Yara Fantoni

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Opinião

Mirassol de Guanaes: a permanência que tem cara de projeto

Quem poderia imaginar que a essa altura do Campeonato Brasileiro, Mirassol já teria 46 pontos, ocuparia o 4º lugar e faria o restante do ano com foco em vaga na Libertadores, não na permanência da Série A. Um feito que diz tanto sobre o clube quanto sobre o treinador Rafael Guanaes, o técnico que trocou o discurso fácil do "resultado a qualquer custo" por uma palavra que o futebol brasileiro costuma atropelar: processo.

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Guanaes tem um recado claro e, sim, é também um puxão de orelha no nosso velho complexo de vira-lata. "Se eu fosse espanhol, talvez fosse mais valorizado", diz quem saiu da última divisão paulista e hoje comanda um time que joga de peito aberto contra qualquer um. Ele bebe em Guardiola, Abel, Diniz, Ancelotti, Simeone e vai para técnicos de outros esportes, como Bernardinho e até Phil Jackson e Steve Kerr. Não para copiar, como ele diz: "o bolo sempre sai com gosto diferente", mas para lapidar uma ideia própria: pressão e posse, intensidade e versatilidade, repertório para se adaptar sem trair a identidade.

A virada de chave está nos detalhes que ninguém vê na segunda-feira. Guanaes fala de "padrões de desempenho antes do placar", de treino que simula lateral cobrado, ele fala nesse caso da tal bola que virou gol e mudança de roteiro num jogo emblemático contra o Botafogo. Ajuste fino no intervalo, uma substituição só, correções de pressão e ocupação de zona, e o Mirassol voltou do vestiário com convicção para sair de 3 a 0 para 3 a 3. É a tal fidelidade ao que é inegociável no modelo. Quando fere princípio, ele se incomoda. Quando sustenta a ideia, o time cresce.

Com 46 pontos e no G-4, o Mirassol cumpre a meta que definia "temporada de sucesso": permanecer na Série A. E faz mais: mira a Libertadores. "Sonhar é de graça", lembra o treinador. A chave, diz ele, é gestão de expectativas: manter o nível do desempenho para que a tabela seja consequência, não fetiche. É onde muito gigante tropeça quando os holofotes esquentam.

Guanaes não esconde a ambição. Estuda inglês e espanhol ("se a porta abrir, quero corresponder"), cita Ancelotti e o livro do técnico italiano para reforçar que gestão também é tática. Ao mesmo tempo, não abdica do nosso sotaque: quer que a gente reconheça o valor do treinador brasileiro, do jogador brasileiro, da imprensa brasileira que faz jornalismo de verdade. O recado serve a nós e ao mercado: há projeto, método e resultado brotando fora do eixo previsível.

O Mirassol, que garantiu vaga na elite com antecedência, é a prova viva de que dá para derrubar gigantes sem perder a ternura da ideia. O clube modernizou estádio, montou CT, estruturou departamento, e o treinador costurou tudo isso no campo com uma equipe que coopera, corre e pensa. Pode não dar para ser campeão num ambiente de disparidades, mas dá, e está dando, para competir de igual para igual. E quando a performance é focada em resultados e, principalmente no bom processo, o céu não é o limite: é só mais uma referência no mapa.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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