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Tales Torraga

REPORTAGEM

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Torcida do Boca já não aturava Benedetto antes mesmo dos pênaltis perdidos

Dario Benedetto, do Boca Juniors, momentos antes de cobrar pênalti contra o Corinthians na Bombonera - REUTERS/Agustin Marcarian
Dario Benedetto, do Boca Juniors, momentos antes de cobrar pênalti contra o Corinthians na Bombonera Imagem: REUTERS/Agustin Marcarian

Colunista do UOL

07/07/2022 08h00

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A eliminação para o Corinthians vai castigar o atacante Darío Benedetto por muito tempo. Apontado por torcida e imprensa argentina como grande vilão da surpreendente derrota, o camisa 9 vem sofrendo uma série de críticas até mesmo dos mais fanáticos.

E não só. A coluna apurou também que Benedetto, rejeitado por parte dos colegas, não preza pelo bom ambiente no vestiário para se reerguer da decepção.

Na semana passada, quando a incrível derrota para o Corinthians estava mais para os livros de ficção, quem fez um contundente alerta a Benedetto foi Martín Palermo, o maior artilheiro da história do Boca: "Benedetto anda muito irritado. Briga muito, o tempo todo. Ele precisa se acalmar um pouco, senão vira um alvo fácil", disse à ESPN.

Voz autorizada para medir as pulsações com a camisa 9 do Boca, Palermo expressava, na verdade, o que torcedores e colegas de clube apontavam como um "excesso de individualismo" de Benedetto, no melhor estilo "vocês ralam, eu brilho".

No olhar geral da Argentina, Benedetto enfeita demais jogadas que poderiam ser mais efetivas fazendo o simples. O gol desperdiçado ainda no primeiro tempo, em ótimo cruzamento de Zeballos, foi um grande exemplo. Em vez de uma pirueta desajeitada, uma finalização firme, como fazia Palermo, só empurrando para o gol, serviria mais para o Boca naquele momento.

O pênalti na trave, deslocando Cássio além do necessário, cabe na mesma análise.

Palermo não foi o único a criticar Benedetto diante das câmeras. Ex-capitão da seleção argentina, Óscar Ruggeri fez o mesmo ontem à tarde na ESPN, e pelas mesmas razões: "Darío demonstra vaidade e necessidade de ser o protagonista".

'La garantía soy yo'

Outro ponto que caiu muito mal entre os colegas e os torcedores foi a já famosa alteração na lista de cobradores.

Benedetto, afinal, cobraria o terceiro pênalti da série contra o Corinthans, e pediu para se encarregar da última.

Grande sinal de personalidade, claro, desde que ele convertesse a cobrança, e não isolasse a bola demonstrando toda a sua perturbação emocional daquele instante.

Assumir a responsabilidade para si, e não dar conta do recado, de novo mostrou aquilo que persegue Benedetto desde sua chegada ao Boca em 2018: ele é eficiente em determinados momentos, mas contar com ele nas horas decisivas não costuma dar certo.

bene - Reprodução/Instagram @pipabenedetto - Reprodução/Instagram @pipabenedetto
Carrasco do Palmeiras, Darío Benedetto, volta ao Boca Juniors
Imagem: Reprodução/Instagram @pipabenedetto

Palmeiras no caminho

Resgatando a trajetória de Benedetto no Boca, é necessário passar pelas suas noites de gala contra o Palmeiras, quando ele fez três dos quatro gols das semifinais (4 a 2 no placar agregado) de 2018.

Benedetto voltava de uma grave lesão no joelho. Não tinha responsabilidade, jogava livre, no estilo "se der, deu", e pôde demonstrar sua grande qualidade técnica.

O problema é entregar a pressão a ele.

Tal análise vem desde 2018, quando falhou diante de Armani, goleiro do River, na jogada que daria a vitória na primeira partida da final Boca x River, na Bombonera. Benedetto decretara o 2 a 1 (o jogo terminou 2 a 2), é verdade: de costas, quase sem querer.

No jogo de volta, em Madri, ele abriu o marcador, mas depois saiu de campo, sem condições físicas, o que entre os torcedores do Boca cai mal até hoje porque era um momento crucial para ele simplesmente deixar o gramado. A análise geral aponta desde então uma falta de valentia no jogo mais mais importante da história do Boca.

Se faltou eficiência e raça em determinados momentos, faltou soberba, até mesmo nesta derrota para o Corinthians.

Benedetto coleciona atitudes questionáveis, como dizer, em 2018, a um volante do Racing, hoje seu companheiro de clube no Boca, que "tinha dinheiro para comprá-lo e fazê-lo jogar no quintal da sua casa".

Não foi só.

Naquele mesmo ano, fantasiou seus filhos, casal de crianças recém-saídas do colo, com o "fantasma da B", gozando o River por cair para a Série B. Tal deboche se reverte agora.

Se ele não prezou pelo respeito com colegas de profissão, pedir respeito por ser uma chacota institucional do Corinthians soa incoerente na Argentina.

Também em 2018, na decisão da Libertadores que não foi realizada no Monumental de Núñez pelos ataques ao ônibus do Boca, Benedetto bateu boca com um torcedor do River e gritou para ele "ir trabalhar", o que gerou mal-estar pelo evidente choque de realidade econômica que vive um profissional do futebol e um mero apaixonado.

noe - Reprodução Instagram - Reprodução Instagram
Mulher de Benedetto postou stories defendendo o marido depois de perder para o Corinthians
Imagem: Reprodução Instagram

Choque de realidade que foi demonstrado também pela sua esposa, Noelia Pons, em postagens depois da eliminação do Boca para o Corinthians.

Ela publicou stories no Instagram defendendo Benedetto e confundindo ainda mais o torcedor.

Ao retrucar críticas dos seguidores, ela tirou selfies fazendo caras e bocas e escrevendo que "má era a situação do país, com a economia e com a falta de segurança e de educação".

Noelia fez questão de mencionar a Riviera Francesa, onde ela e Benedetto moravam há dois anos. Exibir o destino, dos mais luxuosos da Europa, e falar das misérias argentinas, escancara a falta de propriedade e a enorme arrogância que caracteriza o casal, de acordo com o olhar do país.

"Vocês ralam, nós brilhamos."

Exatamente como Benedetto tentou fazer em campo. E se deu muito mal.