Na primeira Copa do Mundo, o Brasil nem de longe demonstrou que um dia seria a potência que é hoje no esporte. A seleção chegou ao Uruguai para a disputa do Mundial dividido e sem forças para lutar pelo título. A causa do racha era a briga entre paulistas e cariocas.
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O primeiro herói
Fausto encantou a imprensa presente ao Uruguai pela elegância no trato com a bola. Devido ao futebol que apresentou, ganhou o apelido de "Maravilha Negra".
Começou a carreira como centroavante no Bangu, mas foi no Vasco, como meia, que conquistou o respeito dos torcedores.
Ele assinou contrato com o Barcelona, sendo logo emprestado ao Young Fellows, da Suíça, mas manifestações de racismo o obrigaram a voltar.
Boêmio, Fausto jogou pelo Nacional de Montevidéu e Flamengo antes de ser internado. Debilitado pela tuberculose, morreu em 1939, distante de familiares e amigos, com apenas 34 anos.
Capital do Brasil na época do Mundial, o Rio de Janeiro era o grande centro financeiro, social, cultural e artístico. Mas com a economia brasileira baseada no café, São Paulo crescia rapidamente e assumia o comando político do país.
A rivalidade crescente acabou se refletindo no futebol. A divergência entre a CBD, essencialmente carioca, não convidou membros da Associação Paulista de Esportes Atléticos (Apea) para tomar parte da comissão técnica que iria ao Uruguai. Em retaliação, a Apea não permitiu que clubes de São Paulo liberassem jogadores à seleção.
Sem poder contar com craques como Friedenreich, Feitiço e Del Debbio, a seleção brasileira fez uma campanha medíocre na primeira Copa do Mundo da história.
Logo na primeira partida foi derrotada pela Iugoslávia por 2 a 1. Nesse jogo, o Brasil sofreu dois gols no primeiro tempo e, apesar de ter conseguido descontar na etapa final com Preguinho, não teve forças para obter a virada.
A rivalidade dentro do país era tanta que, ao saber da derrota dos "cariocas" para a seleção iugoslava, uma pequena multidão aglomerou-se em frente aos jornais paulistas para comemorar a provável desclassificação do Brasil no Mundial.
Quando entrou em campo para a segunda partida, diante da Bolívia, a seleção brasileira já estava eliminada da Copa do Mundo, porque três dias antes os iugoslavos haviam goleado os bolivianos.
Assim, sem compromisso, o Brasil conseguiu a sua primeira vitória na história do Mundial: 4 a 0, com dois gols de Moderato e outros dois de Preguinho.
Além da divisão entre Rio e São Paulo, a falta de experiência internacional e o rigoroso inverno uruguaio também foram apontados como causas do mau desempenho do Brasil.
A famosa "tremedeira" de alguns jogadores diante dos zagueiros iugoslavos também foi imensamente divulgada na época da desclassificação precoce.
Além disso, ficou evidente a falta de preparação física dos brasileiros, que ficou ainda pior graças à desgastante viagem de 15 dias de navio a Montevidéu, no Uruguai.
Durante a curta estadia da seleção no Mundial, um jogador destacou-se: o zagueiro Fausto, do Vasco, que ganhou o apelido de "Maravilha Negra", pelo futebol elegante apresentado.