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Tales Torraga

REPORTAGEM

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Gallardo não é mais o mesmo? Entenda a discussão do momento na Argentina

Marcelo Gallardo lamenta durante jogo do River Plate na Libertadores - Juan Mabromata - Pool/Getty Images
Marcelo Gallardo lamenta durante jogo do River Plate na Libertadores Imagem: Juan Mabromata - Pool/Getty Images

Colunista do UOL

30/06/2022 08h03

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O River Plate foi massacrado pelo Vélez Sarsfield ontem (29) em Liniers na abertura das oitavas de final.

Sim, "massacre" e "vitória por 1 a 0" nem sempre dizem a mesma coisa. Uma discussão das mais frequentes na Argentina é sobre o funcionamento da equipe, e não meramente o placar.

Quando alguém argumenta o resultado como verdade absoluta, a resposta argentina é cortante, especialmente entre os portenhos. "Disso, qualquer bebê segurando um celular sabe", é a provocação que engata a análise sobre o funcionamento dos times.

E o funcionamento deste River foi o mais preocupante dos últimos anos. O time simplesmente não funcionou.

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Franco Armani faz defesa em River x Vélez
Imagem: Twitter Nicolás Aboaf

Desde 2017

Na entrevista depois de perder para o Vélez, Marcelo Gallardo foi sincero ao reconhecer que o River simplesmente sumiu: "Não me lembro de outra série em que começamos tão mal assim".

As rádios portenhas como a Mitre e a La Red, e as TVs como a ESPN e a TyC Sports, cravaram juntas um dado que é difícil discordar: desde a semifinal de 2017, contra o Lanús, o River não era tão batido e abatido por um rival argentino. O Vélez entrou para massacrar o River em cada dividida e propôs um combate que fez o gigante de Núñez se encolher.

O único ponto alto vestindo vermelho e branco foi o goleiro Franco Armani.

Ele e Agustín Rossi provaram que River e Boca estão bem servidos demais no posto. O Vélez poderia ter saído fácil com um 3 a 0 ou até mesmo um 4 a 0. Os gols perdidos pelo adversário e o brilho do seu arqueiro permitiram ao River uma sobrevida neste mata-mata que termina na próxima quarta-feira, no Monumental

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Marcelo Gallardo cumprimenta Lucas Pratto em Vélez x River
Imagem: Twitter Nicolás Aboaf

E Gallardo?

Uma análise muito comum em Buenos Aires é a seguinte: o melhor comentarista do River é a cara de Marcelo Gallardo, pois seu semblante não esconde nada.

E ele ontem demonstrou uma confusão e um desânimo inéditos nesses oito anos como técnico do River.

O desempenho do próprio Gallardo levantou críticas. Começando pela proposta de jogo muito básica, se expondo demais na defesa e não oferecendo riscos no ataque, até a mansidão perante a rispidez do Vélez. O "Cacique" foi melhor que o "Napoleão". O Vélez impôs seu jogo agressivo totalmente no limite, especialmente com os jovens da base. O River não soube o que fazer.

Tal falta de respostas mostrou-se também nas alterações. Em vez de melhorar, o River despencou no segundo tempo, escapando sim de uma goleada.

Foram 45 minutos ainda piores que os do Mineirão no ano passado contra o Atlético-MG (que venceu por 3 a 0, diferença que mencionamos).

Juanfer Quintero saiu do banco e esteve perdido em campo, e o mesmo aconteceu com Aliendro e Beltrán, contratações recém-chegadas. Ambos treinaram pouquíssimo e foram direto para o gramado. Bagunça total.

É claro que nenhum torcedor vai levantar a voz e questionar Gallardo e seu colossal trabalho com o River. Tampouco convém tomar com histeria uma noite ruim que ainda pode ser remontada.

Gallardo já decidiu deixar o River ao final do ano. Resta saber se o final da Libertadores será já na próxima semana.

"Tudo o que termina, termina mal", canta o roqueiro Andrés Calamaro, um dos mais conhecidos da Argentina, no sucesso "Crimenes perfectos".

A quinta-feira argentina alerta enormes chances de que o destino do histórico River de Gallardo na Libertadores vai ser realmente este.