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OPINIÃO

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Volta das torcidas é essencial ao futebol brasileiro

Torcida do Flamengo lotou o Maracanã para o jogo contra o Grêmio, pela Copa Libertadores 2019 - Marcelo Cortes/Flamengo
Torcida do Flamengo lotou o Maracanã para o jogo contra o Grêmio, pela Copa Libertadores 2019 Imagem: Marcelo Cortes/Flamengo

16/07/2021 04h00

Com 15% da população brasileira totalmente imunizada contra a Covid-19, ou seja, que tomou a segunda dose ou a dose única de vacinas — os que receberam a primeira representam 40,76% —, o comércio no país está começando a reagir. Mas há um setor que ainda está sofrendo muito: o futebol.

Depois de a Conmebol ter conseguido liberar 10% da capacidade do Maracanã para a final da Copa América (cerca de 6.500 pessoas viram in loco a Argentina bater o Brasil na decisão), algumas prefeituras começaram a articular a volta dos torcedores aos estádios.

A Câmara Municipal de Porto Alegre aprovou um projeto que autoriza que cada setor dos estádios tenha até 25% da capacidade, mantendo as orientações de distanciamento entre os torcedores e uso de máscaras. Agora, cabe ao prefeito sancionar ou vetar. Minas Gerais também debate a volta gradual do público, enquanto o governo do Distrito Federal já autorizou ao exigir comprovante de vacinação contra a Covid-19 e teste de PCR.

Desta forma, o Flamengo solicitou à Conmebol a transferência da partida de volta contra o Defensa y Justicia, pelas oitavas de final da Libertadores, para Brasília. A partida da próxima quarta (21) será disputada no Mané Garrincha, com 25% da capacidade do estádio (15 mil pessoas). Nada mais justo que os clubes briguem pelos seus direitos, porque os cofres destas entidades estão sangrando. Sendo respeitado o distanciamento e os demais protocolos de saúde, sou totalmente a favor desta liberação fracionada.

Everton Cebolinha tenta se livrar da marcação de Bruno Fuchs durante o clássico Gre-Nal 424, pela Copa Libertadores  - Lucas Uebel/Lucas Uebel/Gremio FBPA - Lucas Uebel/Lucas Uebel/Gremio FBPA
Gre-Nal 424, em março de 2020, foi o último jogo da Libertadores com público total antes das restrições devido à Covid-19
Imagem: Lucas Uebel/Lucas Uebel/Gremio FBPA

Essa volta parcial das torcidas aos estádios brasileiros é essencial. Independentemente se seja da Série A, B ou C, todas as equipes estão sofrendo por não conseguirem arrecadar com bilheteria há cerca de um ano e meio sem a presença do público. Os pequenos comércios aos arredores destas instalações esportivas também estão agonizando, porque são os jogos que fazem a diferença no fim de cada mês quando chegam os boletos de luz, água, aluguel...

Esta liberação das torcidas também vai beneficiar profissionais que estão nos bastidores dos clubes, porque alguns times da elite do Brasileirão tiveram que dispensar funcionários porque estão sem fluxo de caixa. A situação é ainda pior quando se trata de times pequenos ou das categorias de base. Quando falo sobre a volta do público, não estou me dirigindo aos jogadores, mas sim aos que estão na retaguarda - a tia da cozinha, o porteiro, o pessoal da limpeza, a equipe que cuida dos gramados, funcionários administrativos...

Não podemos ser hipócritas de achar que todo o mal está no futebol, porque ao longo destes 16 meses de pandemia muitas pessoas fizeram algum tipo de reunião com amigos, além dos familiares. Num estádio com capacidade para 60 mil torcedores, ter a liberação de 20% vai representar 12 mil pessoas, que estarão mais distantes entre elas do que num ambiente fechado, como uma residência ou um bar.

Os clubes brasileiros precisam logo desta liberação. Os sócios-torcedores irão voltar a pagar as mensalidades e vai dar um respiro às finanças dos times. Se fizermos uma conta rápida, numa partida com 12 mil torcedores e custo médio do ingresso a R$ 40, o clube vai arrecadar R$ 480 mil em apenas uma partida. Se tiver dois mandos de campo num mês, será quase R$ 1 milhão. Essa quantia já ajuda a pagar parte da folha salarial.

De acordo com levantamento realizado pelo blog Rodrigo Mattos com 14 grandes clubes brasileiros, estes times perderam 270 mil sócios-torcedores desde o início da pandemia, o que representa 31% do total de associados que tinham antes da chegada da Covid-19 ao país.

Final da Copa América, entre Brasil e Argentina, teve público no Maracanã - Thiago Ribeiro/AGIF - Thiago Ribeiro/AGIF
Final da Copa América, entre Brasil e Argentina, teve público no Maracanã
Imagem: Thiago Ribeiro/AGIF

Acho injusto presenciarmos convidados em competições da Conmebol, como vimos na final da Copa América, enquanto os clubes estão com dificuldades de arcar com as suas despesas sem poder contar com a ajuda dos seus torcedores. Mas os interesses das federações sempre estão à frente dos que realmente proporcionam o espetáculo.

O retorno das torcidas também representa vida, dá ânimo a todos, assim como testemunhamos nas semifinais e final da Eurocopa, com 60 mil torcedores nos estádios. Nos traz esperança, é importante para o nosso psicológico.

Tenho total ciência que este é um assunto delicado, ainda mais em um momento que o Brasil está dividido, com esta polarização nos fazendo sofrer uma epidemia de intolerância. Se a volta das torcidas aos estádios é o problema, o que dizer quando assistimos aos noticiários e nos deparamos com aglomerações de milhares de pessoas nas ruas, em motociatas, carreatas e passeatas contra ou a favor do atual presidente?

Mas reforço aqui: é preciso respeitar o distanciamento, o uso de máscara, apresentar comprovante de vacinação e teste do teste de PCR e obedecer às normas impostas pelas entidades competentes.

Que voltem os torcedores, pois fazem muita falta ao nosso futebol.

*Com colaboração de Augusto Zaupa