Para vencer, Raphinha precisou sobreviver
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Estou em Milão para acompanhar a semifinal da Liga dos Campeões. E só tenho uma certeza depois do jogo emocionante na ida com o empate por 3 a 3 entre Barcelona e Inter de Milão: o brasileiro Raphinha sempre entra em campo nesses grandes palcos da bola com uma história linda e vencedora de sobrevivência que poucos conhecem. Assim como muitos jovens brasileiros, ele precisou superar muita coisa para brilhar no mundo do futebol e deixar sua marca num dos maiores times do mundo.

Na Restinga, bairro periférico de Porto Alegre, nasceram os primeiros dribles. Mas antes de encantar o mundo com sua habilidade, Raphinha teve que enfrentar a realidade nua e crua da várzea. Jogava com medo. Não do adversário, mas dos tiros. Das ameaças de morte. Da fome. Da exclusão.
Foi rejeitado por ser "magro demais". Por "não ter força". Viu amigos se perderem para o crime. Sentiu na pele o preconceito de quem olha um garoto suado na rua e pensa que é ladrão. Pediu lanche. Chorou por não ter passagem. Mas nunca deixou de sonhar.
Teve duas famílias. A de casa. E a da rua. Foi o apoio entre amigos que o manteve de pé. Um dividia comida, outro emprestava o cartão do ônibus. Todos sabiam: o futebol era a única chance.
A mãe, guerreira incansável, disse que ele podia voltar. Mas teria que arrumar um emprego. Barbeiro, talvez. Foi o empurrão que faltava. Ele ficou. E brilhou.
Jogou no Avaí, passou por Portugal, França e Inglaterra. Enfrentou o medo, quase perdeu a capacidade de jogar numa pancada forte de um adversário. Voltou antes do esperado. Suportou a dor. Marcou um gol de falta com a camisa dedicada à mãe do Ronaldinho - seu maior ídolo de infância, que um dia o pegou no colo numa festa.
Hoje, veste o Barcelona. É nome de seleção brasileira. Carrega o estilo leve de quem sorri com a bola no pé. Mas atrás de cada jogada, há um peso. O peso de quem sobrevive para jogar.
Raphinha não é só talento. É resistência. É emoção pura. É a prova de que a várzea forma muito mais do que craques, forma gigantes que se superam a cada jornada.
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