Saque e Voleio

Saque e Voleio

Siga nas redes
Só para assinantesAssine UOL
OpiniãoEsporte

O que resta para Djokovic?

Já virou rotina. Se o jogo é sob calor e/ou umidade, Novak Djokovic sofre. São os "problemas com os níveis de energia", como ele mesmo define. Parece à beira da morte após pontos mais longos. Anda devagar. Demora para sacar. Demora até para iniciar o movimento de segundo saque. Pede atendimento médico. Alonga aqui, faz cara de dor ali. De vez em quando, até termina um ponto no chão, com cara de quem parece incapaz de seguir de pé.

Sim, Djokovic ainda ganha a maioria dessas partidas. Tem mais talento, recursos e, claro, experiência (e aqui é preciso incluir malandragem, catimba e outros quesitos relevantes) para bater boa parte do circuito em qualquer circunstância. Dito isto, fica evidente que seu corpo está se manifestando de maneiras negativas, seja com lesões ou o tal "nível de energia". Um dia, é o joelho. No outro, um ombro, No outro, um adutor. Probleminhas pipocam aqui e ali, e Nole, aos 38, já não consegue resultados que conseguiria sem suar alguns anos atrás.

Agora, em Xangai, sofreu contra Hanfmann e Munar (bateu ambos em três sets) e tombou diante de Vacherot, número 204 do mundo. Djokovic nunca havia perdido para alguém de fora do top 200 num Masters 1000. "Ah, mas o Vacherot estava numa semana iluminada", alguém pode argumentar. Sim, estava. Mas o Djokovic "normal" teria apagado essa luz toda em dois sets simples.

A questão mais intrigante, no momento, me parece ser: "com que frequência o Djokovic 'normal' vai aparecer no circuito até o fim da carreira?" Não há como reduzir muito mais seu calendário (foram apenas 11 torneios este ano - até agora) sem fazer um mínimo de preparação competitiva para os eventos mais importantes. Ainda assim, o corpo reclama.

Minha impressão - e já falei isto antes - é que Nole se mantém ativo pela esperança de conquistar o 25º slam. Parece querer estar minimamente pronto para a hipótese de que, um dia, Carlos Alcaraz e Jannik Sinner tenham problemas (lesões e/ou eliminações precoces) em um slam. E aí aproveitar a chance para tornar-se o recordista isolado. É minha teoria no momento.

Coisas que eu acho que acho:

- O Masters 1000 de Xangai terminou com o incrível título de Valentin Vacherot, #204 do mundo. O monegasco de 26 anos esteve a dois pontos da eliminação no qualifying (!) e acabou campeão, após superar Djere, Bublik, Machac, Griekspoor, Rune, Djokovic e Rinderknech, seu primo.

- Dois primos em uma final de Masters 1000 fazem uma história realmente incrível, e a ATP surfou essa onda a semana inteira. É compreensível. A entidade, contudo, fez muito pouco para falar sobre quem é Vacherot e qual é sua história. Uma pena. Era uma chance interessante para apresentar outro tenista "de fora da bolha" à comunidade tenística. Nem o texto do título fala sobre a personalidade, os gostos ou a história pessoal de Vacherot. E agora? O que acontece quando ele não jogar contra o primo? Em um circuito cada vez mais focado na elite e que que tem uma dificuldade histórica de "vender" torneios de nível mais baixo, é preciso fazer mais com esse tipo de personagem, especialmente em um cenário raríssimo como o desta semana.

- Evidentemente, não é uma tarefa simples. O fiasco da Netflix é só uma das provas disto. No entanto, se a ATP nem tentar apresentar novos personagens ao público, fica difícil mudar alguma coisa. Ninguém tem mais acesso do que eles. Não custa tentar colocar um cidadão para bater papo com um tenista por 15 minutos para tentar descobrir algo novo e cativante.

Continua após a publicidade

- Vale lembrar: Vacherot e Rinderknech, os dois finalistas deste domingo, jogaram no tênis universitário americano. Em épocas diferentes, mas ambos jogaram pela Texas A&M University.

- As estatísticas pós-Xangai chegam a ser engraçadas. Um exemplo? Vacherot agora tem o mesmo número de títulos de Masters 1000 que Stan Wawrinka. O monegasco, aliás, tem mais títulos de Masters 1000 este ano do que Sinner, Zverev, Djokovic, Fritz, Medvedev e outros.

.

Quer saber mais? Conheça o programa de financiamento coletivo do Saque e Voleio e torne-se um apoiador. Com pelo menos R$ 15 mensais, apoiadores têm acesso a conteúdo exclusivo, como podcast semanal, lives restritas a apoiadores, áudios exclusivos e de entrevistas coletivas pelo mundo, além de ingresso em grupo de bate-papo no Telegram, participação no Circuito dos Palpitões e promoções.

Acompanhe o Saque e Voleio também no Threads, no Bluesky e no Instagram.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

Deixe seu comentário

O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.