Yara Fantoni

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Opinião

Quando o apito soa na mente e não no campo

Tite não voltou. Estava tudo pronto: malas feitas, família mobilizada, planos traçados. O Corinthians o esperava. A torcida, também. Mas na última curva do caminho, ele parou. Respirou fundo. E disse: "Não dá".

A recusa do treinador em reassumir o comando do Timão escancarou algo que, no futebol, ainda parece tabu para muitos torcedores: a saúde mental. Tite sofreu uma crise de ansiedade na véspera do anúncio e, com o apoio da família, decidiu pausar a carreira por tempo indeterminado.

Tite, técnico do Flamengo, durante jogo contra o Athletico pelo Brasileirão
Tite, técnico do Flamengo, durante jogo contra o Athletico pelo Brasileirão Imagem: Thiago Ribeiro/AGIF

É curioso como a força no futebol quase sempre é medida por músculos e resultados. Quem vence é forte. Quem perde, fraco. Mas o que dizer de quem reconhece suas próprias fragilidades antes que elas transbordem? Não é essa, também, uma forma de força?

O desabafo da nora de Tite, Fernanda Silva Bachi, nas redes sociais, foi um dos momentos marcantes dessa história. Ela falou sobre o sonho do marido, Matheus Bachi, e o peso de lidar com a dor do sogro. Era um grito silencioso sobre o que muitas famílias de profissionais do esporte vivem nos bastidores: ansiedade, cobrança, burnout, medo.

Tite não está sozinho.

Richarlison, atacante da seleção brasileira, foi às lágrimas em campo e depois revelou que enfrentava problemas emocionais sérios. Disse que buscaria ajuda psicológica. Lyanco, zagueiro brasileiro, também já falou abertamente sobre sua luta contra a depressão. Assim como Bojan Krkić, ex-Barcelona, que teve crises de ansiedade ainda muito jovem, quando era apontado como "o novo Messi".

O futebol, com toda a sua beleza e paixão, pode ser um ambiente cruel. Exige mais do que o corpo. Exige da mente, da alma. E raramente oferece espaço seguro para que atletas e técnicos digam: "Não estou bem".

Tite disse. E ao dizer, abriu um caminho de coragem.

Que sua decisão inspire clubes, torcidas e dirigentes a olharem para o ser humano por trás do uniforme. Antes de técnico, atacante, zagueiro ou craque, existe um coração que pulsa. E, às vezes, precisa parar para um respiro mais profundo.

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Não por fraqueza. Mas por sobrevivência.

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** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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