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Tales Torraga

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Massacre covarde deveria interditar estádio do Vélez Sarsfield

Convidados do Talleres são espancados por torcedores do Vélez na Argentina - Reprodução Jornal La Voz
Convidados do Talleres são espancados por torcedores do Vélez na Argentina Imagem: Reprodução Jornal La Voz

Colunista do UOL

05/08/2022 09h33Atualizada em 05/08/2022 14h20

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Nem o brilhante Flamengo, nem o raçudo Palmeiras.

Na opinião da coluna, o principal fato da ida das quartas de final da Libertadores foi o massacre dos torcedores do Vélez Sarsfield aos convidados do Talleres no Estádio José Amalfitani, em Buenos Aires, anteontem (3).

Foi o maior episódio de violência do futebol argentino na Libertadores desde o ataque dos torcedores do River Plate ao ônibus dos jogadores do Boca Juniors na final da edição de 2018, que precisou ser mandada para Madri.

A coluna insiste desde março que o ambiente do futebol argentino é altamente bélico até para um país tristemente acostumado às selvagerias.

O Vélez vencia o Talleres por 1 a 0 quando começou o espancamento, ainda no intervalo.

Em setor específico (a Plateia Sul Alta) do estádio lotado, cerca de 350 convidados de jogadores e dirigentes do Talleres foram cercados e linchados por "barra bravas" do Vélez.

O que aconteceu foi gravíssimo. E a partida seguiu normalmente, mesmo com o banco de reservas do Talleres absorto e preocupado com o que acontecia.

Como num filme grotesco, o Vélez ampliou o placar para 2 a 0. E o Talleres, assustado com o espancamento, buscou o 2 a 2 e perdeu no último minuto. A vitória final do Vélez por 3 a 2 coroou o melhor jogo da Argentina no ano, mas carece de sentido falar de futebol depois de tamanha barbárie.

Havia cerca de 2.500 torcedores do Talleres no José Amaltifani. O clima antes, durante e depois da partida foi amistoso entre os "torcedores comuns" de ambos os lados. Incluindo as "barras oficiais".

O grande problema foi com uma "barra dissidente" do Vélez, violentos que buscam o poder na base da pancada.

Com a conivência dos seguranças, que simplesmente cruzaram os braços, eles invadiram o setor onde estavam os convidados do Talleres e iniciaram a emboscada. "Foi um massacre. Tudo armado", resumiu Andrés Fassi, presidente do Talleres.

O jogo de volta, na próxima quarta-feira em Córdoba, teria a princípio 10.000 torcedores do Vélez, mas houve um óbvio recuo. Apenas os fanáticos pelo Talleres vão lotar os 57.000 lugares do Estádio Mario Kempes, um dos mais equipados do interior da Argentina.

A cidade de Córdoba está a 649 quilômetros de Buenos Aires.

veel - Reprodução YouTube - Reprodução YouTube
Cenas das agressões em Vélez x Talleres pela Libertadores
Imagem: Reprodução YouTube

Foi ver o jogo. Corre risco de perder o olho

Há enorme clima de indignação na Argentina. Portais e TVs tratam o ocorrido como "guerra" e "batalha". Celsa Ramírez, uma fiscal portenha que trabalha no combate à violência dos estádios, está a cargo da investigação para punir com rigor o Vélez Sarsfield — que, vale reforçar, enfrenta o vencedor de Flamengo x Corinthians caso persista a vantagem do jogo de ida.

Segundo ela, as punições seriam fechar o setor onde ocorreram as agressões ou até mesmo o estádio todo.

A Conmebol até aqui não se pronunciou sobre o "massacre de Liniers". A crescente indignação na Argentina exige algo mais que as repetidas multas que são aplicadas desde a primeira fase — então, pelos casos de racismo.

A defesa do Vélez é pouco convincente. O presidente do clube, Sergio Rapisarda, preferiu atacar o discurso de Andrés Fassi, mandatário do Talleres. Em vez que explicar o que aconteceu, disparou: "O que ele disse não está à altura do nosso clube. O desequilíbrio não faz bem à sociedade".

Rapisarda, que prega o "equilíbrio", prometeu ter uma conversa privada com o presidente do Talleres para explicar o que de fato aconteceu.

Explicações são mais que necessárias. O filho de um dirigente do Talleres corre risco de perder a visão depois de ter o olho covardemente socado. O nome do diretor é Ramón Ángel Frías (o do filho ainda não foi revelado), e ele atua justamente na segurança dos sócios que viajam a jogos fora de Córdoba.

Há sete internados na clínica Santa Lucia, em Buenos Aires. Dois estão em estado grave, segundo Fassi, presidente do Talleres, em entrevista à Rádio La Red, de Buenos Aires.

Correr o risco de perder o olho. Por ver um jogo de futebol.

Gravíssimo. E revoltante demais.