Britney Jean Queen Cup: torneio paulista cria conexão para comunidade LGBT
Na sexta-feira, Brasil e Argentina começam a duelar no ginásio do Ibirapuera pela Billie Jean King Cup, a principal competição feminina entre países do tênis mundial. Quem vencer segue na divisão principal do esporte. O outro será forçado a jogar um torneio continental - espécie de segunda divisão - em 2025.
No mesmo dia, no bairro do Ipiranga, não muito longe do Ibirapuera, a capital paulista terá outro evento por equipes: a Britney Jean Queen Cup, torneio amador - também jogado por equipes - voltado para o público LGBTQIAP+. Um evento competitivo, sim, mas no qual as palavras-chave são diversidade, acolhimento e comunidade.
A BJQ Cup, que leva o nome da cantora que é um ícone da comunidade LGBTQIAP+, foi idealizada por Victor Abadio e Leo Chiarini, dois tenistas amadores e gays que se encontraram meio que por acaso em uma academia de São Paulo, passaram a jogar juntos e experimentaram uma conexão que ainda não haviam vivido praticando o esporte em diferentes lugares.
"Sempre joguei tênis. Joguei a vida inteira, sem me assumir, num grupo semiprofissional de Ribeirão Preto (SP). Era o tempo inteiro com piada homofóbica. E eu não me assumia por causa disso, inclusive", contou Chiarini quando conversamos sobre as experiências das dupla.
"Quando eu descobri [que Chiarini era gay], a identificação foi legal. 'Nossa, estou num ambiente em que eu nunca tinha visto ninguém LGBT, e foi legal.' Trouxe uma nova camada de pertencimento em um lugar onde eu não estava esperando isso. Aí eu fiquei pensando: 'Seria legal se outras pessoas nessa situação pudessem sentir essa mesma conexão. Aí surgiu a ideia do torneio', lembra Abadio.
O torneio citado por Victor é o São Paulo Pride Open, que veio antes da BJQ Cup. A primeira edição, realizada em junho do ano passado, teve 48 participantes. Este ano, o evento ganhou outra dimensão e passou a fazer parte da GLTA World Tour, o circuito mundial da Gay and Lesbian Tennis Alliance, que sanciona eventos da comunidade em todo o planeta e atualmente tem um calendário com mais de 70 torneios e disputado em cinco divisões diferentes (de iniciante até a categoria open). O Pride Open de 2024 teve mais de 80 inscritos. Treze deles eram estrangeiros.
A Billie Jean Queen Cup (BJQ Cup) nasceu nesse mesmo processo. A ideia era organizar um evento de equipes como a atual Billie Jean King Cup (antiga Fed Cup), disputada entre países. O nome, a dupla conta, foi fácil de escolher. A semelhança de sonoridade com BJK Cup teve sua influência, mas não foi o ´¨nico fator.
"Ela é uma diva do pop, ela fala com a gente nas letras. Talvez toda gay queira ter uma história como a dela", destaca Chiarini. "Os gays gostam de mulheres empoderadas, fortes e que assumem sua sensualidade", lembra Abadio. "A Britney não necessariamente fala para o público gay, mas é uma mulher forte, empoderada, pop, faz música dançante... O fato de ela, esteticamente, ser de uma forma que atrai também ajuda bastante", completa Leo.
O sucesso dos eventos é inquestionável. Inicialmente, não foi fácil obter patrocinadores, mas Victor e Léo conseguiram, no último São Paulo Pride Open, exibir um backdrop com 12 marcas. A recompensa maior, contudo, está na conexão entre os participantes.
"Eu não sou uma pessoa que gosta de competição. Quando fui jogar o primeiro Pride Open, fui como atleta. Fui morrendo de medo de perder, como sempre tive. Quando cheguei lá e vi o ambiente, vi as pessoas... Muda completamente o sentido. A competição é importante, principalmente depois da GLTA, porque lá tem muita gente competitiva, mas ela é secundária. O senso de comunidade ali é incrível. Você sai aliviado. Você se sente seguro, você conecta muito rápido com as pessoas. É muito bom", comemora Chiarini.
Ainda assim, o torneio não escapou de ataques homofóbicos, que apareceram até em posts de um dos patrocinadores. Haters questionavam até o fato de um torneio voltado para a comunidade LGBTQIAP+ seria discriminatório com o público hétero. A resposta dos organizadores é simples:
"Quantos torneios conhecemos que são feitos por e prioritariamente para pessoas heterossexuais versus quantos são voltados para a comunidade LGBTQIAP+?", argumentou Abadio.
"E a primeira coisa: não é verdade. Os torneios são abertos para quem quiser [inclusive heterossexuais], mas é claro que têm foco nas pessoas LGBTQIAP+. É muito comum esse pensamento de "isso não é preconceito?" A gente já é uma minoria social e política. A gente não está cometendo nenhuma injustiça social com ninguém. Estamos celebrando as pessoas da nossa comunidade", completou Chiarini.
Newsletter
OLHAR APURADO
Uma curadoria diária com as opiniões dos colunistas do UOL sobre os principais assuntos do noticiário.
Quero receber—-
Publicarei mais conteúdo sobre a Britney Jean Queen Cup na próxima semana, em minha conta no Instagram. Não deixem de conferir.
Deixe seu comentário
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.