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Mesmo sem Grand Slam, 2022 pode ser ano mais memorável da carreira de Nadal

Reuters
Imagem: Reuters

Colunista do UOL

12/07/2022 12h11

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Já se vão 14 anos, mas 2008 foi espetacular para Rafael Nadal. O espanhol foi campeão em Monte Carlo, Barcelona, Hamburgo e atropelou Roger Federer na final de Roland Garros (6/1, 6/3 e 6/0). Na semana seguinte, levantou o troféu na grama de Queen's, batendo Ivo Karlovic, Andy Roddick e Novak Djokovic em sequência. Depois, consagrou-se de vez ao tomar de Federer o trono de Wimbledon em uma memorável final de cinco sets que é considerada por muitos a maior partida da história do tênis. Naquele ano, Rafa ainda foi campeão no Masters do Canadá, assumiu a liderança do ranking pela primeira vez e viajou até Pequim para conquistar o ouro olímpico em simples. Encerrou 2008 lesionado, mas comemorando o título da Espanha, que conquistou a Copa Davis em Mar del Plata sobre David Nalbandian e Juan Martín del Potro.

Fisicamente, o Nadal de 2022, aos 36 anos, está muito aquém daquele. Tecnicamente, o assunto é outro, mas lesões e outros aspectos certamente afetaram o que Rafa pôde mostrar em quadra este ano. Antes do Australian Open, o espanhol teve covid, precisou ficar um tempo sem treinar e viajou até Melbourne longe das condições ideais. Mais tarde, uma fratura por estresse em uma costela, diagnosticada após a final de Indian Wells, prejudicou sua preparação para a temporada de saibro. Tudo isso, ressaltemos, enquanto convive com um nível mais avançado da Síndrome de Müller-Weiss, que provoca fortes dores no pé e exigiu que Nadal jogasse anestesiado, com um pé dormente, em Roland Garros.

Agora, em Wimbledon, uma lesão abdominal impediu que o espanhol disputasse as semifinais. O sonho do Grand Slam ficou pelo caminho. Entretanto, é justamente esse conjunto de obstáculos que faz a temporada 2022 de Rafa Nadal tão memorável. Desde a vitória sobre Shapovalov, ainda nas quartas de final do Australian Open, quando o veterano se mostrava esgotado e "furtou" um quinto set, até o triunfo sobre Taylor Fritz, na semana passada, com o abdômen dolorido, sacando a apenas 160 km/h e quase sempre para o mesmo lado. Isso tudo na grama e contra um ótimo sacador.

A final do Australian Open, contra Daniil Medvedev, que abriu 2 sets a 0, foi o momento mais espetacular desta época (e faz parte do meu top 10 de preferidos numa carreira gloriosíssima). Dominado por dois sets, Rafa encontrou soluções e fez um russo dez anos mas jovem cansar-se mais cedo. No fim, em 5h24min (!!!), o veterano triunfou por 7/5 no quinto set. Mais tarde, em Roland Garros, com um dos pés dormente, registrou mais uma vitória memorável sobre Djokovic. Mesmo de noite, mesmo em condições adversas, mesmo sem sensibilidade no pé e com o sérvio fazendo um torneio brilhante até então.

Somemos a isso algumas vitórias menos importantes, mas igualmente impressionantes. Em Indian Wells, quando Nadal não jogava seu melhor tênis - tecnicamente falando - na primeira rodada, Sebastian Korda teve 5/2 e saque no terceiro set; 5/4 e saque pouco depois; break point no 5/5; e 3/2 e saque no tie-break. Rafa venceu. Na segunda rodada, Dan Evans teve 4/2 e quebra de vantagem e, depois, break point no 5/5 do primeiro set. Nadal fez 7/5 e 6/3. Indian Wells também teve aquela vitória dramática sobre um Carlos Alcaraz que fez um começo de jogo fulminante e vivia uma fase incrível: do Rio até Miami, somou 16 vitórias e uma derrota. Umazinha. Aquela, no terceiro set, contra um Nadal que, só se soube depois, já tinha sofrido aquela fratura por estresse na costela.

O que ainda vem pela frente no ano é uma incógnita. Nadal teve uma lesão de 7mm no abdômen, segundo relatos do Marca, e pretende voltar pouco antes do US Open. Mesmo tetracampeão do torneio, em Nova York Rafa não será aquele favorito inquestionável nem se Djokovic continuar proibido de entrar nos Estados Unidos. No entanto, não convém questionar, a essa altura, o que o veterano é capaz. Até porque neste ano 2022, que em sua metade já é comparável aos melhores momentos da carreira do maior campeão de slams em simples da história, o tamanho do que Nadal faz é inquestionável. Questionável mesmo, no dicionário de Rafa, é o conceito de impossível.

Coisas que eu acho que acho:

- No que diz respeito ao debate sobre maior da história, acredito que os dois slams de Nadal deste ano, por todas circunstâncias envolvidas, têm peso excepcional. O 21º de Djokovic, em Wimbledon, tem mais número do que peso a meu ver.

- Como o próprio Rafa declara, o "se" não entra em quadra. Não há que especular sobre o que poderia ter acontecido. Porém, uma carreira que tem três abandonos e dois WOs por lesão, um punhado de derrotas por entrar em quadra lesionado e mais sete ausências (contando só os slams!) e ainda soma 22 títulos de slam merece aplausos em dobro.

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