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Fantasma de Jesus é prejudicial ao Fla, e Palmeiras precisa ficar atento

Jorge Jesus é erguido pelo time do Flamengo depois da conquista do Carioca 2020 - Thiago Ribeiro/AGIF
Jorge Jesus é erguido pelo time do Flamengo depois da conquista do Carioca 2020 Imagem: Thiago Ribeiro/AGIF

Com Augusto Zaupa

04/12/2021 04h00

Depois de dois anos de abundância, o Flamengo vai fechar 2021 sem nenhum título de expressão. Para piorar, virou mais um clube de moer treinadores. Desde a saída de Jorge Jesus, o clube carioca teve Domènec Torrent, Rogério Ceni e Renato Gaúcho como treinadores, mas nenhum conseguiu convencer os torcedores.

Agora, a diretoria busca mais um estrangeiro para recolocar o Rubro-Negro nos trilhos e no caminho das conquistas. O Flamengo ainda paga pela 'viuvez' que o Mister deixou ao retornar a Portugal para assumir o Benfica. Vejo que o Palmeiras também corre o risco de sofrer com o fantasma do Abel Ferreira, que já declarou estar exausto do calendário e das cobranças excessivas aqui no Brasil logo após sagrar-se bicampeão da América, no fim de semana passado.

Temos que ter cuidado muito grande, principalmente quem fomenta o futebol, para não criarmos a seguinte regra: só presta, são competentes os estrangeiros que desembarcaram recentemente no Brasil, como o argentino Jorge Sampaoli e os lusitanos que já citei acima.

Temos vários treinadores competentes no futebol brasileiro que ganharam o Brasileirão, a Copa do Brasil, a Libertadores, a Sul-Americana e o Mundial de Clubes, mas eles nunca viraram assombração aos profissionais que os sucederem nos clubes os quais foram campeões, assim como o Jesus tem sido no caso do Flamengo. A régua está muito alta na Gávea depois da exuberante temporada de 2019. Até parece bíblico, com a torcida flamenguista esperando a volta de Jesus.

Abel Ferreira, técnico do Palmeiras, durante a final da Libertadores contra o Flamengo, em Montevidéu - AFP - AFP
Imagem: AFP

Esta carga de comparação é péssima para a evolução do futebol brasileiro e aos novos treinadores que estão pedindo passagem. Vide o Cuca, que já havia ganho uma Libertadores pelo Atlético-MG, em 2013, e agora tirou o time da fila de 50 anos ao se sagrar campeão brasileiro com uma ótima campanha - e olha que ele fez milagres em 2020 ao levar o Santos à final continental e já tinha no currículo um título brasileiro pelo Palmeiras (2016).

Mesmo assim, o Cuca não virou parâmetro no Atlético-MG depois de comandar Ronaldinho Gaúcho e o esquadrão mineiro quando levou o Galo ao primeiro título da Libertadores. Todos os outros treinadores que passaram pela Cidade do Galo, depois de 2013, tiveram tranquilidade para trabalhar sem que houvesse um sarrafo no topo. Não temos o costume de fazermos essa régua de comparação entre técnicos brasileiros.

Virou moda valorizar mais o treinador estrangeiro, principalmente se for oriundo da Europa. Claro, eles têm uma grande vantagem de não estarem envolvidos emocionalmente com as cobranças excessivas e ameaçadoras do futebol brasileiro, do vício de conhecer a imprensa. Mas a conta em algum momento chega, como estamos vendo atualmente o Abel Ferreira desabafando jogo após jogo.

Os próprios jogadores também precisam contribuir um pouco mais com os nossos treinadores, principalmente com os mais novos que estão buscando espaço no mercado. Por não ter os vícios e a rotina que já possuem com os profissionais daqui, os atletas acabam aceitando decisões com mais paciência, como ir para o banco de reservas ou exercer uma função em campo a qual não está habituado.

Gostamos de usar os velhos ditados no nosso futebol: "santo de casa não faz milagre" e "a grama do vizinho é mais verde".

Precisamos equilibrar essa balança.