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Tales Torraga

O Cazares que vi era melhor que Aimar e Saviola

Colunista do UOL

17/10/2020 12h00

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Buenos Aires, 2012, bairro de Palermo, esquina das ruas Nicaragua e Carranza. Indo e vindo da banca de jornal da quadra de casa, ouço o Luis, senhor com quem compartia o mate, fanático por futebol, sabia tudo de todos os times, me perguntar:

"Está acompanhando a Libertadores Sub-20? O River tem um 10 que é um fenômeno. Vi o Aimar e o Saviola bem no comecinho e te juro, esse menino de agora joga muito mais que os dois".

Matías Almeyda e Juan Cazares - Reprodução/Site River Plate - Reprodução/Site River Plate
Matías Almeyda e Juan Cazares
Imagem: Reprodução/Site River Plate

Não, não estava vendo a Libertadores Sub-20, e não, ver só futebol não passava pela minha cabeça mergulhada na infinidade de atrações da vida portenha, mas se o Luis estava jurando deveria ser verdade, e fui prestar atenção em Juan Cazares, campeão e craque do torneio pelo River.

E era mesmo verdade.

Cazares tinha um quê de prodígio de elite internacional com sua perna direita divina. A técnica de D'Alessandro, o fôlego de Aimar, a mente de Saviola. Chutava bem, lançava, passava, driblava, enxergava o jogo perfeito. Na semifinal, o River venceu o Corinthians por 2 a 0, e o primeiro gol foi seu, golazo de Cazares, limpando o goleiro e tocando diagonal de primeira, matando no peito e rolando para o gol vazio. Aimar ou Saviola? Era gol de Pelé ou Maradona. O arquivo está aí, qualquer "Cazares 2012" mostra.

Mostrou o que era como profissional meses depois, entrando no lugar de Manu Lanzini em um clássico contra o San Lorenzo. Tinha 20 anos, franzino demais, ainda verde, o River o emprestou para o Barcelona do Equador para amadurecer e enfim vergar a 10 de Alonso, Francescoli e Ortega (e falamos só de três).

Em 2013, Cazares seguiu seu processo de amadurecimento no Banfield e de novo mostrou que era craque. Muitos viam a Série B só para acompanhá-lo. Foi campeão - e quando pensavam que chegara a hora de voltar ao River, surgiu Marcelo Gallardo para mudar a história do clube de Núñez e de todo o futebol planetário.

Foi o que colocou Cazares no Atlético-MG, onde brilhou, foi "bad boy" e ouviu um elogio considerável de quem tem propriedade para falar de ambos os assuntos, o ex-ponta Éder Aleixo: "Não existe ninguém no Brasil como ele. Joga demais. Poderia estar em qualquer clube grande da Europa".

Escutar o Éder 2020 me levou ao...Luis 2012! Depois de muito, trocamos mensagens nesta semana para falar do Cazares versão Corinthians.

"Futebol ele tem para ser titular até da seleção argentina. Lógico que sei que é do Equador, mas as seleções hoje são todas uma bagunça, viste? Como era aquele tema do Fito Páez, "tiempo al tiempo"? É disso que ele precisa. Tempo. Cada um tem o seu. Quando ele se der conta de quem é de verdade, pode esquecer, na temporada seguinte está no Real Madrid."