Topo

Tales Torraga

"Era a elegância e a rebeldia": como Rivellino virou ídolo de Maradona

Rivellino (d) autografou camisa de Maradona em encontro em 2014: "Para meu maestro de toda a vida. O maior" - Reprodução
Rivellino (d) autografou camisa de Maradona em encontro em 2014: "Para meu maestro de toda a vida. O maior" Imagem: Reprodução

Colunista do UOL

25/11/2020 14h18

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

O canal de TV TyC Sports levou ao ar em 2 de maio de 2018, em Buenos Aires, um pequeno programa apresentando aos argentinos quem foi Roberto Rivellino - ou "Rivelinho", como os vizinhos insistem em chamar o lendário "Patada Atômica", que espalhou o seu brilho pelo Corinthians, pelo Fluminense e pela seleção brasileira.

Rivellino foi apresentado pelo TyC como o "ídolo de infância de Maradona", embora a afirmação exija um parêntese. O jogador que inspirou de verdade o jovem Dieguito foi Ricardo Bochini, do Independiente, bem mais presente no seu cotidiano. Mas Rivellino também teve seu papel no imaginário infantil do Pelusa, como Maradona era chamado quando menino pela sua cabeleira bagunçada.

O encantamento de Maradona com Rivellino nasceu, como não poderia deixar de ser, na Copa do Mundo de 1970. A Argentina não disputou aquele Mundial, sendo eliminada pelo Peru nas Eliminatórias em plena Bombonera.

Com a azul e branca fora da competição, coube à Argentina prestar atenção nas campanhas dos vizinhos Uruguai e Brasil. Maradona tinha nove anos naquela Copa realizada no México e não a viu ao vivo - o primeiro Mundial transmitido em tempo real na TV argentina foi o de 1974, mas vídeos esparsos sobre os jogos do mítico Brasil de 1970 ocupavam a programação dos canais de então.

A paixão de Maradona por Rivellino é tamanha que ele dedica sua autobiografia "Yo Soy El Diego De La Gente" ao brasileiro e o elogia de maneira efusiva no livro.

"Foi um dos maiores de todos os tempos, e quando eu digo isso as pessoas ficam surpresas. Não sei o porquê. Era a elegância e a rebeldia em pessoa para entrar em um campo de futebol. As coisas que me contam de Rivellino (tratado como "Rivelinho" todo o tempo) são incríveis. Ele também se rebelava contra os poderosos", narra Diego.

"Me apaixonei pelo jogador e me seduzi pela pessoa quando o conheci. Na Copa de 1970, o Brasil nem treinava porque aquele time não precisava de nada para jogar. Rivellino estava com Gerson, quando apareceu Pelé. E Rivellino, que sempre tinha resposta para tudo, disparou: 'Você, Pelé, bem que gostaria de ser canhoto como a gente, não?'"

Maradona fez questão de cumprimentar Rivellino em duas ocasiões públicas no Brasil - em 1993, quando disputou um amistoso pelo Sevilla contra o São Paulo no Morumbi, e em 2000, também no Morumbi, quando Diego comentou a final da Libertadores para o canal PSN. Rivellino fazia o mesmo para a Bandeirantes.

Na intimidade, Diego foi além nas suas reverências: segundo o ex-atacante Careca, o argentino já se ajoelhou e beijou o pé esquerdo de Rivellino em um encontro entre os três. O camisa 11 da Copa de 1970 não fica atrás em termos de carinho. Quando Diego esteve entre a vida e a morte em decorrência do vício na cocaína, Rivellino fez questão de escrever cartas desejando força ao Diez.

E que ironia: Maradona e Rivellino poderiam até ter se enfrentado na Copa de 1978, quando Argentina e Brasil se cruzaram naquela pancadaria de Rosário terminada em 0 a 0. Maradona, então com 17 anos, não integrou a lista final dos convocados, algo que o então técnico César Luis Menotti se arrepende até hoje.

Machucado, Rivellino foi reserva naquela partida. O Mundial de 1978 na Argentina foi o último da sua carreira, jogando apenas contra Suécia, Polônia e Itália.

Maradona morreu nesta quarta-feira (25), aos 60 anos, após uma parada cardiorrespiratória.