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Tales Torraga

REPORTAGEM

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Por que os argentinos falam do Palmeiras para reforçar a má fase deste Boca

Boca Juniors deixou má impressão contra o Corinthians - Getty Images
Boca Juniors deixou má impressão contra o Corinthians Imagem: Getty Images

Colunista do UOL

04/05/2022 04h00

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Lanterna do Grupo E, o Boca Juniors disputa às 21h (de Brasília) de hoje (4) uma "final antecipada" para sobreviver na Libertadores da América. Depois de perder por 2 a 0 para o Corinthians, o clube argentino agora encara os bolivianos do Always Ready nos 3.577 metros de altitude do Estádio Hernando Siles, em La Paz.

Depois da partida de hoje, o Boca só terá mais dois compromissos (ambos na Bombonera, contra Deportivo Cali-COL e Corinthians) nesta fase de grupos. Ou seja: perder na Bolívia deve deixar o clube na dependência de um milagre matemático para não cair ainda antes das oitavas de final.

O clima de decisão nesta quarta em Buenos Aires se vê nas muitas horas dedicadas ao Boca nas TVs e rádios — o clube mais popular da Argentina, afinal, anda sofrendo para passar da primeira fase da Libertadores, mas desde 1994 não fica fora ainda nas chaves. E é aí que surge o Palmeiras para maltratar ainda mais o humor xeneize nesta semana.

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Equipe do Palmeiras que goleou o Boca Juniors por 6 a 1 na Libertadores 1994
Imagem: Reprodução/Twitter Palmeiras

Um 'baile de loucos'

Atual bicampeão consecutivo da Libertadores, o Palmeiras reserva um espaço especial na sua galeria para o 6 a 1 sobre o Boca Juniors em 1994 — goleada que empurrou a equipe argentina ladeira abaixo para aquela que seria sua última eliminação na primeira fase da Libertadores. A remissão surgiu com força em Buenos Aires nos últimos dias — e em pleno 2022 — em meio aos vídeos embaçados dos gols de Evair quase 30 anos atrás, dando noção de todo o tempo que o Boca viveu sem atravessar a situação que pode enfrentar agora.

O histórico Palmeiras x Boca foi disputado no Parque Antarctica (como era conhecido o Estádio Palestra Itália) em 9 de março de 1994, e o Alviverde foi a campo com a seguinte formação: Sérgio; Cláudio, Antônio Carlos, Cléber e Roberto Carlos; César Sampaio (Tonhão), Amaral, Mazinho (Jean Carlo) e Zinho; Edílson e Evair. O técnico era Vanderlei Luxemburgo, desfalcado de Rincón e Edmundo.

Do outro lado do campo estava aquele que é considerado até hoje como o "pai do futebol argentino" pelo seu título na Copa do Mundo de 1978: o Boca era treinado por César Luis Menotti. Hoje com 84 anos e vivendo em Buenos Aires, onde tem uma escola de técnicos com seu nome, ele relembrou à coluna em 2020 aquela partida: "O Palmeiras tinha um timaço. Lembro bem. César Sampaio, Zinho, Evair...como jogaram naquele dia".

"Este placar de 6 a 1 é duro de aguentar até hoje, porque em determinado momento da partida virou mesmo um Carnaval. Tentei fazer o time jogar pressionando o adversário, mas não deu certo. Era um Boca inconstante. No domingo seguinte, fizemos 6 a 0 no Racing na Bombonera."

"Outro exemplo da nossa inconstância? Nossa diferença de nível para o Palmeiras não era de seis gols. Na Bombonera, ganhamos por 2 a 1. Duvido que tanta gente se lembre disso."

No Brasil, é bastante citada até hoje a conversa entre Menotti e Luxemburgo depois do famoso 6 a 1. Luxemburgo costuma repetir que um dos maiores orgulhos da carreira foi ter sido procurado — e parabenizado — pelo colega argentino depois da goleada.

"É verdade, ocorreu isso sim, fui procurá-lo, conversamos só nós dois. Lembro que nem a gente acreditava no placar...", conclui César, que contou com a formação principal que possuía na época: Navarro Montoya; Soñora, Noriega, Giuntini e Mac Allister; Peralta, Mancuso, Márcico e Carranza; Martinez e Da Silva (Acosta).

O ponto fraco da equipe era o vulnerável lateral-direito Soñora, dominado pelos apoios de Roberto Carlos ao ataque. Difícil de acreditar, o Boca saiu de campo com os 11 jogadores, sem expulsões.

Apenas 18.285 pagantes comemoraram os gols de Cléber (21min do primeiro tempo), Roberto Carlos (7 do segundo), Edílson (9 do segundo), Evair (18 e 26 do segundo tempo) e Jean Carlo (32 do segundo). O gol de honra do Boca foi de Manteca Martínez, de pênalti, aos 34 da etapa final.

Embora brilhante, aquele Palmeiras parou nas oitavas de final, eliminado pelo São Paulo — que chegaria à decisão, perdida para o Vélez Sarsfield de Carlos Bianchi e José Luis Chilavert.

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Juan Roman Riquelme, vice-presidente do Boca Juniors, no camarote da Bombonera durante jogo em abril de 2022
Imagem: Marcelo Endelli/Getty Images

La Paz com Román

Riquelme, que não veio a São Paulo para acompanhar a delegação do Boca contra o Corinthians, está na Bolívia para o jogo desta quarta-feira. Esta é a principal imagem para demonstrar a importância da partida ante os bolivianos que jogaram firme na Bombonera e encararam o Boca mesmo com um homem a menos em campo. O placar final foi de 2 a 0 para os argentinos.

O desfalque xeneize hoje é o atacante Darío Benedetto, com três cartões amarelos. Seu substituto será Luis Vázquez. Os brigões Rojo, Izquierdoz e Villa seguem cumprindo a suspensão pelo quebra-quebra do ano passado no Mineirão.

A escalação do técnico Sebastián Battaglia hoje será a seguinte: Agustín Rossi; Luis Advíncula, Nicolás Figal, Carlos Zambrano e Frank Fabra; Pol Fernández, Alan Varela e Juan Ramírez; Óscar Romero; Eduardo Salvio e Luis Vázquez.