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Tales Torraga

REPORTAGEM

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Ex-SPFC: O misterioso adeus ao futebol do técnico argentino "Patón" Bauza

Edgardo Bauza no hotel do São Paulo em Belo Horizonte - Thiago Fernandes/UOL Esporte
Edgardo Bauza no hotel do São Paulo em Belo Horizonte Imagem: Thiago Fernandes/UOL Esporte

Colunista do UOL

27/09/2021 12h00

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Em silêncio e sem aparecer. Foi assim que o técnico argentino Edgardo Bauza, o "Patón", comandante do São Paulo em 2016, anunciou sua aposentadoria.

A retirada do treinador foi informada neste fim de semana por Gustavo Lescovich, seu agente de longa data. Bauza está com 63 anos, e não foram dadas explicações sobre o final de sua carreira. O jornal "Olé" publicou que os motivos foram "questões de saúde", informação confirmada pela coluna.

A família de Patón prefere não entrar em detalhes a respeito. Seu último trabalho terminou em fevereiro de 2019, quando Bauza treinou o Rosario Central, clube onde foi ídolo como jogador (era zagueiro) e técnico.

Há seis meses, o jornalista Alín Roberto, da Rádio 104,1 FM, do Equador, postou que o estado de saúde de Bauza era "delicado e exigia cuidados na Argentina", o que desatou a ira do representante de Bauza. O jornalista apagou sua postagem. Outro desgaste de Patón com o tema ocorreu logo em sua saída do Rosario Central, quando denunciou em entrevista que dirigentes do clube inventaram uma doença degenerativa sua para justificar a demissão.

Bauza chegará nesta semana a Quito (Equador), onde vive sua atual mulher.

Dos maiores currículos da história

Bicampeão da Libertadores em 2008 (LDU) e 2014 (San Lorenzo), Bauza só tem menos títulos na principal competição continental que outros dois técnicos, os também argentinos Carlos Bianchi (quatro) e Osvaldo Zubeldía (três).

Entre seus feitos, destaca-se a chegada às semifinais da Libertadores por quatro equipes diferentes, algo que ninguém jamais repetiu.

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Marcelo Gallardo e Edgardo Bauza, técnicos de River Plate e São Paulo, respectivamente, se cumprimentam antes da partida
Imagem: JUAN MABROMATA/AFP

Em 2001, ele atingiu o "top 4" pelo Rosário Central, sequência que teve também as participações em 2008 (com a LDU campeã), 2014 (com o San Lorenzo) e em 2016, com o São Paulo que foi eliminado pelos colombianos do Atlético Nacional, que terminaria aquela Copa como campeões.

Patón tricolor

Bauza saiu do São Paulo para comandar a seleção argentina em 1º de agosto de 2016. Patón deixou o time na 10ª colocação no Campeonato Brasileiro, com 23 pontos em 17 rodadas, aproveitamento de 45% dos pontos.

O argentino ganhou a confiança da torcida durante a Copa Libertadores, quando levou o time do Morumbi às semifinais. No Campeonato Paulista, o São Paulo perdeu para o Audax Osasco nas quartas de final.

Patón se despediu do São Paulo depois de 48 partidas. Foram 18 vitórias, 13 empates e 17 derrotas, um aproveitamento de aproximadamente 46,5%.

Na seleção argentina, Bauza durou apenas 8 jogos (3 vitórias, 2 empates e 3 derrotas), em meio ao caos em campo e fora dele com uma AFA em chamas.

Equilíbrio

Em 2016, poucos meses antes de Patón assumir a vaga de Tata Martino no comando da seleção argentina, tive a oportunidade de colaborar com o amigo Ariel Ruya, do jornal "La Nación", na produção da sua biografia, "El Método Bauza", que ganhou peso imediato com sua chegada à azul e branca.

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Capa de "Método Bauza", biografia do treinador
Imagem: Divulgação Editora Planeta

Durante meses, pude conhecer (conferir, checar, reler..) em profundidade os pensamentos, a conduta e as manias de Bauza, um técnico que ganhou cartaz de profissional de ponta ao levar o San Lorenzo à primeira Libertadores da sua história. Em gozação muito parecida com aquela que atormentou a torcida do Corinthians por longos anos, o San Lorenzo era ironizado como único grande argentino sem a Copa (a sigla do clube, Club Atlético San Lorenzo de Almagro, CASLA, era sempre tratada como "Clube Atlético Sem Libertadores".)

A conquista teve fundamental importância em sua chegada à seleção argentina, em enredo parecido com o de Tite, também responsável por tirar o Corinthians da fila da Libertadores.

Folhear o índice daquela biografia é encontrar frases como "O legado do Patón é para toda a vida" e "As chaves do equilíbrio", conceitos que norteavam a efetividade dos seus trabalhos. Jamais fui íntimo de Bauza. Um par de cafés ali por Puerto Madero em contatos objetivos e profissionais geraram, porém, duas qualidades que não fazem parte da maioria das dezenas de técnicos argentinos que ouvi trabalhando. Bauza prezava pela ponderação e pela sensibilidade de sempre ouvir o outro.

Sorte ao Patón na nova vida. A sua "jerarquia" (alta capacidade) já está guardada na trajetória de quem pôde conviver um pouco que seja com ele.