Alcaraz x Sinner em Roland Garros tem vaga entre as melhores finais de slam

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Estava a ler o artigo do excelente Steve Tignor sobre a final de Roland Garros e seu lugar na história e decidi que, agora, quase uma semana depois do jogão e com a poeira devidamente assentada, chegou o momento de parar, pensar e encaixá-la na minha lista de melhores de todos os meus tempos.
Sim, todos os "meus" tempos. A lista abaixo nada mais é do que um top 5 das finais de slam que eu vi - in loco, ao vivo ou gravadas - na íntegra, do começo ao fim. Portanto, não incluí partidas que só vi em highlights (como algumas das vencidas por Maria Esther Bueno ou Rod Laver, por exemplo), mas inseri no meu debate interno jogos como a final de Wimbledon de 1980, que não vi ao vivo, mas tenho gravada em DVD e vi do primeiro ao último ponto.
Antes de começar a contagem regressiva, vale aquela ressalva de sempre: trata-se de uma lista com critérios e preferências pessoais. Concorde ou discorde como preferir (desde que com educação) nos comentários e sinta-se à vontade para tentar mudar minha opinião. Quem sabe você consegue? Nada aqui é eterno ou imutável.
5. Federer x Roddick, Wimbledon 2009: 5/7, 7/6(6), 7/6(5), 3/6, 16/14
Dos cinco desta lista, é o jogo com mais cara de tênis-old-school-na-grama, com muitos aces, subidas à rede e pouca margem para vacilos nos games de saque. Foram, ao todo, 77 aces (50 de Federer), com ambos ganhando mais de 80% dos pontos com o primeiro serviço e drama de sobra - inclusive o incrível set point perdido por Roddick que teria lhe colocado dois sets à frente. Sobre o nível: o suíço terminou o jogo com 107 winners e 38 erros não forçados (+69), e o americano teve 74 e 33 (+41), respectivamente. E mais: como Rafa, que defendia o título, não competiu por causa de uma lesão no joelho, o posto de número 1 do mundo estava em jogo para Federer. O suíço ultrapassou o espanhol e retomou a liderança do ranking ao conquistar o título.
4. Nadal x Federer, Australian Open 2009: 7/5, 3/6, 7/6(3), 3/6 e 6/2
Nível alto, cinco sets, uma rivalidade grande em um momento importante: Nadal nunca havia vencido um slam em quadras duras e ainda não tinha no currículo um triunfo sobe Federer num slam nesse tipo de piso. Um novo encontro seis meses depois de o suíço perder seu reinado em Wimbledon para o ibérico. Adiciona drama o fato de que Rafa vinha de uma semifinal espetacular de 5h14min contra Fernando Verdasco. E o espanhol levou a melhor mais uma vez sobre o suíço. Mais uma vez em cinco sets. Ainda teve choro de Federer e um abraço de Rafa na cerimônia de premiação.
3. Djokovic x Federer, Wimbledon 2019: 7/6(5), 1/6, 7/6(4), 4/6 e 13/12(3)
Aquele jogo do 40/15 (sorry, fãs de Federer). Foi a maior das finais de slam entre Federer e Djokovic, e o suíço tentava apenas sua segunda vitória sobre o sérvio numa decisão desse porte (venceu o US Open de 2007). Nole vivia grande fase, enquanto Roger vinha de uma grande vitória sobre Nadal nas semifinais. Foi um jogaço, com uma atuação brilhante de Federer, que sacou para o título no quinto set, com 40/15. Djokovic não só salvou o match point como foi impecável nos três tie-breaks do encontro - que só não foi mais memorável porque naquele ano foi implementado um tie-break no 25º game do quinto set.
2. Alcaraz x Sinner, Roland Garros 2025: 4/6, 6/7(4), 6/4, 7/6(3) e 7/6(2)
Alcaraz tentava defender seu título. Sinner tentava, além do terceiro slam seguido, quebrar uma série de quatro derrotas para o rival. E ambos duelaram por 5h29min no que acabou se tornando a final masculina mais longa da história de Roland Garros. Talvez não tenha tido o peso pré-jogo de outros encontros envolvendo, Rafa, Nole e Roger, mas teve um nível mais-alto-do-começo-ao-fim, com poucas oscilações e muito equilíbrio ao longo dos cinco sets (foram, afinal, três tie-breaks no saibro!). Adicionamos a isso três match points salvos por Alcaraz, o tênis brilhante jogado por Sinner para quebrar o espanhol quando este sacava para o título, e mais o nível estratosférico de Alcaraz para sair de um delicado 15/30 no 5/6 do quinto set. Nível que ele levou para o tie-break decisivo. Sim, depois de mais de 5h20min de jogo.
1. Nadal x Federer, Wimbledon 2008: 6/4, 6/4, 6/7(5), 6/7(8) e 9/7
O pacote completo e quase perfeito. Era, então, o ápice da rivalidade entre Federer e Nadal. O suíço reinava na grama. Não perdia no piso há mais de 60 jogos. Bateu o espanhol nas finais de Wimbledon em 2006 e 2007. Rafa, porém, vinha de um Roland Garros implacável. Cedeu apenas quatro games ao mesmo Federer na final. Em seguida, foi campeão em Queen's. Havia a sensação de que ele estava mais perto do que nunca de destronar o rival no All England Club.
O nível de jogo, desde o primeiro ponto, foi assustador. E manteve-se assim durante os cinco sets, apesar de múltiplas interrupções por causa da chuva. Federer parecia batido e esteve dois sets abaixo, mas salvou match points (inclusive com "aquele" backhand na paralela) e forçou o quinto set. E, depois de tudo isso, a partida termina quase no escuro (não havia teto retrátil nem iluminação artificial em Wimbledon na época), no metafórico apagar das luzes para o reinado de Roger.
Tem expectativa, tem entrega, tem drama e tem simbolismo histórico. Até hoje, para mim, insuperável.
Coisas que eu acho que acho:
- A lista inclui apenas finais. Com semifinais e outras rodadas, eu certamente teria considerado Alcaraz x Sinner no US Open/2022, Djokovic x Nadal em Wimbledon/2018, Nadal x Djokovic em Roland Garros/2013, Roddick x El Aynaoui no Australian Open/2003 e, entre tantos outros duelos memoráveis, talvez até o insano Isner x Mahut de Wimbledon/2010.
- Finais que entraram na minha shortlist, mas não no top 5:
Borg x McEnroe, Wimbledon 1980: 1/6, 7/5, 6/3, 6/7(16) e 8/6 - é dificílimo comparar jogos de gerações diferentes. O esporte é outro, jogado em outro ritmo, e o ambiente é diferente. O público participava de maneira muito mais tímida. Além disso, como Tignor escreve no texto que cito lá no início, é um jogo que só "esquenta" mesmo a partir do tie-break do quarto set.
Alcaraz x Djokovic, Wimbledon 2023: 1/6, 7/6(6), 6/1, 3/6 e 6/4 - o fim do jogo foi espetacular, mas o nível teve suas oscilações.
Nadal x Medvedev, Australian Open 2022: 2/6, 6/7(5), 6/4, 6/4 e 7/5 - memorável mais pelo que significou (uma virada espetacular e inesperada de um veterano Rafa na reta final de carreira) do que pelo nível do tênis jogado.
Federer x Nadal, Australian Open 2017: 6/4, 3/6, 6/1, 3/6 e 6/3 - assim como o jogo acima, teve alto nível, mas foi maior pelo simbolismo e pelo roteiro. Dois veteranos voltando de lesões e fazendo mais uma final de slam, desta vez com Federer batendo Nadal numa final (não acontecia desde 2007), com direito até a uma virada no quinto set.
Djokovic x Nadal, Australian Open 2012: 5/7, 6/4, 6/2, 6/7(5) e 7/5 - um jogão que ficou para a história pelo drama e porque ambos chegaram esgotados ao fim de um duelo que teve 5h53min. Mas foi um jogão que teve os três primeiros sets um tanto mornos. Djokovic vinha de seguidas vitórias sobre Rafa e, até o meio do quarto set, parecia que o roteiro seguiria o protocolo de duelos anteriores, sem tanto drama.
Federer x Nadal, Wimbledon 2007: 7/6(7), 4/6, 7/6(3), 2/6 e 6/2 - outro jogão da dupla Fedal e que tende a ficar esquecido diante de tantos grandes duelos entre eles. No entanto, foi a primeira vez que Rafa realmente ameaçou Federer na grama - inclusive com um susto no começo do quinto set, quando o suíço saiu de 15/40 no terceiro game.
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