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Barrado no aeroporto, Djokovic pode retomar seu papel favorito: o de vítima

Getty Images
Imagem: Getty Images

Colunista do UOL

06/01/2022 11h49

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Quando Novak Djokovic começou a ser rotulado como antivaxer, culpou a imprensa ocidental por distorcer uma declaração.

Quando Novak Djokovic foi criticado por organizar durante a pandemia o Adria Tour, um circuito de torneios com quadras lotadas, respondeu chamando a repercussão de "caça às bruxas".

Quando Novak Djokovic encarou torcida a favor de Roger Federer na Quadra Central de Wimbledon, fez cara feia e passou a partida inteira sem suas típicas demonstrações de emoção.

Quando Novak Djokovic foi indagado em outubro passado sobre seu status vacinal diante de uma possível exigência do Australian Open, disse que não ia responder e que a pergunta era indevida.

Quando Novak Djokovic, no fim de 2016, foi questionado sobre o perigo de atirar raquetes e o risco de atingir um espectador, rebateu chamando os jornalistas de "inacreditáveis" e dizendo que ele sempre estavam implicando com pequenas coisas (em 2020, lembremos, Djokovic foi desclassificado do US Open ao dar uma bolada na garganta de uma juíza de linha).

Nesta quinta-feira, Srdjan Djokovic, pai do número 1 do mundo, deu uma declaração comparando a crucificação de Jesus com o tratamento dado a Novak na Austrália. Seu filho, lembremos, está em um hotel de Melbourne aguardando para que sua apelação seja julgada. Nole questiona o cancelamento de visto de entrada no país e continuará no hotel até segunda-feira, quando será realizada a audiência final diante de um juiz federal.

Certo ou errado em todos os casos acima (que poderiam ser muitos mais caso eu quisesse alongar este texto), Djokovic agiu de maneira similar: redirecionou a culpa e colocou-se imediatamente no papel de réu. Como se houvesse uma enorme conspiração para transformá-lo no maior vilão do tênis, uma figura antagonística a Roger Federer e Rafael Nadal, que dominavam o circuito até a ascensão do sérvio e, também por isso, têm mais fãs pelo mundo.

Até por essa postura frequente, a torcida de Djokovic embarca e trata seu ídolo como um eterno injustiçado, preterido em nome dos queridinhos da imprensa. E embora haja, de fato, mais boa vontade com Federer e Nadal por uma parte considerável da imprensa internacional, é compreensível, dada a folha corrida de Djokovic, que isso aconteça. Ainda assim, os feitos do sérvio dentro de quadra raramente são diminuídos por esse mesmo grupo de jornalistas que acompanham tênis (da minha parte, deixo um exemplo recente abaixo).

No meio de toda essa discórdia, porém, há um consenso: Djokovic fica muito à vontade no papel de vítima dentro de uma quadra de tênis. O número 1 do mundo gosta de ser desafiado e tira o melhor de seu jogo quando há torcida contra. Quando não há, Nole é capaz de encontrar aquele único torcedor bêbado e chato para usá-lo como fonte de motivação. E o sérvio ainda é, aos 34 anos, o melhor tenista do planeta.

Assim, mesmo que perca sua apelação e não consiga disputar o Australian Open - correção: especialmente se Djokovic perder esse recurso e não conseguir competir em Melbourne, esperemos o sérvio como toda sua força. Seja no Australian Open ou em Indian Wells, Miami, Monte Carlo, Roland Garros (se Macron deixar), Wimbledon, US Open, etc... O homem vai voltar a competir disposto - e forte favorito - a engolir o resto do circuito por mais uma temporada.

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Mas só se não exigirem vacinação, né?

Coisas que eu acho que acho:

- Escrevi outros dois posts sobre a saga de Djokovic em Melbourne. Minha opinião sobre a postura do número 1 do mundo está aqui. O que achei do cancelamento de seu visto está publicado aqui.

- Som de agora no meu Kuba Disco: "Fear of the Dark" (Iron Maiden) - os dois primeiros minutos da letra explicam.

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