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Com Abel, Inter está a cinco passos de findar longo jejum

Abel Braga, técnico do Inter, resgatou rendimento do time  no Brasileiro - Ricardo Duarte/Inter
Abel Braga, técnico do Inter, resgatou rendimento do time no Brasileiro Imagem: Ricardo Duarte/Inter

04/02/2021 04h00

Em agosto passado, quando foi dado o pontapé inicial do Campeonato Brasileiro, o Internacional não era apontado como favorito para levar o título. Mas, na noite desta quinta-feira (4), o Colorado dará um dos últimos cinco passos que lhe faltam para encerrar o jejum de 41 anos sem erguer a taça do Nacional ao enfrentar o Athletico, em Curitiba.

Não é nenhuma surpresa que o Inter ocupe a ponta da tabela, pois nos últimos quatros anos tem figurado entre as cabeças das principais competições, tanto que foi finalista da Copa do Brasil em 2019.

Mas é natural que, por tudo que vivenciou nos últimos meses, há um sobressalto ao lembrarmos o que passou nos últimos meses no Beira-Rio. Em uma temporada atípica, com a reta final das competições adentrando 2021 devido à pandemia, o clube trocou de presidente com o "carro andando". E este ambiente político conturbado ocasionou o pedido de demissão do treinador Eduardo Coudet. Antes de embarcar para a Espanha para assumir o Celta de Vigo, o argentino deixou o Inter na liderança do Brasileirão e classificado às oitavas de final da Libertadores e às quartas da Copa do Brasil.

Além disto, Andrés D'Alessandro, principal referência do time e maior ídolo da história recendente do clube, deu adeus depois de 12 anos defendendo a camisa vermelha. Meses antes, a equipe ainda havia perdido o artilheiro Paolo Guerreiro por causa de grave lesão no joelho que o tirou da temporada.

Para reforçar, o Inter, ao começar o Brasileirão, detinha só o quinto elenco mais valioso do torneio, no valor R$ 415 milhões — ficando atrás de Flamengo (R$ 782,5 milhões), Palmeiras (R$ 680,4 milhões), Grêmio (R$ 499,6 milhões) e Corinthians (R$ 427,3 milhões). Desta forma, o Flamengo, que havia sido o papa títulos de 2019, ainda era visto, até recentemente, como o grande favorito, assim como Atlético-MG, que investiu mais de R$ 200 milhões em reforços.

O roteiro colorado ficou ainda mais dramático logo nas primeiras semanas de comando de Abel Braga, que regressava ao Beira-Rio com ares de desconfiança por causa dos trabalhos anteriores no Cruzeiro e no Vasco. Logo de cara, o Abelão sofreu duros golpes: as eliminações na Copa do Brasil e na Libertadores e a saída do G4 do Brasileirão.

Jogadores do Inter consolam Peglow após perda de pênalti contra o Boca - Marcelo Endelli / POOL / AFP - Marcelo Endelli / POOL / AFP
Jogadores do Inter consolam Peglow após perda de pênalti contra o Boca
Imagem: Marcelo Endelli / POOL / AFP

Quem traz paz para o clube, obviamente, é o resultado positivo dentro de campo. Aos dirigentes resta pagar em dia e saber escolher as peças da engrenagem. O sossego só é garantido pelo treinador e pelos jogadores. Já estive dos dois lados e posso garantir isto.

Desta forma, só havia um técnico que poderia reverter esse cenário catastrófico e ainda contaria com a paciência do torcedor. A diretoria acertou em cheio ao trazer Abel. Tanto que, passado o período de crise, o Inter engrenou e ganhou nove partidas na sequência, batendo o recorde de vitórias consecutivas no Brasileirão na era dos pontos corridos. A marca anterior pertencia ao Cruzeiro, em 2003, justamente no ano que o torneio começou a ser disputado desta forma. Em 2019, o Flamengo do técnico Jorge Jesus igualou este feito.

Foi o Abel que conseguiu levar o Inter à vitória diante do forte Barcelona e conquistar o único título mundial do clube, em 2006. Antes, já havia comandado o time na campanha vitoriosa da primeira Libertadores obtida pelo Colorado. O conheço bem, pois fiz parte daquele grupo vitorioso de 15 anos atrás. Por isso, é incompreensível e inadmissível quando ouço alguém chamá-lo de ultrapassado. Em qualquer outra profissão, a experiência adquirida ao longo dos anos é aplaudida e valorizada, mas isto não ocorre no futebol brasileiro.

O Inter de Abel compete o máximo sem a bola, com marcação recuada, momentos na pressão e simplicidade na criação de jogadas. Atua da forma mais direta possível. O time é muito forte fisicamente, com zagueiros e laterais em ótima forma e disposição. Os meninos da base (Praxedes) e os que chegaram (Yuri Alberto e o Mauricio) trazem ainda mais qualidade técnica. Está tudo no lugar. E para fazer isso, o cara tem que saber de futebol. O Abel soube dominar a crise e dar a confiança necessária ao elenco. A sua sinceridade e competência são combustíveis a mais para fazer os atletas se dedicarem ainda mais.

Edenílson comemora gol do Inter contra o Red Bull Bragantino - Fernando Alves/AGIF - Fernando Alves/AGIF
Edenílson comemora gol do Inter na vitória sobre o Red Bull Bragantino
Imagem: Fernando Alves/AGIF

Com este recorde que o Inter estipulou, será muito difícil batê-lo. Acredito que o título brasileiro virá, que irá coroar os anos de reestruturação do clube após a queda à Série B. Este grupo de jogadores, o Abel e a torcida merecem. É um campeonato dificílimo de conquistar, muitos craques não têm em seus currículos. Tive a honra de conquistar duas vezes pelo Cruzeiro, mas não obtivesse êxito com o Inter. Por tanto, jogadores como Marcelo Lomba, Patrick, Edenilson e Rodrigo Dourado (cria da casa), entre outros, podem marcar a história do clube ao findar o jejum de mais de quatro décadas.

Independentemente de terminar o Brasileirão com a taça ou não, vejo o Abel Braga como o nome certo para seguir o projeto de reestruturação do Internacional para a temporada que está por vir. Nada contra o espanhol Miguel Ángel Ramírez, já apalavrado com a nova diretoria vermelha.

Como não tem os cofres cheios para contratar, é muito importante que o Inter tenha à beira do gramado um profissional com credibilidade e que seja vitorioso, tenha suporte da torcida, saiba encaixar os jovens aos poucos no time, enxergue as possibilidades de encaixe e não reclame constantemente que o grupo é curto. Abelão domina tudo isso e mais um pouco.

Trazer um treinador que não tem reconhecimento da estrutura e da história do clube para fazer uma reformulação é muito mais difícil, pois ainda há necessidade de conhecer toda a cultura do futebol brasileiro.

Agora, faltam mais cinco passos para o Colorado.

*Com colaboração de Augusto Zaupa