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Tales Torraga

Histórico narrador argentino minimiza Palmeiras: 'Não deem River por morto'

Colunista do UOL

06/01/2021 06h42Atualizada em 06/01/2021 11h38

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Forte hábito no Brasil nas décadas de 1980 e 1990, ouvir a narração do rádio tirando o som da TV é algo ainda muito comum na Argentina, que acompanha, atenta, os "relatos de campanha", como são chamadas as equipes especializadas em transmitir os jogos de determinado clube.

E ninguém faz isso com tanta repercussão no país, e há tanto tempo, quanto o narrador Atilio Costa Febre, que transmite os jogos do River Plate desde 1991. A expectativa argentina pelas suas palavras era tão grande que a coluna ouviu todo o jogo de ontem com sua transmissão, que neste 2021 está na FM TOP 104,9 e em suas redes sociais.

"Lito", como é chamado, em momento algum elogiou o Palmeiras e seu contundente 3 a 0. Ele preferiu apontar as falhas do River que, segundo suas análises, segue com chances de classificação. "Ninguém se anima a dizer que o River está morto", afirmou o narrador a partir deste trecho aqui. "O Palmeiras, pelo menos o que vimos até agora, não é o Barcelona do Guardiola. Não buscou a vitória, ele a encontrou nos erros do River."

"Não é como o River, que propõe o jogo em todos os estádios. O River é sempre assim, me deu a impressão que o Palmeiras apenas encontrou esta vitória folgada", seguiu o narrador, que é amigo de longa data do treinador Marcelo Gallardo e uma espécie de porta-voz informal do técnico e das novidades do clube. Várias vêm a público justamente na sua voz, mas são históricas suas brigas com ex-presidentes e ex-jogadores do River, muito ao contrário de quem imagina que seu trabalho é mera bajulação aos protagonistas de turno.

A análise de Costa Febre foi reforçada pelos demais integrantes da equipe. "Vieram jogar no contra-ataque", ponderou o repórter Paulo Filippini. O comentarista Silvio Chattas, quem mais entende de River na Argentina, seguiu: "O respeito do Palmeiras pelo River ficou claro nos primeiros 25 minutos de jogo".

"Falávamos que jogaria no 4-3-3, e não jogou. 4-2-3-1? Menos ainda, jogou no 5-4-1, metido atrás, curtinho, para jogar no contra-ataque. Chegou uma vez no primeiro tempo e fez um gol, e o River veio abaixo."

"Eu me surpreendi como a equipe veio abaixo depois do primeiro gol, que influenciou mais que a idiotice do infantil Carrascal", finalizou Costa Febre, sobre a expulsão do "Neymar colombiano" aos 15 do segundo tempo.

Para reforçar a crença na virada do River, todos se lembraram do 3 a 0 sobre o Cruzeiro no Mineirão na Libertadores de 2015 e os dois gols em poucos minutos, no fim do jogo, contra o Grêmio em Porto Alegre na semifinal de 2018. Vieram outros exemplos de placares anormais: os dois gols do Flamengo em três minutos na decisão de 2019, os seis do Barcelona ao virar um 4 a 0 sobre o PSG na Liga dos Campeões, e os 8 a 0 do River no Jorge Wilstermann depois de perder a ida por 3 a 0, como ontem.

Embora fortes e muito presentes no noticiário argentino, as palavras de Costa Febre nem sempre são aceitáveis. No sábado, por exemplo, ele causou repúdio no país ao chamar o colombiano Villa, do Boca Juniors, de "macaco". E nem 100% compartilhadas pelos demais veículos de comunicação. Um que já acredita que a série está liquidada é o Cabezón Ruggeri, histórico zagueiro campeão do mundo com a seleção argentina em 1986, que cravou ontem à noite na ESPN que o River já está fora.

Outro veículo que custa a dar méritos ao Palmeiras é o "Olé" que circula agora nas bancas de jornais de Buenos Aires. "Não pode ser tão verde", foi a manchete do diário, ressaltando a imaturidade de um River "errático, distraído e nervoso" e "que agora precisa de uma noite épica no Brasil".