Topo

Tales Torraga

REPORTAGEM

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

Como a Argentina planejou a 'água batizada' entregue a Branco em 1990

Colunista do UOL

06/12/2021 04h00

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

A vitória da Argentina sobre o Brasil é o tema do episódio de hoje no documentário do UOL sobre a Copa do Mundo de 1990, disponível no canal do UOL Esporte no YouTube.

A face visível daquela partida é a genialidade de Maradona enfileirando marcadores e deixando Caniggia na cara do gol de Taffarel, mas aquele resultado teve também um lado obscuro —e bem mais nefasto.

Branco - Reprodução - Reprodução
Branco bebeu água batizada durante o confronto Brasil e Argentina na Copa de 1990
Imagem: Reprodução

Branco era o encarregado de cobrar as faltas para o Brasil, e fazia calor em Turim. "Estava uns 40 graus", relembrou Maradona em entrevista ao programa Mar Del Fondo, do canal TyC Sports, em 2004. Aos 39 minutos da etapa inicial, uma falta de Ricardo Rocha sobre Troglio deixou o argentino no piso.

Entraram então os auxiliares com várias garrafas de águas em recipientes de cores diferentes. E Branco, rodeado de argentinos, bebeu um pouco de uma garrafa verde, com o logotipo da marca de isotônicos Gatorade. Todos os argentinos tomaram água de garrafas transparentes.

"Vascooo, desse não, desse não, do outro!", gritou Maradona a Olarticoechea. Foi esse chamado que alertou o grupo: nem todos sabiam o que estava acontecendo. O próprio Diego detalhou tudo na entrevista de 2004: "Eu dizia, beba, beba, Valdito... E depois veio Branco, que tomou toda a água. Justamente o Branco, que batia as faltas e caía", contou, gargalhando.

"Depois do jogo, estavam os dois ônibus juntos, e Branco me olhava pela janela e me apontava o dedo, me culpando, e respondia com gestos de que não tinha nada a ver com aquilo. Branco jogava na Itália e tínhamos boa relação. Depois disso não conversamos mais."

Maradona revelou inclusive qual foi a substância usada para drogar o brasileiro.

"Alguém picou Rohypnol na água e complicou tudo", ria, citando o tranquilizante de uso psiquiátrico.

De acordo com o jornal "Clarín", esse "alguém" foi o massagista Miguel de Lorenzo, mais conhecido como Galíndez, sob ordens de Carlos Bilardo —que, afinal, também era médico e sabia dos meandros necessários para tirar os adversários de combate.

Depois da confissão de Maradona, ocorrida 14 anos depois da partida, a imprensa argentina voltou a ouvir vários outros personagens presentes ao Delle Alpi. A revista Ventitrés publicou a seguinte entrevista com Bilardo:

- Maradona contou sobre o caso da garrafa com tranquilizante que deram a Branco. Ele revelou uma trapaça que envolve você.

- Mas ele não disse quem foi.

- E quem foi, Bilardo?

- Não sei, não sei... Não digo que não tenha acontecido, hein?

- Você não nega, e era o responsável pelo grupo...

- Sim, mas te digo que não sei.

A história acima faz parte do livro "Copa Loca - As inacreditáveis histórias da Argentina nos Mundiais", publicado em 2018 pela editora Garoa Livros.