Madison Keys e o maravilhoso triunfo do desapego

É um conceito que jovens têm dificuldade em absorver, sobretudo adolescentes que chegam ao circuito profissional badalados por boas campanhas e rankings entre os juvenis. Para estes, chegar à ATP ou à WTA é um sonho que traz na bagagem a expectativa de levantar troféus, conquistar slams e brigar pelo topo do ranking.
Não só para eles, é bom que se diga. Para grande parte do circuito, o valor de um tenista e até o da sua opinião estão atrelados a seu ranking, seus melhores resultados. Num meio de egos inflados, você é aquilo que fez dentro da quadra. É algo que os fãs também adotam. Quem nunca leu um fã de Djokovic (ou Federer ou Nadal, etc.) atacar uma opinião diferente da do sérvio (ou do suíço ou do espanhol, etc.) com o velho argumento "o que esse cara ganhou pra falar isso?"
É muito fácil se perder mentalmente em um meio bitolado assim. Foi mais ou menos o que aconteceu com Madison Keys. Uma grande promessa de sua geração, badalada desde os 11 anos, uma finalista de slam aos 22 anos e uma eterna top 20.
Ainda assim, faltava em seu currículo um título de slam. A vontade da americana em "se provar" era muita, mas o tempo passava, o slam não vinha e a pressão interna aumentava, o que atrapalhou seu rendimento em alguns dos torneios maiores.
"Passou de ser algo positivo para algo quase como pânico. 'Por que não aconteceu ainda? Por que não consegui?' E depois começo a pesar mais sobre mim. 'E se eu nunca conseguir [ganhar um slam]?' 'E se eu não conseguir, serei considerada um fracasso?' Então houve muitas coisas em que tive de trabalhar pessoalmente por causa da pressão que eu colocava em mim mesma", disse Keys na coletiva após a final.
Madison Keys says letting go of the burden of winning a major is what gave her the "ability to actually play for it." 👏 🏆 #AusOpen pic.twitter.com/JFJtG4mFDs
-- ESPN (@espn) January 25, 2025
O amadurecimento, contudo, trouxe desapego. Com a idade, Keys entendeu que seu valor - como pessoa e como atleta - não pode ser medido apenas por números e títulos. Não seria um título slam que mudaria a opinião e o amor das pessoas que mais importavam. De repente, Madison deixou de "precisar" um slam. Continuou buscando e sonhando, mas na medida certa, com mais consciência sobre o que aquilo significaria.
"Acho que tudo acontece por um motivo. Tive que passar por momentos duros, e isso me forçou a olhar para o espelho e tentar trabalhar na pressão interna que eu colocava sobre mim mesma. Finalmente, cheguei ao ponto em que passei a sentir orgulho de mim e da minha carreira, com ou sem um slam. E cheguei ao ponto em que eu estaria ok se não acontecesse. Eu não precisava sentir que tinha uma boa carreira e que eu merecia que as pessoas falassem sobre mim como uma grande tenista. No fim, deixar isso de lado me deu a capacidade de entrar em quadra, jogar um belo tênis e ganhar um slam", completou a americana.
Madi in Melbourne 🥹💜#AO2025
-- wta (@WTA) January 25, 2025
pic.twitter.com/CKcImMwWiY
Que o maravilhoso relato de Madison sirva de lição para todos nós.
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