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Quem é o enxadrista nascido na Ucrânia que apoia Putin e o ataque russo
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Punida por órgãos como a Fifa (Federação Internacional de Futebol) e o COI (Comitê Olímpico Internacional), a Rússia vem recebendo sucessivas sanções esportivas pela guerra à Ucrânia. E em meio ao repúdio massivo, uma voz tem destoado, a de Sergei Karjakin, de 32 anos, um dos melhores enxadristas do mundo. Ele se define como um "fanático por Vladimir Putin" e apoia abertamente os ataques russos impostos à Ucrânia desde a semana passada.
Karjakin personifica o passado complicado da região. Ele nasceu em 12 de janeiro de 1990 em Simferopol, na Crimeia (território então da Ucrânia na antiga União Soviética), adotando a nacionalidade ucraniana até a adolescência.
Incentivado pelos pais, levava o jogo a sério já aos sete anos, em um famoso celeiro de enxadristas da própria Ucrânia. "Estudava com meus pais seis horas por dia e depois ia a Kramatorsk. Foi muito difícil, ninguém sabia quem dali seria um bom jogador, mas meus pais apostaram tudo em mim", contou ao site russo "Crestbook".
Apadrinhado por Putin
O enxadrista retribuiu o empenho e brilhou ao ser o Mestre Internacional (11 anos e 11 meses) e Grande Mestre Internacional (12 anos e 7 meses) mais jovem da história. Ambas as marcas foram batidas recentemente.
Com 14, Karjakin venceu o então campeão mundial Vladimir Kramnik em uma partida relâmpago, mas só conquistou um torneio de elite aos 19. Era 2009, ano que mudaria sua vida dentro e fora dos tabuleiros.
Na ocasião, Karjakin se nacionalizou russo, e virou um protegido das elites do país, que investiam pesado na retomada do título mundial. Ele passou a ser tratado diretamente por Vladimir Putin, que ofereceu todo apoio econômico e esportivo tanto do Kremlin como da Federação Russa. Desde então, Karjakin competiu sempre com a bandeira (e a cidadania) russa, e esteve a um passo de ser o campeão do mundo em 2016, quando perdeu apertado para o norueguês Magnus Carlsen.
Em meio à ascensão que experimentava nos tabuleiros, a Rússia invadiu sua Crimeia natal em 2014, tomando o controle ucraniano da região.
Karjakin hoje declara publicamente que "apoia tudo o que o presidente russo faz" e que "sua figura tem um valor incalculável".
A postura do enxadrista é reforçada tanto nas entrevistas quanto nas redes sociais, se mostrando favorável à invasão militar e até assinando uma carta aberta agradecendo "pela operação contra a 'nazificação' do lugar onde passou a infância".
Há várias fotos suas com camisetas com o rosto de Putin, como no "corpo a corpo" da campanha presidencial russa de 2018.
A fidelidade de Karjakin a Putin lhe rendeu um cargo na câmara cívica do país. Hoje em 18º no ranking mundial do xadrez, Karjakin não conta com aceitação dos pares. O melhor jogador russo no ranking (oitavo do mundo), Ian Nepomniachtchi, é abertamente contra ele e Putin.
Um dos rumores que circulam nos bastidores do xadrez é que Karjakin será punido e retirado da disputa do próximo Torneio de Candidatos, mata-mata que dá direito ao desafio contra o atual detentor do título, o norueguês Magnus Carlsen. A Fide (Federação Internacional) ainda não oficializou sua postura. O que sim está definido é que a próxima Olimpíada de Xadrez, marcada para Moscou, foi cancelada pela Federação Internacional, que também se desligou dos patrocinadores da Rússia e de Belarus.
Fábrica de campeões
O xadrez é um histórico patrimônio cultural da Rússia. De 1927 a 2007, russos e soviéticos mantiveram sempre o título mundial exceto por cinco anos (com o holandês Max Euwe entre 1935 e 1937 e o norte-americano Bobby Fischer de 1972 a 1975).
Nos últimos 15 anos, os russos foram desbancados do trono por um indiano (Viswanathan Anand) e um norueguês (Magnus Carlsen, campeão do mundo desde 2013), mas o país continua firme na elite — o último desafiante ao título mundial, por exemplo, era russo — Ian Nepomniachtchi, batido por Carlsen no Qatar em dezembro passado.
Além de Nepomniachtchi e Karjakin, outra grande esperança do xadrez russo é Daniil Dubov, de 25 anos, que se destaca pela criatividade. Recentemente, ele gerou polêmica em seu país ao ser o assistente do norueguês Carlsen no confronto contra o compatriota Nepomniachtchi.
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