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Rafa Nadal: 5 lições de vida em 15 minutos

Reuters
Imagem: Reuters

Colunista do UOL

28/01/2022 18h20

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A entrevista coletiva em inglês de Rafael Nadal nesta sexta-feira, pouco depois de derrotar Matteo Berrettini e conseguir um lugar na final do Australian Open pela sexta vez na carreira, teve 15 minutos. Muito menos do que alguns tenistas brasileiros passariam lendo livros de autoajuda em aeroportos e voos intercontinentais. No entanto, o espectador atento vai perceber que, ao responder sobre recordes ou o tempo em que tentou se recuperar de uma lesão no pé, Rafa passa muitas mensagens importantes e de forma mais concisa (apesar dos tropeços com a língua inglesa) sobre tênis, carreira e vida. Recomendo.

Pandemia e perspectiva

Ao falar sobre a lesão no pé e as dúvidas que teve se conseguiria voltar ao circuito e competir, Nadal lembra da pandemia e diz que suas dificuldades, diante do cenário atual, não são nada. No fim da resposta, seu agradecimento à vida é um reconhecimento de sua situação privilegiada - e isso é muito mais do que ouvimos de tenistas no dia a dia.

"Tive seis meses muito duros. Em termos de vida, não posso reclamar de nada, especialmente nos tempos que estamos enfrentando, com tantas pessoas morrendo ao redor do mundo. Meus meses não foram nada duros comparando com as famílias que perderam pessoas. Isso é duro na vida, não o que eu passei. Mas em termos pessoais, sim, porque todos dias foram uma questão por causa de problemas no pé. Tive dúvidas ainda aqui. Duvidei se estaria aqui. Provavelmente terei dúvidas pelo resto da minha carreira porque tenho o que tenho e não podemos consertar, mas para mim é incrível. Estou super feliz por competir nas últimas três semanas no nível que estou fazendo. É surpreendente para mim estar jogando neste nível, mas em termos de apenas competir. Enfrentar os melhores do mundo mais uma vez é inacreditável para mim. Não estou inventando histórias. Um mês e meio atrás, eu não sabia se voltaria ao circuito porque não conseguimos resolver o problema. Estou aqui e obrigado à vida por isso."

Viver é buscar felicidade

Rafa afirma que estar na Austrália, competindo e jogando em alto nível, é mais importante do que conquistar o 21º título de slam em simples. A conquista lhe colocaria à frente de Roger Federer e Novak Djokovic, que têm 20 cada. O espanhol, porém, não coloca essa marca como prioridade.

"Para mim, é um presente estar aqui jogando tênis. Estou encarando as coisa de uma maneira um pouco diferente. Sempre com o espírito competitivo que tenho porque não posso ir contra o meu DNA. Mas, de algum modo, estar onde estou e ter a chance de competir nesse nível me dá muita energia positiva para continuar. No fim do dia, sendo muito honesto, é muito mais importante ter a chance de jogar tênis do que vencer o 21 porque isso me faz mais feliz na vida em geral. Fazer o que gosto de fazer é mais do que alcançar outro grand slam. No fim do dia, vida é sobre felicidade, e o que me faz feliz é ter a chance de fazer o que gosto."

Nunca vou dizer 'eu mereço'

Nadal volta a falar sobre a vida pessoal e de como é privilegiado por ter uma família saudável. Ao comentar seu retorno às competições, o ex-número 1 destaca o quanto trabalhou duro para alcançar o que conseguiu, mas jamais se diz mais merecedor do que outros.

"Eu me sinto vivo em termos de minha vida tenística, minha carreira no tênis. Na vida pessoal, tenho uma vida boa e tenho sorte de que a família esteja saudável e, nesses tempos difíceis, isso é tudo. Mais importante do que o tênis, com certeza, 100%. Mas sim, eu expliquei antes: por muito tempo eu não consegui treinar. Algumas vezes fui para a quadra e consegui treinar 20 minutos. Às vezes, 45. Às vezes, zero. Às vezes, duas horas, mas foi muito difícil me imaginar jogando melhor de cinco sets neste momento. Estou super feliz. É verdade que trabalhei duro por muito tempo. Cada dia. Quando não conseguia jogar tênis, eu trabalhava duro na academia. Nunca vou dizer 'eu mereço' porque muitas pessoas merecem, mas eu trabalhei da maneira certa e mantive o ânimo e a atitude positivos para me dar uma chance de voltar."

Momento vale mais do que números

Indagado novamente sobre a chance de conquistar o 21º slam, Nadal insiste que o momento é mais importante e que pouco importa quem terá um slam a mais ou a menos do que os outros.

"Para mim, no fim, é sobre mais do que estatísticas. É sobre estar na final do Australian Open mais uma vez. Significa muito para mim. É mais importante estar na final e lutar para ganhar outro Australian Open do que o resto das estatísticas que sei da história do esporte e que provavelmente para você são muito importantes, mas eu penso realmente assim. Só estou feliz por fazer parte desta incrível era do tênis e compartilhar essas coisas com outros dois jogadores, e é isto. De algum modo, não importa se alguém alcança um a mais ou um a menos. Cada um de nós fez coisas incríveis e que serão difíceis de igualar. Não penso muito sobre essas coisas todas."

O valor do trabalho

Todos sabem o quão trabalhador, desde sempre, é Rafael Nadal, mas o veterano quase nunca fala sobre isso em entrevistas. Nesta sexta, ele foi mais abrangente e destacou que considera suas conquistas muito especiais por causa das lesões e do quando foi preciso trabalhar para seguir competindo e ganhando.

"Não sei. Ainda estou muito longe do número 21. Todos são especiais porque todos têm uma história por trás. Uma história de trabalho duro, e cada um tem uma história especial. Especialmente no meu caso, que passei por muitas lesões na minha carreira. Muitas delas vocês sabem. Algumas, não. Curti, sempre penso que quando eu passei por momentos difíceis em termos de lesão, e eu tive mais do que gostaria... Por outro lado, sempre coloco na balança todas as coisas positivas que consegui curtir. Ganhar é especial, sim, mas ganhar sem o trabalho por trás não é o mesmo. Se as coisas são fáceis, não têm o mesmo valor. No meu caso, consegui curtir mais do que outros porque em várias ocasiões eu estive perto de não conseguir voltar."

Coisas que eu acho que acho:

- Rafael Nadal sempre foi dos melhores em entrevistas pós-jogo, especialmente por sua rara capacidade de analisar taticamente nuances de algo que aconteceu apenas alguns minutos antes - sem ajuda de técnicos ou clipes de melhores momentos. Agora, na reta final de sua carreira, o espanhol também fala mais abertamente sobre sua vida e seus valores. Torna-se ainda maior aos olhos do público.

- Som de hoje no meu Kuba Disco: Don't Stop Believin' (Journey)

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