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Tales Torraga

REPORTAGEM

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Punido pela Conmebol, Vélez insiste em lotar estádio contra o Flamengo

Convidados do Talleres são espancados por torcedores do Vélez na Argentina - Reprodução Jornal La Voz
Convidados do Talleres são espancados por torcedores do Vélez na Argentina Imagem: Reprodução Jornal La Voz

Colunista do UOL

22/08/2022 06h59

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O fim de semana foi agitado no Vélez Sarsfield. No sábado (20), o clube foi informado pela Conmebol que a Plateia Sul Alta do Estádio José Amalfitani estará fechada para o confronto contra o Flamengo pela semifinal da Libertadores.

O primeiro jogo da série vai ocorrer em Buenos Aires no dia 31, quarta-feira da semana que vem, com a volta sendo disputada no Maracanã, em 7 de setembro.

Ontem (21), segundo apurou a coluna, os dirigentes do Vélez começaram a armar a defesa para solicitar à Conmebol que o fechamento seja apenas onde ocorreu a briga contra o Talleres, e não em toda a plateia.

Além da interdição, o Vélez foi multado em US$ 95 mil pelo episódio (R$ 491 mil) de violência (detalhes abaixo). O técnico Alexander "Cacique" Medina também precisará mexer no bolso: vai repassar US$ 50 mil (R$ 258 mil) aos cofres da entidade pela expulsão por protestar na segunda partida da série.

O Estádio José Amalfitani, onde o Vélez joga desde 1943, tem capacidade oficial para 49.540 pessoas. A Plateia Sul Alta comporta 6.072 espectadores, e o pedido do clube agora é que esta limitação imposta pela Conmebol seja de cerca de 2.000 torcedores.

Casa lotada

Embora a versão oficial do clube seja obviamente respeitar a medida da Conmebol e o fechamento do local, quem está familiarizado com o futebol argentino sabe que os estádios do país recebem públicos muitas vezes bem acima da capacidade oficial.

Um exemplo veio ontem de outra zona de Buenos Aires: a norte, onde fica o Monumental de Núñez, estádio do River, no bairro de Belgrano. Liniers, casa do Vélez, está localizado na zona oeste da capital argentina.

No Monumental abarrotado, com cerca de 80.000 pessoas (a capacidade oficial é de 72.027 torcedores), o River fez 3 a 0 no Central Córdoba.

Como a praxe no país é superlotar os estádios, faz sentido imaginar que, com o fechamento parcial, o José Amalfitani estaria, assim, "lotado" (e com sua capacidade oficial esgotada). As pessoas que ficariam na tribuna fechada seriam, afinal, distribuídas para outros setores no mais absoluto "jeitinho argentino" (conhecido também como "viveza criolla").

A coluna explorou o tema das superlotações em março.

vele - Reprodução YouTube - Reprodução YouTube
Cenas das agressões em Vélez x Talleres pela Libertadores
Imagem: Reprodução YouTube

Massacre covarde

A coluna publicou no último dia 8 que o "massacre de Liniers" (bairro portenho onde fica o estádio) merecia a interdição total do José Amalfitani. Tanto foi assim que o Vélez jogou com portões fechados pelo Campeonato Argentino contra o Gimnasia y Esgrima, na semana seguinte.

Foi o maior episódio de violência do futebol argentino na Libertadores desde o ataque dos torcedores do River Plate ao ônibus dos jogadores do Boca Juniors na final da edição de 2018, que precisou ser mandada para Madri.

O Vélez vencia o Talleres por 1 a 0 no jogo de ida das quartas de final quando começou o espancamento, ainda no intervalo.

Em setor específico (a Plateia Sul Alta) do estádio lotado, cerca de 350 convidados de jogadores e dirigentes do Talleres foram cercados e linchados por "barra bravas" do Vélez.

O que aconteceu foi gravíssimo. E a partida seguiu normalmente, mesmo com o banco de reservas do Talleres absorto e preocupado com o que acontecia.

Como num filme grotesco, o Vélez ampliou o placar para 2 a 0. E o Talleres, assustado com o espancamento, buscou o 2 a 2 e perdeu no último minuto. A vitória final do Vélez por 3 a 2 coroou o melhor jogo da Argentina no ano, mas carecia de sentido falar de futebol depois de tamanha barbárie.

Havia cerca de 2.500 torcedores do Talleres no José Amaltifani. O clima antes, durante e depois da partida foi amistoso entre os "torcedores comuns" de ambos os lados. Incluindo as "barras oficiais".

O grande problema foi com uma "barra dissidente" do Vélez, violentos que buscam o poder na base da pancada.

Com a conivência dos seguranças, que simplesmente cruzaram os braços, eles invadiram o setor onde estavam os convidados do Talleres e iniciaram a emboscada. "Foi um massacre. Tudo armado", resumiu Andrés Fassi, presidente do Talleres.

Vélez joga hoje

Em meio à turbulência e ansiedade pela Libertadores, o Vélez Sarsfield volta hoje (22) a campo pelo Campeonato Argentino. Será no próprio José Amalfitani, às 21h30 (de Brasília). O time comandado por Medina recebe o Sarmiento em jogo válido pela 15ª rodada da competição nacional.

A partida terá presença normal de público, depois do fechamento do estádio ante o Gimnasia, há duas rodadas. O time a ser levado em campo será o titular, pelo que contou o técnico do Vélez neste final de semana.

A situação do Vélez no Campeonato Argentino é das piores. O time é o "vice-lanterna", empatado em pontos com o Lanús, o último colocado. Ambos têm 10 pontos, mas o Lanús jogou uma vez a mais que o Vélez (15 partidas contra 14).

Depois de hoje, o Vélez volta a campo pelo Campeonato Argentino apenas mais uma vez antes de encarar o Fla: será no domingo (28), contra o Indepediente, fora de casa. É provável que a AFA (Associação de Futebol Argentino) antecipe a partida para sexta ou sábado, facilitando assim o descanso do Vélez para a Libertadores.