Yara Fantoni

Yara Fantoni

Siga nas redes
Só para assinantesAssine UOL
Opinião

Olhares atentos sobre detalhes de Ancelotti na estreia pela seleção

A chegada de Carlo Ancelotti à seleção brasileira trouxe esperança e credibilidade para um projeto que vinha de técnicos interinos com Ramon Menezes e Fernando Diniz ou a contratação sem tanta convicção de Dorival Junior. Mas, além do fato de ser multicampeão por onde passou e de tudo que envolve o comandante, destaco que, acima de tudo, o italiano transmite uma serenidade de ser especialista em "escutar" silêncios.

Nos bastidores, onde a câmera não chega, ele não grita loucamente. Seu poder está justamente na ausência de urgência. Isso, para nós, acostumados ao barulho ensurdecedor do "vamo, vamo!", da cobrança calorosa, do dedo em riste, pode soar diferente, mas entendo que Ancelotti carrega o dom raríssimo de transformar o ambiente sem fazer barulho.

Carlo Ancelotti, técnico do Brasil, durante jogo contra o Equador nas Eliminatórias
Carlo Ancelotti, técnico do Brasil, durante jogo contra o Equador nas Eliminatórias Imagem: Santiago Arcos/REUTERS

Claro que muita coisa precisa ser feita e ele tem que correr contra o tempo pensando na Copa 2026. Mas considero que Ancelotti enxerga o futebol como quem entende de vinho: não é sobre o rótulo, é sobre o tempo, o clima, o cuidado na colheita. Não se treina improviso, não se ensina ginga. Mas se cultiva o ambiente para que o improviso floresça.

É curioso ver um italiano, com a compostura de um maestro da ópera, conduzir um samba, resta saber como o tempo fará o som dessas notas. Ele sabe que aqui no Brasil, o ritmo não vem da partitura e, sim, vem do peito. E é aí que ele ganha o grupo: não querendo ser brasileiro, mas entendendo o que faz do brasileiro alguém que ainda pode ser imbatível com uma bola no pé.

Carleto tem tanto nome que não precisa dizer que é líder. Basta olhar o banco: os jogadores escutam quando ele sussurra. O que precisa ficar claro que o Brasil não precisa de um salvador. Precisa de alguém que nos permita ser quem somos, sem medo de errar. As três palavras frisadas por ele em sua coletiva de apresentação é que vão determinar o sucesso disso: atitude, compromisso e sacrifício. É preciso entrar nessa trinca para sonhar alto.

Por isso, talvez o maior legado de Ancelotti à seleção não será um título, embora isso também seja possível. Será o retorno a uma paz interna que há muito se perdeu. Uma tranquilidade quase invisível, mas essencial. Porque, às vezes, o que muda tudo é só alguém entrar na sala e deixar as janelas abertas para a luz estar no ambiente.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

Deixe seu comentário

O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.