Enquanto o Brasil procura um técnico, clubes da La Liga formam os seus
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Enquanto o Brasil ainda discute quem deve ser o novo técnico da Seleção Brasileira, na Espanha o foco parece estar em um ponto muito mais profundo: formar seus próprios treinadores — e mais do que isso, formar pessoas. É o que estou vendo de perto nessa viagem a convite da La Liga, ao lado de jornalistas e comunicadores esportivos do mundo todo, em visita aos clubes Real Sociedad e Osasuna.

Dois clubes que talvez não estejam no centro dos holofotes midiáticos como Real Madrid e Barcelona, mas que ensinam lições valiosas sobre estrutura, identidade, e sobretudo, sobre formação.
No Brasil, a CBF ainda não apontou um nome definitivo para o comando da Seleção. Enquanto isso, o Real Sociedad, clube que revelou Xabi Alonso - craque nos tempos como jogador e atual técnico campeão da Bundesliga pelo Bayer Leverkusen na edição 2024/205 -, continua formando seus próprios profissionais, dentro de casa, com um projeto estruturado e duradouro.
"Mais de 60% do elenco profissional precisa ser formado aqui. Não é apenas sobre futebol. É sobretudo a respeito de formar pessoas que representem nossos valores", afirmou Luki Iriarte, diretor de futebol educacional do Real Sociedad.

O resultado está em campo: o clube não conta à toa em seu histórico com a passagem de talentos como Griezmann, Isak, Illarramendi e Willian José (hoje no Bahia), como também forma líderes — jogadores e treinadores que sabem o que é vestir a camisa do clube antes de entrar em campo ou comandá-lo do banco.
"É ser capaz de educar pessoas muito além de futebolistas", disse Iriarte, com firmeza.
O mesmo vimos em Pamplona, no Osasuna. Um clube com estádio premiado internacionalmente — o El Sadar foi eleito o melhor do mundo em 2021 -, famoso por sua acústica que proporciona o gol com maior número de decibéis da La Liga, marcado justamente por Juanfran, lateral espanhol que já vestiu as cores do São Paulo. Um atacante do elenco atual do Tricolor, o argentino Calleri, também já vestiu as cores do Osasuna e é lembrado aqui pelos tempos na Espanha.

Na Osasuna, conhecemos Ángel Alcalde, diretor da Academia, como é chamado o centro de formação. Em vez de falar de contratações milionárias, ele fala de metodologia, de continuidade, de criar uma cultura de clube. Porém, mais do que estrutura, há energia de sobra para essa formação de pessoas. Patxi Puñal, ídolo do clube, hoje é embaixador e reforça essa cultura. "Fazer parte do Osasuna é viver por ele. O clube é o coração de Pamplona.", disse.
E essa identidade também é preservada com os treinadores. O clube aposta na formação de técnicos da casa, como fez com Jagoba Arrasate.
Enquanto essa formação interna tem se mostrado uma tendência, a formação de técnicos ainda engatinha no Brasil. O "país do futebol" com seu vasto talento individual, não consegue transformar isso em uma estrutura sólida de formação - nem de jogadores, nem de líderes à beira do campo cientes dos valores que representam quando seguram a prancheta.
Formar não é só dar treino. É educar, dar propósito e criar pertencimento. Na Espanha, clubes como Osasuna e Real Sociedad entendem isso. O resultado é uma produção constante de atletas e treinadores identificados com a camisa, preparados técnica e emocionalmente.
No fim das contas, o que estou vendo aqui é que não se trata apenas de jogar futebol. Trata-se de cultura. De identidade. De saber de onde se veio para saber onde se pode chegar. Enquanto o Brasil busca um nome para comandar a Seleção, a La Liga tem seus clubes formando legados.
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