"Pelo que apresentamos, o 4º
foi fenomenal", diz Luís Pereira

Por Pedro Cirne

A seleção brasileira chegou à Copa de 74 como campeã mundial e uma das favoritas. Em campo, só conseguiu fazer o primeiro gol no terceiro jogo, contra a fraca equipe do Zaire. Conseguiu o quarto lugar e deixou o torneio muito criticada. Um dos poucos a se salvar, o zagueiro Luís Pereira diz que houve foi o excesso de expectativa: o elenco não era aquilo tudo que esperava-se dele.

A entrevista foi feita antes do Mundial de 2002, em meio às dúvidas sobre o desempenho do Brasil de Felipão que, por fim, conquistaria o pentacampeonato mundial.

A seleção que disputou a Copa de 1974 tinha um grande elenco. Leão no gol, Luís Pereira na zaga, Rivelino e Jairzinho na frente... Por que essa seleção não engrenou?
Eu acho que a seleção que jogou em 1970 era quase perfeita, e as pessoas esperavam em 1974 uma equipe quase tão agressiva. Mas não teve os jogadores necessários pra isso. Até tinha jogadores para poder jogar mais ofensivamente, mas, por uma opção tática, eles não foram escalados. O quarto lugar foi o que merecemos.

A seleção chegou à Alemanha com o título de campeã mundial e saiu de lá com o quarto lugar. Qual foi a avalição feita pelos jogadores brasileiros na época?
Bom, eu vou falar por mim. Pelo que o Brasil apresentou, o quarto lugar foi fenomenal. Eu sou um cara muito consciente. Isso pode até magoar alguns jogadores, mas é isso mesmo: só merecíamos um terceiro ou um quarto lugar.

A imprensa brasileira publicou na época queixas de jogadores de que empresários teriam freqüentado a concentração para tentar levar atletas brasileiros para os clubes europeus. Isso prejudicou a seleção?
Sim, prejudicou muito. Automaticamente, esse jogador, inconscientemente ou não, já vai mais devagar em uma disputa. Nós tínhamos uma comissão técnica que teria que ter tido a capacidade de ver isso, de impedir essa gente lá na delegação.

Depois do começo da Copa, só se falava na Holanda e em seu "carrossel". Houve uma preparação especial para enfrentá-la? O Brasil conhecia seu adversário?
Nós assistimos a todos os jogos pela TV. Mas não houve uma orientação especial. Era muito difícil. Justamente porque era um carrossel, tínhamos que tomar cuidado com todos os seus jogadores. E, contra nós, a Holanda realmente foi superior. Bom, no início do jogo o Brasil ainda foi melhor, mas é como diz o velho chavão: quem não faz o gol, toma.

E qual foi sua partida inesquecível nesta Copa?
Foi justamente a contra a Holanda. O Brasil teve capacidade de vencer, mas talvez por falta de atenção, nós perdemos. Foi um bom jogo, e nós, atletas, aprendemos muito.

Você agora está na Espanha, treinando o Atlético de Madri B. Está observando mais de perto o futebol europeu. Quais são seus palpites para esta Copa de 2002?
É difícil. Não é porque eu sou brasileiro que eu vou achar que o Brasil será campeão. Eu até acho. Mas tem também Portugal, que está ressurgindo, a Espanha, por sua forte seleção. Tem a Alemanha, que embora tenha se classificado pela repescagem é sempre forte. E tem a Inglaterra. Eu acho que virá uma surpresa dos africanos. E, juntamente com o Brasil, temos que colocar automaticamente a Argentina.


Arquivo Folha Imagem



Nome: Luís Edmundo Pereira
Data de nascimento: 21/6/1949
Local: Juazeiro (BA)

Clubes: Botafogo-SP (1966 a 1968), Palmeiras (1968 a 1975), Atlético de Madri-ESP (1975 a 1980), Flamengo (1981), Palmeiras (1981 a 1985), Portuguesa (1985), Santo André-SP (1986 e 1987), Corinthians (1987), Santo André-SP (1988), São Caetano (1989 a 1991), Central de Cotia-SP (1992), São Bernardo-SP (1993) e São Bento-SP (1994)
Títulos: Campeão paulista (1972 e 1974), brasileiro (1972-73) e do Robertão (1969) pelo Palmeiras, espanhol pelo Atlético de Madri (1977)

Feitos: Colecionou apelidos pela carreira - foi King Kong e Chevrolet no Palmeiras, e "El Mago" no Atlético de Madri. Pelo Palmeiras, disputou 562 partidas em 11 anos, e marcou 34 gols. Fez 38 jogos pela seleção brasileira, sendo seis deles na Copa de 1974