no joelho esquerdo para poder integrar o time do técnico Jürgen Klinsmann no Mundial. "Conversei longamente com o treinador esses dias. Ele me falou que, se eu estiver recuperado, jogo a Copa", revela o atacante.

No começo do mês Kuranyi foi submetido a uma cirurgia no joelho esquerdo, para a reconstrução de parte da cartilagem do menisco. A expectativa é que o atacante permaneça cerca de um mês fora do futebol. "Estou batalhando duro, com ajuda também dos médicos da seleção. Devo voltar a treinar na próxima semana", conta.

Estrela do Schalke 04, o jogador confia estar em condições físicas para fazer história na competição pela seleção anfitriã, fazendo, num esboço imaginário, um duelo épico decisivo contra a pátria onde nasceu e com a qual mantém fortes raízes até hoje.

Na Copa dos sonhos de Kuranyi, a Alemanha chega à decisão mais uma vez contra o Brasil, assim como em 2002. Mas, para o jogador do Schalke 04, o enredo teria um desfecho diferente daquele escrito há quatro anos na Ásia. Na cabeça do atacante, o Mundial perfeito acabaria com um gol seu dando o título aos anfitriões.

"A intenção é chegar na final para ganhar. Ganhar numa final contra o Brasil, quem sabe? Quero marcar o gol do título. Seria difícil, por tudo que me lembra o Brasil, meus amigos de lá. Mas quero ser campeão", diz Kuranyi, fã de Romário e torcedor do Flamengo.

O atacante que hoje carrega o número 22 do Schalke 04 se iniciou no futebol nas categorias de base do Serrano, time do interior do Rio de Janeiro. Depois, Kuranyi deixou a cidade de Petrópolis para defender o Las Promesas do Panamá, terra natal de sua mãe, antes de mudar definitivamente para a Alemanha com o pai e cavar um lugar na equipe Sub-16 do Stuttgart.

Ao marcar 15 gols em 32 jogos em sua temporada de estréia na Bundesliga, com a camisa do Stuttgart, Kuranyi conseguiu chegar à seleção alemã. Integrante da equipe que disputou a última edição da Copa das Confederações, o atacante acabou se afirmando no grupo de Klinsmann. Além de superar a lesão, terá de brigar pela titularidade com outros companheiros.

LEGIÃO BRASILEIRA

AFP

A "brasilidade" do Schalke 04 não se limita a Kevin Kuranyi. A equipe de Gelsenkirchen, cidade essencialmente operária do Noroeste alemão, conta ainda com três jogadores do Brasil. Um deles é o zagueiro Bordon, ex-São Paulo, que antes teve boa passagem pelo Stuttgart.

No meio-campo, o Brasil é representado por Lincoln (foto). O ex-armador do Atlético-MG atravessa bom momento na Bundesliga e até se ofereceu para defender a Alemanha. A oferta, no entanto, foi descartada pelos dirigentes locais.

O último dos brasileiros do Schalke 04 é o lateral-direito Rafinha, revelação recente do Coritiba. Há pouco mais de seis meses da Alemanha, o jovem se diz deslumbrado com a estrutura alemã.

"Vixe maria, a estrutura daqui é boa demais. Tudo é muito organizado. Tenho certeza de que eles (alemães) farão a melhor Copa de todas", comenta o lateral brasileiro.

Leia a entrevista que o atacante da seleção alemã concedeu, em português, ao UOL Esporte na sede do Schalke 04, na cidade de Gelsenkirchen:

UOL Esporte: Pelo fato de ter nascido no Brasil e começado sua vida no futebol brasileiro, você recebe alguma espécie de cobrança maior na seleção, em relação aos outros jogadores?
Kevin Kuranyi: Não, o tratamento é igual. Aqui eles esperam o mesmo de todos os jogadores, sem nenhuma diferença. Querem apenas que dê o seu melhor, o máximo.

UOL Esporte: Você viveu um grande momento no Stuttgart e hoje está num período mais difícil no Schalke 04. Com esse quadro, como está hoje a briga para ser titular na seleção?
Kevin Kuranyi: O Klose (Werder Bremen) está num momento bom, metendo muitos gols. Acho que está um pouco à frente dos demais. Mas eu brigo para jogar com outros jogadores, como o Podolwski (Colônia), o Neuville (Borussia Mönchengladbach) e o Asamoah, meu companheiro de time. Não estou num momento favorável, é verdade, mas espero melhorar até a Copa.

UOL Esporte: Como é sua relação na seleção com o Klinsmann (técnico e ex-atacante, campeão mundial em 1990)?
Kevin Kuranyi: É de muita confiança. Logo na estréia dele, vencemos um amistoso por 3 a 0, com três gols meus. Ele confia bastante no meu futebol.


UOL Esporte: Tem conversado com o treinador da seleção nesse período em que se recupera de contusão? Suas chances de ir à Copa estão comprometidas?
Kevin Kuranyi: Conversei longamente com o treinador esses dias. Ele me falou que, se eu estiver recuperado, jogo a Copa. Acho que minhas chances são grandes.

UOL Esporte: E o que pode-se esperar da Alemanha na Copa?
Kevin Kuranyi: Jogar em casa ajuda. A torcida vai apoiar muito. A intenção é chegar na final para ganhar. Ganhar numa final contra o Brasil, quem sabe? Quero marcar o gol do título. Seria difícil, por tudo que me lembra o Brasil, meus amigos de lá. Mas quero ser campeão.

UOL Esporte: Não seria uma experiência inédita para você. Você já marcou um gol contra o Brasil?
Kevin Kuranyi: Sim, joguei duas vezes contra o Brasil. Num amistoso em Berlim, empatamos por 1 a 1. Eu fiz o gol da Alemanha. Depois, na Copa das Confederações, perdemos por 3 a 2.

UOL Esporte: Na sua opinião, quais são os principais favoritos ao título na Copa?
Kevin Kuranyi: O Brasil é o número 1. Mas a Argentina tem um time muito forte. França, Itália e Holanda também são fortes.

AFP

Lesão é obstáculo no caminho ao Mundial

UOL Esporte: O que a Alemanha, na organização da Copa, tem a oferecer ao mundo agora em 2006?
Kevin Kuranyi: Acredito que será a melhor Copa de todas, pela organização. Tudo está indo muito bem. Temos pessoas bem preparadas e estádios bonitos.

UOL Esporte: Como se definiu na sua cabeça a opção por defender a Alemanha?
Kevin Kuranyi: Eu tinha 19 anos e estava no time juvenil do Stuttgart. O técnico Felix Magath, que hoje está no Bayern de Munique, me convenceu que era a melhor escolha. Conversou com minha família e tudo. Cheguei a ter propostas de jogar pela Hungria, por causa de um avô meu, e pelo Panamá, pela minha mãe. Mas decidi pela Alemanha.

UOL Esporte: E pelo Brasil? Nunca cogitou lutar para defender a seleção brasileira?
Kevin Kuranyi: Seria mais difícil. O Brasil tem grandes jogadores. Pode montar facilmente dois times bons.

UOL Esporte: E jogar no futebol brasileiro? Essa idéia passa por sua cabeça?
Kevin Kuranyi: Meu time é o Flamengo. Fui ver o time no estádio quando era criança algumas vezes. Tenho esse sonho de jogar lá. Quem sabe no final da minha carreira?

UOL Esporte: Já teve alguma proposta para atuar num outro país que não seja a Alemanha?
Kevin Kuranyi: Tive proposta do Lyon (França) quando estava no Stuttgart. Mas fixei na minha cabeça que precisava ficar na Alemanha até a Copa pelo menos.

UOL Esporte: Por fim, qual o seu grande ídolo no futebol?
Kevin Kuranyi: O Romário. Sempre foi ele. É uma referência como atacante.

Publicado originalmente em 14 de março de 2006

SELEÇÕES

Conversei longamente com o treinador (Klinsmann) esses dias. Ele me falou que, se eu estiver recuperado, jogo a Copa


Kevin Kuranyi,
atacante do Schalke 04 e seleção alemã

FICHA DE KURANYI


    Nome completo:
    Kevin Kuranyi
    Posição: atacante
    Nascimento:
    2 de março de 1982, no Rio de Janeiro (RJ)
    Peso: 80 kg
    Altura: 1,90 m
    Clubes:
    Serrano-BRA (1988-96), Las Promesas-PAN (1996-97), Stuttgart-ALE (1997-2005), Schalke 04-ALE (2005-2006)

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    Um indício de que o técnico Jürgen Klinsmann conta com Kuranyi para a disputa da Copa foi uma iniciativa de marketing de um dos patrocinadores do Mundial na Alemanha. A Coca-Cola lança ainda neste mês de março latas com imagens de 16 jogadores da seleção anfitriã. O atacante do Schalke 04 é um dos homenageados.

    Harald Stenger, porta-voz da DFB, (sigla para Federação Alemã de Futebol) afirmou que a lista da Coca-Cola é apenas um palpite. No entanto, a multinacional norte-americana divulgou que só escolheu os 16 jogadores depois de apresentar uma pré-relação a Oliver Bierhoff, gerente da seleção da Alemanha.