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Vinte e Dois

O curioso caso do campeão da NBA ainda tratado como azarão nos playoffs

Norman Powell comemora cesta marcada contra o Memphis Grizzlies no dia 9 de agosto - Kevin C. Cox/Pool Photo-USA TODAY Sports
Norman Powell comemora cesta marcada contra o Memphis Grizzlies no dia 9 de agosto Imagem: Kevin C. Cox/Pool Photo-USA TODAY Sports

Lucas Pastore

Colunista do UOL

30/08/2020 04h00

Dias depois do histórico protesto dos jogadores da liga, o Toronto Raptors abre a fase das semifinais de conferência dos playoffs da NBA hoje (30), às 14h00 (de Brasília), contra o Boston Celtics. Atual campeão e dono da segunda melhor campanha da temporada regular, o time canadense ainda tenta afastar o rótulo de azarão para enfrentar uma das potências da Conferência Leste.

Esse rótulo de azarão tem muito a ver com a saída de Kawhi Leonard. Eleito o melhor jogador das finais do ano passado, que terminaram com vitória por 4 a 2 dos Raptors sobre o Golden State Warriors, o ala decidiu não renovar contrato com a franquia canadense e acertou com o Los Angeles Clippers. Como as regras de teto salarial da liga tornaram difícil a contratação de um reforço de peso para o seu lugar, o time iniciou a temporada sem ser considerado favorito ao título.

Antes do início do campeonato, os Raptors chegaram a estar fora dos dez maiores favoritos ao título da NBA segundo casas de apostas. Hoje a equipe já aparece no top 5, mas ainda assim não tem o mesmo apelo de Los Angeles Lakers, Los Angeles Clippers e Milwaukee Bucks, considerados os principais candidatos.

A aquisição de Kawhi Leonard, sacramentada em 2018, foi provavelmente a operação mais barulhenta de Masai Ujiri, o chefe do departamento de basquete dos Raptors. Para adquirir o ala, então insatisfeito no San Antonio Spurs, o dirigente aceitou enviar para o Texas DeMar DeRozan, que estava em Toronto desde 2009 e era o principal jogador da equipe. Tudo por um ano de Leonard, em aposta arriscada que rendeu à franquia o único título de sua história até aqui.

Mas a grande e proveitosa operação esconde a qualidade de Ujiri que faz com que os Raptors não sejam azarões sem Leonard: a detecção e aquisição de talento onde ninguém mais o vê.

Um exemplo claro disso é Normal Powell. Ala-armador de 27 anos de idade e 1,91m de altura, o jogador apresentou médias de 17,5 pontos e 4,5 rebotes em 24 minutos por exibição na primeira fase dos playoffs, na qual os Raptors varreram o Brooklyn Nets. O time nova-iorquino chegou à bolha montada em Orlando para a retomada da temporada desfalcado de nomes de peso como Kyrie Irving, Spencer Dinwiddie, Kevin Durant e DeAndre Jordan.

Powell foi selecionado apenas na 46ª posição do Draft de 2015. A escolha originalmente pertencia ao Milwaukee Bucks, que aceitou enviá-la para Toronto junto com uma futura escolha de primeira rodada em troca do armador Greivis Vásquez.

A escolha futura virou OG Anunoby. Ala de 23 anos de idade e 2,03m de altura, o jogador, especialista em defesa de perímetro, tem médias de nove pontos e 5,5 rebotes em 32,5 minutos por exibição nos playoffs até aqui. Vásquez, por outro lado, só durou um ano nos Bucks e estava fora da NBA em 2016.

Outro exemplo da excelência de Ujiri na detecção de talento é Fred VanVleet. Inscrito no Draft de 2016, o armador viu as 60 escolhas esgotadas sem que seu nome fosse chamado. Assinou com os Raptors como agente livre e hoje é importante peça do time, com médias de 21,3 pontos, 7,8 assistências e quatro rebotes em 33,3 minutos por exibição nos playoffs.

É possível identificar outros achados de Ujiri entre os jogadores que entraram em quadra pelos Raptors nos playoffs desta temporada. Terence Davis, por exemplo, foi contratado logo após passar em branco no Draft de 2019. Matt Thomas, por sua vez, foi contratado como agente livre após ser ignorado no Draft de 2017 e passar duas temporadas atuando no basquete espanhol.

Além da detecção de talento, os Raptors também impressionam pelo desenvolvimento. O astro da equipe hoje é Pascal Siakam, ala-pivô de 26 anos de idade e e 2,06m de altura. Selecionado na 27ª escolha do Draft de 2016, 0 jogador apresentou média de 4,2 pontos por jogo em sua primeira temporada na liga, 7,3 na segunda, 16,9 na terceira e 22,9 na atual, sua quarta desde que chegou a Toronto. Não à toa, venceu o prêmio de jogador que mais evoluiu em 2019.

Depois de uma protocolar varrida sobre o desfalcado Nets, os Raptors agora colocam seu elenco cheio de achados à prova contra os Celtics, outra potência da Conferência Leste. Um teste de respeito para enfim descobrirmos se é justo continuar tratando o time de Toronto como azarão.

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