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Por que Nadal pode ser considerado o maior da história

Já escrevi algumas vezes e - ainda - não mudei de opinião: acredito que é possível argumentar a favor de Roger Federer, Rafael Nadal, Novak Djokovic e Rod Laver nessa conversa. Tudo depende dos critérios adotados. O que é mais importante para um pode não ser para outro. E tudo bem quando a conversa e as discordâncias acontecem em um ambiente saudável.

A maioria dos números - eles são quase sempre o primeiro elemento na conversa - joga a favor de Djokovic, evidentemente. O sérvio venceu mais slams, passou mais tempo como número 1, tem retrospecto favorável contra Federer e Nadal. Por isso, é bastante normal que Nole venha sendo citado com mais frequência recentemente como o 'vencedor' dessa disputa. E, repito, tudo bem.

Contudo, os esportes - e a vida - não vivem só de estatísticas. Aliás, é sempre bom colocar números em contexto e, quando fazemos isto, é possível notar que Nadal até leva vantagem em alguns critérios importantes.

Melhor aproveitamento em slams

Djokovic é o líder em títulos de slam: são 24 conquistas em 76 torneios disputados. Um aproveitamento espetacular de 31,5%. Quase um título a cada três slams jogados. Nadal, porém, teve a carreira interrompida por lesões em diversas oportunidades e só esteve presente em 68 slams. Seu aproveitamento é ainda superior ao de Nole: 32,3%. Como bônus, é preciso considerar que vencer tanto depois de tantas paradas forçadas tem um grau de dificuldade adicional que obrigatoriamente deve fazer parte da equação.

Melhor no head-to-head em slams

Nadal e Djokovic duelaram 60 vezes, e o sérvio venceu essa disputa pessoal: 31 a 29. No entanto, se considerarmos apenas os slams - onde há mais em jogo - a vantagem é de Nadal: 11 a 7. Qualquer fã do sérvio vai argumentar que a maioria desses jogos aconteceu no piso preferido de Nadal, o saibro de Roland Garros, e sim, foram dez jogos lá. Rafa, porém, também leva vantagem no US Open (2 a 1). Nole vence em Wimbledon (2 a 1) e no Australian Open (2 a 0).

Contra Federer, a vantagem é ainda maior: 10 a 4, com superioridade de Rafa em Roland Garros (6 a 0) e Melbourne (3 a 1). O suíço levou a melhor em Wimbledon (3 a 1), e no US Open não houve duelos.

Djokovic e Federer teriam números melhores se eles tivessem encarado Nadal mais vezes na Austrália ou em Wimbledon? Talvez. Mas talvez Nadal também teria mais títulos de slams se não tivesse se lesionado tanto. O "se" é um fator que sempre entra nas discussões tenísticas, mas como o próprio Rafa sempre lembra "o 'se' não existe".

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Impacto no esporte

É difícil negar que tanto Federer quanto Nadal tiveram um impacto maior do que Djokovic no esporte. Isso diz respeito tanto a alcance, ou seja, atrair gente para a modalidade, quanto à maneira em que o esporte é jogado e ensinado. A "chegada" de Rafa e a consequente rivalidade com Federer, cheia de contrastes (no estilo de jogo, no comportamento, no modo de se vestir, etc.) e jogos espetaculares, marcou uma época.

Nadal apareceu no circuito e conquistou fãs com um forehand revolucionário, gerando um número assombroso de RPMs, camisas sem manga, bíceps à mostra, calças de pirata (ou capri, depende do ponto de vista) e cabelos longos. Influenciou em como o esporte é jogado e no lado fashion. Quando dizem que o tamanho de um atleta precisa ser maior que seus números (e eu concordo bastante), é disto - também - que estão falando.

Exemplo a ser seguido

Aqui, Rafa ocupa lugar e destaque, com Federer a seu lado. Não, não acredito que a conversa sobre "maior da história" seja um concurso de Miss Simpatia, mas postura dentro e fora da quadra é algo que deve ser considerado.

Nadal está acima da maioria aqui porque, como escrevi no post de ontem, sua carreira passa uma mensagem forte de evolução. O Rafa que venceu seu último slam era um tenista muito superior e diferente em muitos aspectos ao Rafa que conquistou Roland Garros em 2005. Esta é só uma parte do quesito.

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A outra diz respeito ao comportamento. Nadal encerra uma carreira de 20 anos marcada por humildade e respeito aos companheiros. Foram raríssimos os incidentes com árbitros ou adversários dentro de quadra. Fora dela, nenhum.

Aqui, Rafa está muito acima de, por exemplo, Djokovic, que teve sua imagem fortemente chamuscada durante a pandemia (sobretudo no Adria Tour e no incidente com a alfândega australiana), no episódio em que deu uma bolada (ainda que acidental) em uma árbitra do US Open ou nos Jogos de Tóquio, onde comportou-se pessimamente depois de perder nas simples e deixou na mão sua parceira de duplas mistas. O apego à pseudociência também não fez maravilhas à imagem do sérvio.

Rafa, junto com tudo que fez no tênis e pelo tênis, será lembrado como destacou em seu discurso de despedida: "uma boa pessoa". E isso precisa fazer parte de qualquer conversa.

Coisas que eu acho que acho:

- A foto do alto do post tem algo de muito bonito e simbólico. Mostra Nadal agachado, sozinho, no meio da quadra, enquanto o telão mostrava cenas de sua carreira. O fato de Rafa viver aquele momento quase no chão - em vez de de pé e peito estufado - me passa uma sensação grande de humildade, como se ele ainda se achasse pequeno o bastante para ter alcançado tudo que conseguiu.

- Discorda dos argumentos? Tudo bem, faz parte. Cada um estabelece seus critérios, e a conversa é válida (e até divertida, se for encarada de modo saudável, com menos fanatismo) justamente por isso.

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- Por que Rod Laver, com "apenas" 11 títulos de slam em simples, precisa fazer parte da conversa. Bom, simplesmente porque o homem fechou dois Grand Slams de calendário e em cenários bem distintos. No primeiro, em 1962, os slams eram fechados para amadores. No segundo, em 1969, já estávamos na Era Aberta, com profissionais podendo disputar os quatro torneios. Desde então, nenhum homem repetiu um Grand Slam de calendário. E Laver, lembremos, ficou de 1963 a 1968 sem poder disputar os slams porque se profissionalizou.

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Opinião

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** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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