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Tales Torraga

REPORTAGEM

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Como gigantes da América do Sul também tentaram criar "Superliga" há 5 anos

Reunião Conmebol - Conmebol.com/Divulgação
Reunião Conmebol Imagem: Conmebol.com/Divulgação

Colunista do UOL

20/04/2021 04h00

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A criação da Superliga da Europa tem um antecedente na América do Sul. Em 2016, com o Boca Juniors à frente, uma Liga Sul-Americana com os maiores clubes do continente foi esboçada e se desfez antes mesmo de começar.

A tentativa ocorreu na esteira do "Fifagate", escândalo de corrupção em 2015 que determinou a prisão de parte da cúpula do futebol sul-americano, como José Maria Marín (CBF), Juan Ángel Napout (ex-presidente da Conmebol) e José Luis Meiszner (ex-secretário da Conmebol). Alejandro Domínguez foi eleito presidente da Conmebol em 26 de janeiro de 2016 enquanto os clubes da região tratavam abertamente entre si novos acordos políticos e econômicos.

No dia 12 de janeiro de 2016, antes mesmo da eleição de Domínguez, houve uma reunião em Montevidéu (Uruguai) com os presidentes de Boca Juniors, River Plate, San Lorenzo, Racing (todos da Argentina), Nacional e Peñarol (do Uruguai), Colo Colo, Universidad de Chile, Universidad Católica (do Chile) e Liga de Quito (do Equador).

Na primeira semana de fevereiro, o Boca Juniors, à frente das negociações, convidou os brasileiros a uma nova reunião, desta vez em Buenos Aires. Somaram-se Grêmio, Corinthians, Internacional e São Paulo, além de Olimpia e Cerro Porteño, do Paraguai, e representantes de Peru, Colômbia e Venezuela.

Com 20 clubes históricos juntos, o bloco passou a discutir a criação do evento que aumentaria a quantidade de dinheiro das transmissões e dos patrocínios dos jogos que seriam organizados pelos próprios gigantes. Ainda em março ocorreram as primeiras desistências do confronto com a Conmebol.

A Liga Sul-Americana ainda tentou ganhar corpo em julho de 2016, com a eleição dos cargos. Então presidente do Boca, Daniel Angelici foi designado presidente também da Liga, com Romildo Bolzán Júnior, do Grêmio, como vice. Neste encontro, o River Plate se distanciou de vez do Boca e da Liga, se aproximando de novo da Conmebol.

Embora a Liga tenha naufragado, a pressão sobre a entidade surtiu efeito, e a Conmebol aumentou patrocínios e dobrou a premiação para a Libertadores de 2018. O golpe final na criação da Liga havia sido dado antes, em julho de 2017, quando Fifa e Conmebol vetaram o presidente do Boca de qualquer cargo nas entidades sul-americanas por sua ficha suja.

Angelici já estava sozinho. Os gigantes brasileiros se reaproximaram da Conmebol, que abriu espaço à presença dos clubes nas reuniões (em vez de só permitir a CBF), ampliou o dinheiro, o calendário e as vagas nas competições continentais, implantando novidades como a final em jogo único, colocada em prática pela primeira vez em 2019.

O Boca, por sua vez, seguiu com relações abaladas com a Conmebol até a eleição do atual presidente, Jorge Ameal, em dezembro de 2019.