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Tales Torraga

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Espírito olímpico? Copa Argentina tem hoje um Boca x River com clima de UFC

Carrascal, do River Plate, disputa bola com Medina, do Boca Juniors - Divulgação AFA
Carrascal, do River Plate, disputa bola com Medina, do Boca Juniors Imagem: Divulgação AFA

Colunista do UOL

04/08/2021 04h00

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Espírito olímpico, congregação de povos, união pelo esporte? O tom das Olimpíadas de Tóquio vai passar longe do Boca Juniors x River Plate das 19h (de Brasília) de hoje (4).

O confronto em eliminação simples válido pelas oitavas de final da Copa Argentina virou o pretexto perfeito para os dois clubes mais importantes do país reescreverem a quatro mãos uma história de hostilidade e de uma rixa que tem todos os componentes de loucura que caracterizam uma das animosidades mais pesadas de todo o mundo da bola. A partida será no Estádio Único, de La Plata, e pena: não terá TV ao vivo para o Brasil.

Egoísmo e humilhação

O superclássico de hoje será o primeiro depois do mata-mata válido pela Copa da Liga Argentina, quando o River teve um surto de covid, perdeu o time todo para o confronto da Bombonera, e não contou com a menor solidariedade contrária para remanejar datas ou facilitar esportivamente a situação. Aquela partida terminou 1 a 1, e o Boca se classificou nos pênaltis, quando o River ainda viu seu goleiro juvenil, Leo Díaz, defender um pênalti cobrado na "cavadinha" do colombiano Edwin Cardona. O recurso pegou muito mal, e todos viram uma tentativa de humilhação do colombiano com o novato - que saiu da situação com inteligência e colocou o Boca nas cordas.

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Cena de mais um áspero Boca x River na Bombonera
Imagem: GettyImages

Uma outra rusga deste River x Boca tem a ver com a distância cada vez maior entre as duas diretorias. Depois de um período de relativa sintonia com os presidentes Rodolfo D'Onofrio, do River, e Daniel Angelici, do Boca, hoje praticamente não há relações institucionais entre os os clubes, e o jornal "La Nación" trouxe uma longa matéria ontem explicando que a razão para isso é...Juan Román Riquelme, que desgasta o Boca em todas as frentes.

Quem não perdeu a chance de pôr mais pimenta na empanada foi o ídolo Beto Alonso, um dos maiores jogadores da história do River: "O Boca hoje tem uma condução muito novata, parece time de bairro", ironizou, sobre a saída do atacante colombiano Sebastián Villa, que sumiu do clube para forçar uma transferência, e justamente depois de ser citado por Riquelme como o melhor jogador em atividade na Argentina.

A volta do "Bocabaret"

O clima no Boca é realmente insuportável, e este confronto contra o River veio na pior hora, pois o clube ainda junta os cacos da escandalosa briga no Mineirão, que fez o time titular perder ritmo - tanto que a decisão de hoje é só a segunda partida desde então.

O bastidor ainda piorou depois que o jornal "Olé" informou uma briga interna entre duas divisões do clube na véspera da partida. Quem fica no CT não está se entendendo com quem fica na sede da Bombonera.

Em campo, o time vive fase tétrica. Dos último sete jogos, apenas uma vitória, e o que é mais preocupante: um único gol marcado nesta quantidade de jogos.

Em caso de queda, além de uma nova trepidação para a gestão de Riquelme, é quase certa a saída de Miguel Ángel Russo do cargo de técnico. É exatamente esta a motivação do River.

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Juan Román Riquelme, vice-presidente de futebol do Boca Juniors, dá entrevista
Imagem: Reprodução TV

O clube de Núñez quer: 1) Fazer o rival jogar pelo "refrigerante e cachorro-quente", gíria argentina para gozar quem não tem mais nada a disputar até o fim do ano. 2) Derrubar mais um técnico rival, o que já ocorreu com "Vasco" Arruabarrena, Guillermo Barros Schelotto e Gustavo Alfaro.

E de onde vem o genial "Bocabaret"? Da célebre declaração de Diego Latorre, que ainda vestia a camisa xeneize quando disse que o "Boca era um cabaré".

River sem seu craque

O time comandado por Marcelo Gallardo, que pode ter seu último mano a mano com o Boca, chega muito melhor, em que pese a ausência do atacante Matías Suárez, o melhor jogador do elenco e de todo o futebol argentino.

O clube de Núñez vai a campo com o goleiro Franco Armani, em excelente fase e com excelente histórico ante o Boca; os laterais Montiel e Angileri, cobiçados pela Europa, e os zagueiros Paulo Díaz e David Martínez, que hoje compõem uma dupla sólida e agressiva (o chileno Díaz joga limitado fisicamente por uma "paralítica" recebida no domingo ante o Huracán).

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Marcelo Gallardo, técnico do River Plate
Imagem: Marcelo Endelli/Getty Images

O meio-campo contará com o volante "capanga" Zuculini, o consagrado Enzo Pérez e os armadores De La Cruz (anda bem) e Carrascal (ainda oscilando). Sem Suárez, o ataque terá Julián Álvarez, campeão da Copa América, e Braian Romero, que já fez a torcida se esquecer do "Máquina" Borré.

O Boca vai a campo com um time repleto de incertezas, até mesmo sobre sua defesa, se terá quatro ou cinco homens. A escalação mais repetida nos jornais de hoje em Buenos Aires é: Agustín Rossi; "Chelo" Weigandt (Luis Advíncula), Carlos Izquierdoz, Marcos Rojo e Agustín Sández; "Pulpo" González (Jorman Campuzano), Esteban Rolón (Alan Varela), Cristian Medina, Juan Ramírez (ou Edwin Cardona ou Aaron Molinas); Cristian Pavón e Norberto Briasco.

Por fim: 1) VAR na Argentina só na Libertadores e Sul-Americana. 2) Empate? Sem prorrogação, só pênaltis. 3) Hoje, Boca e River estão fora da Libertadores de 2022. A Copa Argentina é um atalho ainda mais crucial para os dois.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL